Capítulo 1 - Clara ou Clarice...

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Eu abro os olhos com certa dificuldade, lutando contra a luz brilhante que invade o local que estou. A dor lateja em minha cabeça, como se um martelo estivesse batendo sem piedade. Suspiro profundamente e tento me lembrar do que aconteceu ontem à noite. As memórias são difusas, flashes de risadas, música alta e copos sendo erguidos. Aos poucos, minha mente começa a se clarear, e é aí que a realidade da minha situação se instala. Estou com uma ressaca terrível. A sensação de enjoo e exaustão me domina, como se um peso estivesse amarrado em meu estômago. A simples ideia de me levantar parece uma tarefa impossível.

Eu me reviro na cama, afundando meu rosto no travesseiro e eu sei que preciso enfrentar o dia que se desenrola além desses lençóis. Respiro fundo e reúno todas as minhas forças restantes. Olho ao redor, não é meu quarto, com muito custo minha mente parece contribuir para distinguir o local em que estou. Se puder descrever um lugar como este, diria apenas que é o que o dinheiro vivo de uma menina bem-nascida consegue pagar no fim da noite de uma sexta-feira no lado leste de Londres. Um quartinho modesto e, se é que posso ser sincera, bem bagunçado. Um reflexo do caos que foi a noite anterior.

Arrasto-me até o banheiro, onde o espelho me encara com uma imagem cansada e pálida. Olho para meus olhos fundos e penso que eles refletem as consequências de uma noite de excessos. Enquanto tomo um banho gelado na tentativa de revigorar meu corpo cansado, penso nas escolhas que me trouxeram até aqui. Ontem foi a véspera do meu aniversário de 20 anos, saí para comemorar com alguns amigos e, depois de gabaritar a carta de drinks do lugar, com certeza trouxe para cá a moça mais bonita que havia lá. É quase como um padrão, me atraio feito níquel e cobalto, tão logo esqueço essa beleza toda que parecia soar tão irresistível na noite anterior. Pra ser bem honesta mal me recordo do nome, Clara, Clarice... alguma variação do tipo. Tentar lembrar do ocorrido com detalhes faz minha cabeça doer. E talvez, levando em conta meu histórico com mulheres, seja melhor não lembrar.

Termino o banho e visto a mesma roupa que cheira a cigarro e alguma mistura nauseante do meu Miss Dior e algum outro perfume qualquer. Abro a carteira e encaro o plástico preto, pego algumas notas e deixo uma parca gorjeta com as poucas libras que me restam – se o sr Armstrong olhar essa espelunca na fatura do meu cartão, capaz de cortar qualquer regalia que eu ainda conservo nessa família. Abandono o quarto pequeno e perturbadoramente quente que havia sido tão acolhedor e bem-vindo horas antes. Afinal, há responsabilidades esperando por mim lá fora, compromissos que não podem ser adiados, por mais que eu queira adiá-los.

O Preço do SalOnde histórias criam vida. Descubra agora