Namorntaraaa: Bom dia!! Qual a boa de hoje, meninas?
Em uma de suas viagens pelo continente europeu, Heng havia arrematado em um leilão, o suíço Sorel dos anos 50 que ficava em cima da mesinha de cabeceira no meu lado da cama. Ele sabia o quanto eu amava antiguidades. Heng quando queria, sabia ser romântico, dos grandiosos aos pequenos gestos. Sempre tive pra mim, que preservar o antigo é manter as memórias de um passado relevantes e vivas. Os ponteiros metálicos em formato de um losango esticado, típicos de um carrilhão de mesa, marcavam 8h10 quando Nam mandou mensagem no grupo do Line que dividíamos com Prim, outra amiga nossa. Antes de respondê-la, fiquei um tempo admirando a beleza de um objeto que atravessava as décadas com tanta resistência e elegância. Fui desperta de meus devaneios por outra mensagem vinda de nosso grupo.
Pphimlakk: Estou cuidando dos cachorros hoje. Topam vir pra cá?
Prim é dona de um salão de beleza especializado em unhas chamado Nailish Room. Fizemos faculdade juntas, mas já durante o curso ela abriu um pequeno negócio fazendo as unhas das amigas para ajudar nos custos da graduação. O negócio acabou prosperando e crescendo cada vez mais. Hoje o Nailish Room tem algumas unidades em Bangkok e eu e Nam só fazemos as unhas lá. Prim também tinha o hábito de ficar como babá dos cachorros do irmão quando ele estava fora, entao hoje, se quiséssemos fazer algo com ela, teriamos de ir em sua casa.
Srchafreen: Bom dia, meninas. O dia hoje está chuvoso, acho melhor ficarmos em casa mesmo. Pode ser na sua, Prim.
Namorntaraaa: Combinado, almoçamos e passamos a tarde juntas, então?
Eu e Prim concordamos com Nam. Estava marcado, almoço e o resto da tarde na presença dessas duas. Mal posso esperar para rever minhas amigas e brincar com os cachorros que estava na posse de Prim.
Heng estava fora desde quarta-feira, em Singapura cuidando do que faltava em relação a nova sociedade, chegaria apenas amanhã à noite. Assim, procurei preencher meu final de semana para ver minhas amigas, pois tenho plena consciência de que meu esposo irá monopolizar a minha atenção para ele assim que chegar. Sim, meu amável leitor, Rebecca Armstrong não é minha amiga, é um compromisso que precisei honrar e por algum motivo ainda desconhecido, acabou virando dois compromissos. Mas por um lado, eu estou feliz. Estou revisitando uma Bangkok que não vejo há muitos anos e ainda por cima tendo uma companhia que, apesar de tudo, é agradável.
Por fim, decidi sair da cama, tomar um banho, e ler um pouco até a hora de ir para casa da minha amiga. A frase com que me deparo assim que abro o livro de Hardy me espanta, pois parece falar intencionalmente e intimamente comigo.
"Não perturbe o coração, nem o faça temer."
____
- E o paraíso, amiga, como anda? - Prim me perguntou, com certeza fazendo referência ao meu casamento.
Eu dava uma garfada no mamão verde junto das vagens e do tomate salpicados com castanhas de caju, sem olhar diretamente para a minha interlocutora. Aos meus pés, dois Dachshund estavam inquietos pela perspectiva de que algo caísse das nossas colheres.
- Está tudo em paz comigo e com Heng. Ele está em Singapura no momento. Volta amanhã. - Eu nunca entrava em detalhes, sempre fui a mais discreta das três.
- Com aquele homem, o que eu menos iria querer é paz. - Nam soltou espontânea. - Ai amiga, desculpe. - Ela sorriu debochada, mas de um jeito tão dela, que foi impossível ficar brava.
Nós três nos entreolhamos e caímos na risada. A conversa prosseguiu e falamos de muitas coisas. Nam e Prim contaram, como sempre, suas peripécias amorosas/sexuais. Prim estava sempre namorando sério, mas nunca durava mais do que alguns anos. Já Nam, bom meu amado leitor, Nam era a solteirona do trio. E eu, segundo as duas, era a mais "certinha e careta". Eu ouvia atentamente, porém discreta, os detalhes em que as duas entravam sobre seus parceiros, voltando minha atenção para a salada de mamão e o pad thai mas com a orelha atenta. E enquanto ouvia, me perguntava se algum dia eu e Heng teríamos essa intimidade toda para experimentar tantas coisas, e mais, eu me perguntei se algum dia eu sentiria esse prazer todo que elas diziam sentir. Não me entenda mal, fiel leitor, sinto carinho por meu marido, e não é sempre que sinto como se fosse uma tarefa tão penosa, às vezes até consigo tirar algum proveito. Quando Heng entra em mim devagar e com mais carinho que o habitual, eu consigo sentir sim algo próximo ao que as meninas falam. Confesso que se ele não me procurasse, também não seria algo que eu iria atrás. Mas gosto quando ele me nota, me deseja, me quer, sinal de que o casamento vai bem, certo?
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O Preço do Sal
FanfictionÀs vezes o amor surge das situações mais improváveis. Chega sorrateiro em momentos que precisamos mudar, amadurecer, apenas para dizer a nós, falhos seres humanos, que, estávamos errados sobre alguns conceitos que entendíamos como corretos. Mas será...