- Você luta? – Olhei curiosa para os shorts que ela acabava de comprar.
Imaginei aquele corpo miúdo em shorts tão largos. Mas a imagem que me veio a mente não foi nada cômica como eu esperava.
- Por quê? Não pareço atlética o bastante para você? – Rebecca disse divertida enquanto forçava os bíceps de forma tão graciosa que não pude conter o riso.
E sim, meu amável leitor, ela era bastante atlética. Meus olhos percorreram o bíceps e o tríceps, que marcaram na mesma hora, para então descerem para as costas, que como pude notar eram ligeiramente mais largas que as minhas. Era nítido que ela se exercitava mais do que eu. Então, sem aviso prévio, Rebecca agarrou minha mão e me puxou tão de repente que me assustou, meus pés mal acompanhavam a velocidade que ela queria que eu andasse. Não sei dizer como não tropecei.
- Duas casquinhas. – Ela estendeu o dinheiro para um vendedor de sorvetes em um carrinho.
- Khop khun kah – Eu agradeci o gentil vendedor que não tinha culpa pelo desespero de sua nova cliente.
Quando desvio os olhos do senhor, dou de cara com os lábios cor de sangue tão característicos abrindo espaço para uma língua ainda mais vermelha, que eu não lembrava de ter visto. Ela lambe o sorvete para então abocanhá-lo e essa cena simples me prende tanto que eu não consigo desviar a minha atenção do seu rosto tão branco quanto o sorvete de coco que ela saboreava de olhos fechados. Uma queimação incômoda, que eu nunca havia experienciado na vida, surgiu entre as minhas pernas, e o que me surpreende é que o som que Rebecca emitiu a seguir, pareceu ter ligação direta com isso.
- hmmmm... – Eu engoli em seco ao ouvir seu gemido de extrema satisfação. - Como faz calor aqui. – Ela abriu os olhos para me encarar assim que terminou a frase.
Instintivamente estiquei o polegar para limpar o lábio tão escarlate que contrastava com o líquido branco do sorvete. Levei o dedo à minha boca e assim que senti o gosto de coco que vinha direto dos lábios de Rebecca, fui tomada por um repentino sentimento de constrangimento por ter tocado sua boca sem qualquer motivo aparente. A queimação parecia aumentar mais e mais beirando o insuportável. Um barulho familiar me despertou daquele instante, eu nem havia tocado o meu sorvete e agora ele escorria pelos meus dedos. Desviei o olhar do dela, dei meia volta e retirei o responsável pelo barulho, da minha bolsa. A mão grudenta que segurava a casquinha me fez demorar nessa pequena missão.
- Alô! - Minha voz vacilou assim que atendi meu celular. Só aí eu pude perceber como o meu coração palpitava sem trégua.
- Sarocha? Onde você está? - A voz do outro lado indagou firme.
O que poderia ser pior do que Heng me ligando naquele momento? Exatamente, querido leitor. Nantawan Chankimha, também conhecida como "minha mãe".
- Mãe? Tem alguma coisa errada? – Achei melhor me certificar, dado o tom de voz elevado que ela usava.
- Me diga você, Sarocha. Heng acabou de sair daqui de casa, veio almoçar, e adivinhe... estava desacompanhado da própria esposa. – Mamãe parecia verdadeiramente indignada com este fato. – Disse que você preferiu sair com uma amiga.
- Mamãe, Heng chegou mais cedo de viagem e eu não quis desmarcar um compromisso. Foi apenas isso. – Quando notei já estava me explicando com uma sensação de que havia feito algo errado.
- Qualquer amiga pode ficar para depois quando se trata dos nossos deveres matrimoniais, minha filha. Ele certamente voltou para passar o Domingo com a esposa dele, e você está batendo perna sozinha como se fosse qualquer uma. Tome cuidado, Heng é um bom homem, mas ele não é bobo. – Enquanto mamãe reclamava de minha displicência com Heng, eu olhava angustiada Rebecca a distância.
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O Preço do Sal
FanficÀs vezes o amor surge das situações mais improváveis. Chega sorrateiro em momentos que precisamos mudar, amadurecer, apenas para dizer a nós, falhos seres humanos, que, estávamos errados sobre alguns conceitos que entendíamos como corretos. Mas será...