Enquanto a água escorria pelos fios dos meus cabelos recém lavados, eu aspirava o cheiro bom dos scones de vovó que vinham do andar de baixo. Ela estava empenhada em mimar sua neta preferida, - Palavras dela, desconfiado leitor - andava vendo vídeos no youtube para aprender a fazer várias comidas típicas inglesas (e caso o leitor também queira aprender https://youtu.be/A1Knb9PrpCc?si=ixckMQi-fLvM1Y6l). Vovó tinha maos de fada para cozinhar, nao estava tendo a menor dificuldade em aprender pratos novos, mesmo que essas coisas sejam completamente diferentes dos que ela está acostumada. Inalei profundamente aquele aroma com saudades de casa. Decidi mandar mensagens para meu irmão Richie. Não nos falavámos com tanta frequência quanto eu gostaria, Richie era um homem muito ocupado, e eu andava bem ocupada também. Desci as escadas com tanta pressa, de dois em dois degraus, que vovô desviou os olhos do livro que lia, para olhar a minha tentatíva ridicula de um quase-parkour.
- Robin pode ser exigente com os empregados da BangTex, mas ele ainda é seu pai, Becca. - Vovô disse em tom calmante.
- Eu sei vovô, mas eu realmente estou me interessando bastante e quero estar para a primeira reunião do dia. - Abri um largo sorriso para ele e andei em direção à cozinha.
- Então imagino que você vai querer os scones e o milktea para viagem. - Vovó, esperta e ligada como sempre.Dei um beijo em seu rosto e assenti com a cabeça. Estava feliz em tomar o chá preto com leite em sua versão tão comum pelas ruas da Tailândia, gelado e com bolinhas de tapioca. Não pude deixar de me perguntar se Freen gostava de bubble tea, "Será que ela gosta tanto de chá preto com leite quanto eu?".
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Os últimos dias me distraíam impiedosos da pilha de relatórios e processos que eu precisava ler e separar em outras novas pilhas. Levei o lapis à boca em um gesto pensativo e fechei os olhos. O que vinha incessantemente a minha mente, sem convite, era a forma angulada de um maxilar delicado que eu tinha vontade de chegar mais perto, de sentir o cheiro, de tocar...
- A papelada não vai se arrumar sozinha. - Uma voz conhecida me despertou dos meus devaneios.
Charlotte estava em posse de sua sensualidade costumeira, meu olhar indiscreto foi parar nas curvas torneadas do seu quadril para depois subir para os olhos dela fazendo todo o trajeto com uma calma contemplativa. Só notei que ainda apoiava o lapis na boca quando fiz um esforço para fecha-la. Pisquei algumas vezes ao olhar aquele monumento que me encarava de cima, procurava as palavras para respondê-la, mas todo o alfabeto parecia ter sido varrido da minha mente por completo, tanto o khmer quanto o anglo-saxão. Charlotte mexia comigo de uma forma que eu estava bem acostumada que mulheres como ela mexessem. Engoli a saliva e mordi os lábios, sem desviar um milímetro do olhar incendiário daquela mulher. Como um hidrante que se prontifica a apagar um fogarel, senti a umidade escorrer empapando o pano fino da minha lingerie.
- Eu gostaria de falar com você sobre a reunião com os investidores da Beisalt. - Charlotte sentou na beirada da minha mesa, esgueirando o traseiro.
Meu olhar foi parar instantaneamente nessa parte do seu corpo e ela percebeu.
- Saudades desssas mãos em mim. - Ela olhou ao redor para checar se estávamos totalmente sozinhas, e estávamos.
Colocou a própria mão sobre a minha para então colocá-la sobre a sua bunda. Eu não me contive e alisei a região sem qualquer cerimônia, chegando a dar pequenos apertoes. Charlotte suspirou intensamente e tive a nitida impressão de que ela represava qualquer barulho que pudesse ser ouvido para além daquelas finas paredes. Ah! curioso leitor, se há algo em que um Armstrong falha maestralmente em resistir, esse algo vai ser sempre uma bela mulher como essa.
Antes que eu pudesse ser vencida pela lacívia daquele comentário de Charlote, fomos interrompidas pelo barulho de mensagens do meu celular. Há alguns dias venho deixando meu iPhone fora do silencioso. Quero ter as mensagens de Freen assim que ela manda, sempre que possível.
Srchafreen:
Vocë deixou seu
shorts de muay thai
no meu carro.Decidi esperar meia hora para responder para não parecer afobada. Quando olhei ao meu redor, Charlote já não mais ocupava boa área da minha mesa com o traseiro.
Becccca._:
Hmm não posso treinar apenas de
camiseta e calcinha, não é?
Terei aula semana que vem.Tentei quebrar o gelo fazendo um pouco da graça que eu sabia que ao menos pessoalmente arrancaria um sorriso dela. Ao contrário de mim, Freen não demorou em responder. Das duas uma, ou ela não se importava em parecer afobada, ou queria se livrar de duas coisas: qualquer desculpa para precisar me ver novamente, e algo comprometedor em seu carro. Do pouco que tenho tido a oportunidade de conhecê-la, eu diria que é um pouco dos trës.
Srchafreen:
Posso deixar na portaria
do meu condominio
e você pega?Eu tinha razão ao menos de um dos três: ela quer se livrar de qualquer possibilidade de um próximo encontro.
Becccca._:
Tenho uma ideia melhor.
Por quê não me acompanha
na visita do templo Wat Arun
este sábado? Aí você pode
levar meu shorts.Dessa vez a resposta demorou, demorou tanto que voltei o iPhone para a bolsa e me arrependi instantaneamente de ser tao insistente. O resto do dia na BangTex pareceu me engolir.
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Ao final do expediente, já não restava quase ninguém no prédio a não ser a equipe de faxina. Me despedi dos poucos funcionários restantes e caminhei para o elevador principal. Ele não tardou e eu entrei. Quando a porta ia se fechar um braço esguio e delicado surge fazendo-a abrir de novo.
- Está subindo ou descendo?
Eu não pude deixar de reparar que ela usava uma saia plissada, e um par de saltos que a deixavam ainda mais gostosa que o de costume. Assim que ela passou por mim e recostou as costas em uma das 4 paredes do elevador, posicionando o corpo para a lateral do meu, enquanto eu estava focada na porta que permanecia fechada. Eu me esforcei para vê-la pela visão periférica, ela estava despojada e oferecida, abandonada ao aço gelado, percebi que ela me encarava. O calor do ambiente fechado começou a me consumir, e eu senti uma gota de suor rolando pela têmpora abaixo. Engoli em seco numa tentativa vã de fazer o suor parar de escorrer. Mas apenas uma coisa acabaria com a tortura instaurada naquela breve viagem de elevador. Larguei a mochila no chão e invadi a boca daquela mulher, apalpando o que as minhas mãos conseguissem alcançar, peitos, cintura, bunda.. ah esse último! Apalpei e apertei aquele traseiro definido enquanto sentia Charlote sugar a minha língua e gemer em resposta a cada toque meu. As duas queriam aquilo há algumas semanas, e vinha ficando cada vez mais difícil resistir. Enquanto a temperatura subia, minhas mãos desceram. Deslizei-as pelas suas coxas. Ela esticava o quadril em minha direção de uma forma oferecida que só ela sabia ser, e quando minhas mãos chegaram na barra de sua saia, levantei-a para ter um maior acesso a sua calcinha. Eu beijava aquela boca com uma urgência de quem está com uma coceira há dias e tem a primeira oportunidade de coçá-la para amainar a tortura. Assim que toquei o pano fino e rendado pela lateral, bem na virilha, o elevador fez o seu som característico de quando chega no térreo. Entre o tempo do barulho e as portas abrirem, só tive tempo de soltá-la, pegar minha mochila e sair de lá sem olhar para trás.
Enquanto cruzava o lobby do edifício da BagTex, meu iPhone fez seu típico barulho de mensagens do Line, peguei ele na mochila sem parar de andar de forma firme e apressada. Com as mãos tremulas, tentando desanuviar o que tinha acabado de ocorrer uns passos antes, desbloqueei o celular com certa dificuldade:
Srchafreen:
Sábado ás 9h em
frente a sua casa.Eu estava fadada a aguardar. Aguardar ansiosa, impaciente, os dias das semanas se arrastarem preguiçosos. Mas demorados ou não, eu iria vê-la em poucos dias, e isso era tudo o que importava e ocupava minha mente naquele momento.
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O Preço do Sal
FanfictionÀs vezes o amor surge das situações mais improváveis. Chega sorrateiro em momentos que precisamos mudar, amadurecer, apenas para dizer a nós, falhos seres humanos, que, estávamos errados sobre alguns conceitos que entendíamos como corretos. Mas será...