Cumprindo o Papel

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A vida é, definitivamente, um jogo de casualidades onde se tem duas opções: jogar para ganhar ou simplesmente sentar e observar a assertividade dos seus oponentes.

Embora cada um de nós tenha motivos particulares para reagir emocionalmente diante de situações adversas, todos agimos impulsionados pela idéia de que tudo, absolutamente tudo se trata de um jogo.

É sabido que quando se reage diante de uma provocação, o outro ganha. Quando não se reage, ele perde. Perder não é muito divertido, então, é mais fácil acabar logo com o jogo e sair vencedor.

Em determinadas ocasiões, não se deve exteriorizar as emoções, não se deve permitir que ninguém perceba o quanto se é sensível. Isso é sinal de fraqueza, e fraqueza é atestado de declínio, de morte súbita.

Tanto Engfa quanto Charlotte sabiam disso. Eram duas mulheres, cada qual com seus trejeitos particulares, possuidoras de sagacidade ímpar, com o poder da oratória e dotadas com um grau elevado de autoconfiança. A morena cometeu um pequeno - quase imperceptível – deslize, se deixando levar pela provocação de Austin, o que não passou despercebido pela mesma. Iria revidar a resposta atrevida da agente, obviamente destilando uma dose cavalar de veneno em sua tréplica. No entanto, preferiu não correr o risco de sair por baixo com a moça lhe afrontando ousadamente outra vez, como fez há segundos atrás. Usaria da sua inteligência e perspicácia peculiares para dar realmente o fim que lhe seria satisfatório para aquela interação odiosa.

- Muito obrigada por lembrar-me da posição que ocupamos na escala hierárquica, agente Waraha– A sucinta frase da morena foi proferida apenas para espezinhar, somente.

Os policiais que seguiram na dianteira, já haviam feito a varredura nas imediações do Honburg InterContinental Washington, local onde se daria o almoço beneficente. Nos telhados dos edifícios do entorno do hotel, os atiradores de elite estavam a postos e bem atentos a qualquer movimento suspeito, tal como a profissão exigia em caráter máximo.

Engfa mantinha o ritmo, o controle de sua respiração; a impassividade já havia se tornado uma de suas características mais marcantes, dando a impressão enganosa de frieza diante de certas situações. Isso acontecia naquele exato instante.

Por fora ela era apenas uma funcionária do Serviço Secreto, concentrada em assegurar o bem-estar da filha do presidente Austin. Por dentro, ela era uma mulher raivosa que via claramente, em sua fértil imaginação, os seus dedos ágeis apertando o pescoço da morena presunçosa ao seu lado.

"Eu devo merecer. Eu devo ter sido uma tremenda filha da puta em vidas passadas para merecer isso. Ah, e eu que reclamava do governador! Provavelmente estou recebendo o meu castigo pelas minhas queixas do paraíso."

Esses eram os pensamentos que povoavam a mente da mulher mais nova quando meneou positivamente a cabeça, indicativo de que estava tudo liberado para prosseguirem com a "entrega do pacote"

James saiu do automóvel estrategicamente posicionado em uma das entradas laterais do lugar. Abriu a porta para Charlotte, oferecendo a destra em auxílio. Austin aceitou de prontidão o gesto de cavalheirismo do rapaz, caminhando elegantemente para dentro do hotel, ignorando qualquer protocolo de segurança que por ventura tivesse que seguir.

O estabelecimento palaciano, situado à duas quadras da Casa Branca, era uma bela propriedade restaurada com régia decoração européia do século XV. Apesar de comportar um Business Center, com elegantes salões e espaços de reuniões, o evento ilustre se daria no restaurante francês com pátio ao ar livre.

A Filha Do PresidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora