Decisões Tomadas

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- Waraha, tem... - Cooper encarava a mais nova, boquiaberto. Esta, por sua vez, encarava o caminho pelo qual Charlotte havia se embrenhado com Phalo - Você tem noção do que acabou de fazer? - Nenhuma resposta veio da moça - Engfa! - Somente uma chamada de atenção mais veemente é que a fez desviar o olhar do ponto cego para mirar o rosto do comandante.

- Eu não me importo.

- Não...não se importa? - A incredulidade realmente parecia pairar no ar - Eu ainda não consigo acreditar que isso foi real. - O homem massageava sua têmpora direita, enquanto balançava a perna em claro sinal de nervosismo - Acho melhor você ir para casa e descansar um pouco. Eu vou... te ligo depois.

A agente assentiu, estranhamente sem retrucar. Na verdade, sem dizer uma só palavra. Apenas seguiu em silêncio até seu dormitório. A calmaria exterior contrastava perfeitamente com o turbilhão de sentimentos desconexos de seu interior. A mente de Engfa estava um caos, ela estava um caos. Não conseguia raciocinar, provavelmente ainda sob efeito da adrenalina que corria em suas veias. Essa poderia ser uma boa desculpa para seu ato insano: uma grande quantidade de adrenalina descarregada em seu corpo. Havia tomado um analgésico mais cedo para evitar uma crise de enxaqueca. Provavelmente substâncias ímpares, que não coincidiam com outras, obrigaram-na a reagir de maneira agressiva diante dos absurdos impositivos proferidos por Austin.

Mas, não. Todos nós sabemos que isso é balela. Waraha desacatou porque quis, porque não poderia ser humilhada daquela forma grotesca. E o mais relevante de tudo é que ela não se arrependia. Faria tudo de novo e de novo, se assim fosse necessário.

A agente organizou alguns objetos pessoais e roupas dentro de sua mochila, ausentando-se da Casa Branca o mais rápido que pôde. Estava furiosa, nervosa. Todo o seu treinamento quanto ao equilíbrio emocional havia caído por terra, e diante da pior pessoa que poderia existir. Charlotte. Charlotte tratou o acontecimento como um ato gravíssimo. Nunca ninguém tinha levantado a voz para ela; nunca ninguém a enfrentou, contrariou ou se opôs a alguma determinação que ela por ventura tivesse feito. Era soberana até aquele momento.

A morena passou longos minutos acariciando seus cães. Brincou com ambos como há tempos não fazia. Essa era uma atividade que a desestressava, que aprumava seus eixos, como se ali pudesse desanuviar-se de qualquer sentimento ruim. Eles eram os seus amigos, seus únicos e fieis amigos, não restando mais nada nem ninguém com quem lidar quando não se sentia bem.

O canil mais parecia uma residência de classe média, tamanha a ostentação do local. Tinha dois andares e os animais dormiam em quartos separados. Possuía "área de lazer", "cozinha", e tudo o mais que garantisse o bem estar e conforto deles. Disso Austin não abria mão: o melhor para os seus animais de estimação.

Ela certificou-se de que tudo estava limpo, ordenado, de que tanto Phalo quanto Ted ficariam confortáveis em sua ausência. Não queria desperdir-se, sair de perto deles, mas seu corpo implorava por um descanso.

O tilintar de seus saltos ecoou pelos salões de sua residência, deixando os empregados sobressaltados. A notícia de que a filha do presidente havia discutido com uma das seguranças já tinha corrido por toda a Casa Branca, e a tomar pelo mau humor estampado em seu rosto, ninguém arriscaria qualquer movimento perto dela, nem ao menos ousaria aproximar-se da morena naquele estado de alerta de perigo.

Charlotte seguia para o seu quarto, ansiando por sossego, mas o caminho era traiçoeiro. Além de, pela milionésima vez, tê-la lembrado de Alice no País das Maravilhas, chamou a sua atenção para o cômodo que mantinha a porta entreaberta. Não havia nada lá dentro além de um Rembrandt pendurado na parede lateral esquerda e um piano de cauda aos fundos. O instrumento surpreendia com o seu poder, riqueza tonal, amplitude dinâmica e cor.

A Filha Do PresidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora