Para a maioria das pessoas - em especial para Elizabeth - receber visitas em casa é sempre uma alegria. Já por isso, dispunha de um lugar especial na sala, arrumado com capricho e bom gosto, que traduzia a personalidade dos Waraha. Contudo, a situação extraordinária deu-se de forma tão surpreendente que toda a pompa com o qual a mulher fazia questão de receber os amigos e parentes, esvaiu-se por completo. Tanto mãe quanto filha demoraram alguns segundos para assimilarem e associarem a figura elegante parada na porta, com o motivo pelo qual estava ali.
- Quem é que chegou? - William apareceu atrás de Fa e Elizabeth, carregando o filho no colo, ficando boquiaberto com a imagem que sua visão captava – Charlotte Austin?
Ao ouvir a voz grave do pai é que Waraha se deu conta de que ainda não havia permitido a entrada da morena em sua residência, ou melhor, na residência seus progenitores.
- Char...Srta. Austin, queira entrar por gentileza. - A agente fez sinal com a mão, inspirando a fragrância do J'Adore que espalhou-se no ambiente, trazida pela filha do presidente.
Ante uma situação como aquela, exigia se uma boa dose de autocontrole e "savoir vivre", os velhos bons costumes que todos deveriam conhecer e jamais abandonar.
- Bom, o que traz a nossa casa uma visita tão ilustre? - O patriarca tentava aparentar o máximo de amabilidade que era possível, ao passo que sua esposa encarava a mulher com a sobrancelha erguida e o cenho franzido, não se preocupando em disfarçar em leve dissabor por sua presença.
Após cumprimentar os colegas de profissão, que se mantinham parados em postura ereta frente à porta, a morena voltou a sua atenção para a visita.
- Sente-se, senho...
- Charlotte, por favor. Somente Charlotte. - Engfa estreitou os olhos por um milésimo de segundo, tamanha a estranheza que o momento causava - Eu não vou tomar muito do tempo de vocês.
De certo que nos dias em que a agente estava hospedada na casa dos pais, foram diversas as vezes em que sua mãe externou a insatisfação para com a herdeira presidencial e suas atitudes extremistas, mas naquele instante, o que importava era mostrar para a mulher o quanto eram civilizados, recepcionando-a com cortesia e boa educação, dispondo de alguns minutos para uma conversa amistosa. Ainda não sabiam o motivo real da presença de alguém tão importante, porém às vezes era somente a cordialidade que Austin esperava, saindo dali com o coração grato pelo acolhimento que teve e ainda arrependida pelas besteiras que cometeu.
- Você aceita um café, uma água, ou... não sei? Desculpe-me, mas não temos o costume de receber... - A matriarca da família interrompeu sua fala ao prestar atenção no homenzarrão que vistoriava sua janela.
- Isso é procedimento de praxe, mãe, para ver se não há movimentação suspeita nos prédios ao entorno daqui. - Waraha sentou-se ao lado do pai, no sofá em frente à morena.
- Então... deseja um suco, talvez?
- Não se preocupe comigo. Estou bem, mas... uma água seria bem vinda. - Charlotte sorria cordialmente, ao menos era o que aparentava.
- Claro! Eu já volto. - Elizabeth alternou o olhar brevemente entre seu esposo e sua primogênita, saindo em seguida, caminhando até a cozinha. Fa, treinada para decifrar o significado das milhares de expressões faciais que o ser humano usava - mesmo que inconscientemente - para externar as suas emoções, soube de imediato que a morena não estava de todo à vontade, que muitos trejeitos se davam de maneira forçada.
Esboçou um breve sorriso contido, ao virar-se para brincar com a mãozinha do irmão. Talvez faltasse uma pitada a mais de naturalidade nos atos de Austin, mas Fa tomou o esforço que estava sendo feito como ponto à seu favor.
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A Filha Do Presidente
RomanceÉ um paradoxo que alguém possa se sentir solitário apesar de ter uma vida cheia de atividades, destinos e tarefas. Infelizmente, essa é a realidade para muitas pessoas, inclusive para Charlotte Austin. Sendo filha do presidente dos Estados Unidos da...