O Começo

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Nem tudo é o que parece quando se tem 17 anos e já saiu da casa dos pais, a vida com certeza é mais do que a liberdade de poder fazer o que se tem vontade, poder dormir tarde, não lavar a louça quando não quer. Tem o seu lado bom? Sim, definitivamente tem muitos lados bons, mas tem tantos lados ruins que é de se pensar muito antes de fazer. Ultimamente tenho pensado muito se fiz a coisa certa, mas não sou o tipo de pessoa que desiste, ou larga alguma coisa pela metade, eu sai de casa e agora eu tenho que arcar com as consequências da vida, elas estão batendo a minha porta e eu preciso encara-las.


Não fazia ideia de que horas eram, eu não tinha um emprego e por um lado agradecia, eu não era o tipo de pessoa que amava trabalhar sabia que era necessário ainda mais depois de ter saído da casa dos meus pais e agora que o dinheiro que eu guardei por dois anos do meu antigo trabalho estava acabando eu precisaria encontrar outra forma de ter grana. Ao levantar da cama fui em direção do banheiro para tentar ficar mais apresentável, ninguém é bonito quando acorda a não ser que você seja uma atriz gata de algum comercial de creme dental. Pude ouvir a conversa na cozinha e pelo que entendi teria algum almoço de "família". Sim, aspas porque naquela casa morávamos eu, meu irmão mais velho Mateus, e minha cunhada Lara, eles eram o tipo de casal que eu não aprovo, se conheceram a uns dois anos, na época em que eu decidi sair de casa e vir morar com ele, não tinha se passado nem seis meses e eles já estavam fazendo planos de morarem juntos. Escovei os dentes, passei uma água no rosto e caminhei até a cozinha. O Mateus e a Lara estavam na frente da bancada preparando o almoço, eles faziam brincadeirinhas e vozes de criança quando se dirigiam um ao outro, aquilo me dava náuseas, eu jamais faria algo desse tipo com alguém. Primeiro que eu não sou afetivo, segundo que sou tímido demais pra me aproximar de alguém pra uma questão física. Eu nunca tinha namorado, uns beijinhos e amassos no máximo tudo partindo do cara que eu ficava, claro.


- Por favor, me respeitem e parecem com essa demonstração de afeto na minha frente. Eu disse fazendo um sorriso forçado como quem diz, é brincadeira essa é a casa de vocês, vocês são quem pagam as contas fiquem a vontade. Meu irmão todo animado veio em minha direção com os braços abertos e me puxou para um abraço dizendo;


- Para sua bicha, um dia você vai encontrar alguém e vai fazer as mesmas coisas ai vai ser eu quem vai te encher o saco com isso. Eu só sorri e me soltei do abraço. Meu irmão aceitava muito bem o fato de eu ser gay, pra ele não tinha problema nenhum nisso eu até podia comentar com ele sobre algum cara que eu estivesse afim ou algo do tipo que ele não me olharia torto ou faria alguma piada de mal gosto, já a minha cunhada não gostava muito da ideia, desde o dia em que eu fui morar com meu irmão ela sempre deixou claro que a partir do momento que eu levasse um homem pra casa ela não frequentaria mais a casa dele, e quando ela se mudou tudo ficou mais difícil, as indiretas dela eram constantes e a única coisa que fazia com que eu gostasse dela era o fato dela fazer meu irmão feliz e também ser apaixonada por livros, filmes e música como eu. Toda vez que eu tocava no meu quarto ela vinha me ouvir e ficava parada ali, me olhando, sentindo a minha dor na música.


Eu me sentei no sofá para assistir TV enquanto o almoço não estava pronto, troquei de canal várias vezes até encontrar um que não fosse tão ruim, na verdade fui vencido pelo tédio e parei de procurar, tudo que passava na minha cabeça era, isso não é pra mim, eu não quero isso pra minha vida. Meu pensamento foi interrompido pela voz do meu irmão avisando que o almoço estava pronto. Sentamos à mesa e começamos a comer, meu irmão na tentativa de me tirar do estase começou uma conversa.


- Então Guto, o que você pretende fazer se for aprovado na faculdade. Eu nem cogitava mais a questão de entrar na faculdade, já faziam mais de seis meses que eu tinha feito a prova teste e não tinha recebido nenhum aviso além de "Aguarde que você pode ser chamado para a segunda chamada." Aquela mensagem era como se eu não fosse bom o suficiente e meio que desisti da ideia.

Fumaça nos Olhos (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora