Azul.

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O carro balançava de um lado para o outro me jogando contra o vidro e contra o corpo do homem mal encarado dois que estava carrancudo ao meu lado. Pensei algumas vezes em abrir a porta do carro e me jogar mais descartei essa possibilidade quando analisei a velocidade na qual as árvores passavam por nós, ou nós por elas.

Já tinha se passado uns quinze minutos desde que fui jogado naquele carro e até então não conhecia nenhuma das ruas pela qual tínhamos passado. Os meus sequestradores não tinham dito nada, assim como eu que desisti de gritar depois da segunda quadra.

Eu pensava no que poderia me acontecer, sempre via notícias de pessoas que eram mortas por traficantes devido a dívidas, mas jamais pensei que isso poderia acontecer comigo, logo com o certinho. Até então minha maior infração tinha sido correr pelado na frente do corpo de bombeiros em uma noite de bebedeira e não me perdoava por ter feito isso. Agora, sequestrado por dois ogros que fariam sei lá eu o que comigo seria o ápice das minhas viagens.

Tinha medo que me fizessem um mal físico, óbvio, mas pensava mais em como eu poderia ficar emocionalmente depois disso tudo. Lembrei do dia em que meu primo me chamou para mostrar sua coleção de latas importadas e logo depois tentou me abusar, eu não suportaria passar por aquilo de novo e saber que estava sendo levado para um desconhecido onde não poderia gritar nem chamar pela minha mãe para acudir me deixava ainda mais arrasado.

As lágrimas rolavam espontâneas pelo meu rosto, não só por medo de morrer ou ser machucado, mas pensando em como minha mãe ficaria ao saber que seu filho foi morto e jogado em algum matagal desconhecido. Pensava em como meu corpo estaria quando me encontrasse e qual seria o cheiro que teria depois de dias, talvez meses jogado em uma vala.

Estava com a cabeça enterrada entre as pernas aos prantos quando senti o solavanco da parada do carro. O homem mal um desceu e abriu a porta do lado onde eu estava e me puxou com força, eu não consegui suspender meu corpo então cai no mesmo instante. O chão do lugar tinha uma terra seca, que com o tocar do meu corpo fez surgir uma nuvem de poeira. Me pus de pé, minhas pernas tremiam e com as mãos sujas da poeira tentei enxugar as lágrimas que rolavam pelo meu rosto.

O lugar que estávamos era como um pantanal sem barro. Desconhecia aquela parte da cidade, se é que ainda estávamos nela. O sol queimava minha pele e ardia meus olhos, os homens maus estavam parados diante de mim, um deles sorria, o outro apenas me encarava.

Eu já tinha desistido de tentar fugir, embora não tinha feito nada além de gritar. Era cedo para morrer, era cedo para eu sumir da memória daqueles que eu amava. Sentia que não tinha nada a perder, se eles fossem me fazer algo não existiria reação minha que os faria mudar de ideia, lembrei de todas as vezes que meu pai dissera a mim "não volte para casa humilhado" eu não sei se voltaria para casa mas gostaria de no mínimo não morrer calado.

- O que você quis dizer com "escolha melhor seus amigos". - Disse fungando e limpando o rosto.

O homem mal dois se aproximou de mim, ainda carregava aquele sorriso de coringa, ele parecia bem mais psicótico do que o outro.

- Seu amiguinho que te levou até o Will limpou a barra dele fazendo algum favor, se é que me entende. - Ele seguia usando o sorriso de coringa.

- E deixou a merda toda para mim? - Perguntei rindo de raiva.

O Miguel realmente queria foder comigo, deixar uma bomba dessas que é lidar com gente do tráfico, sabendo que eu tenho medo até da minha sombra. Eu era muito idiota mesmo, todas as vezes que o Guilherme me mandou ser menos ingênuo faziam sentido agora. Me sentia burro por ter dado confiança a ele e ser deixado assim. Superei a história com o Arthur, mas essa não passaria em branco.

Fumaça nos Olhos (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora