Sensações.

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Hoje completa três meses que eu e o Arthur terminamos, quando me disse que não estava pronto para ele. Sempre achei que não estava pronto para ninguém, quanto mais pronto para ele. Um cara do tipo do Arthur, não se interessaria por alguém como eu, meu subconsciente sabia que no fundo aquela história não daria em nada, mas era tão doloroso sentir sua falta, esquecer seu cheiro que estava no meu travesseiro, ou ignorar a cueca que ele deixou no meu cesto de roupas sujas. Eu sabia que não deveria, mas estava sendo muito difícil deixar tudo aquilo passar.

Minha companhia tem sido o Miguel, nesses últimos meses ele tem se mostrado muito diferente do que eu julguei, ele era realmente boa pessoa, tinha um humor questionável mas no fundo tinha boas intenções. As aulas ficavam mais divertidas principalmente quando fumávamos um baseado antes de entrar. Ele me levava até o trabalho e me buscava para que fossemos até o seu apartamento. Nossas noites de segunda a domingo eram regadas por doses seguidas de doses, nem sempre do Whisky mais caro, porque nosso vício estava claro e precisamos de muito.

Estava saindo do trabalho quando avistei o Miguel encostado no carro, fui em sua direção sabendo o que aconteceria no decorrer da noite. Quando entramos no carro ele já estava ascendendo o baseado, fumamos no caminho pra casa e tudo que passava na minha cabeça naquele momento era que eu estava bem, eu me sentia melhor do que a semanas anteriores quando meu namoro acabou, não sentia mais tão claramente a falta dele, embora quando estava sozinho eu sentia tudo aquilo triplicado.
Já fazia três meses e eu não tinha ficado com ninguém e só de pensar que ele possa ter estado com quantos ele tivesse vontade me embrulhava o estômago, eu não sentia vontade de estar com outras pessoas, mas sabia que cedo ou tarde as necessidades apareceriam e eu faria.

Quando chegamos na casa do Miguel, fizemos como um ritual, passamos da porta da entrada, passávamos pela cozinha pegávamos a garrafa e íamos para o seu quarto.

- Tenho uma novidade. O Miguel disse, batendo as mãos.

Eu sorri pra ele e ele entendeu que eu não tinha tempo para aguardar, se fosse novidade eu aceitaria porque certa noite nos prometemos curtir coisas novas.

Ele pegou um saquinho na bolsa, um saco branco a julgar pelo conteúdo. Ele despejou o conteúdo do saco, um pó branco sob um livro.

- Eu não usei ainda, acho que devemos ter uma primeira vez juntos. Ele me disse sorrindo.

- Tenho medo de viciar. Disse trincando os dentes.

- Me falaram que a sensação é ótima, só essa vez. Ele disse apertando os olhos

Fiz que sim com a cabeça, eu realmente tinha medo de usar, não só pelo fato de viciar, mas também por achar droga sujo, mas naquele momento eu não conseguia pensar nisso, eu só queria me sentir bem.

Ele me passou um canudo feito com uma noite de dinheiro e eu puxei, a sensação do pó entrando pelo meu nariz fazia com que meu corpo todo tremesse, eu sentia como se estivesse mordendo palha de aço, meu corpo rejeitava o pó com coceira, eu fungava e nada me liberava daquela sensação horrível. Decidi observar o Miguel e notei que ele só coçava o nariz e puxava com força, fiz o mesmo e logo aquela sensação foi diminuindo.

Uma mistura de alegria e euforia tomou conta do meu corpo, eu queria correr, gritar, dançar, tudo ao mesmo tempo. O Miguel ria enquanto eu ligava o som no máximo do volume e dançava como se fosse minha última vez, eu estava me sentindo vivo, e por algum motivo eu tinha esquecido meus problemas, eu esqueci que não via meus pais a muito tempo, esqueci que meu melhor amigo que eu amei por anos, decidiu me contar que me amava depois de eu estar apaixonado por outro, e também esqueci que o cara que eu amo me dispensou depois de se dar conta de que eu não sou pra ele.

Fumaça nos Olhos (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora