Saudade, dúvida e fumaça.

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"Não é justo
Eu estou falando com você aí em cima
Você está aí?
Você sabe que eu me importo

Então, por favor, não me diga que esta é uma oração vazia

Porque é tudo que ela tem e ela está perdida
Eu queria que ela conseguisse se lembrar
Eu vejo desaparecer e escapar

Está doendo mais do que nunca
Eu sinto falta dela, mesmo que ela ainda esteja aqui
Você precisa dar um sinal

Não a deixe desaparecer

Eu daria a ela o meu para sempre
Se isso significasse um dia
Que ela pudesse ficar realmente bem
Porque eu sinto falta dela
Mesmo que ela ainda esteja aqui"

Ainda não aceitava a perda da minha mãe, o passar dos dias foram me pondo de volta nos eixos e conforme eles passavam menor ficava a dor e maior a saudade. Era estranho ter que acordar e sair de casa sabendo que tem algo de errado e perceber que o que tem de errado não pode ser concertado.

Voltei aos meus afazeres no dia seguinte, não podia me deixar afogar em pensamentos ruins. Confesso que ultimamente os meus compromissos não tem tido minha presença por completo, com a perda da minha mãe e a dúvida sobre a viagem era difícil se concentrar em outras coisas.

Eu tinha apenas uma semana para decidir se iria ou não morar em Chicago para estudar música. Por um lado essa dúvida fazia com que eu me sentisse egoísta, o fato de deixar o Arthur sem pensar nos nossos sentimentos era o medo que mais me tirava o sono.

Não faço a menor ideia de como seria minha vida morando em outro pais, convivendo com pessoas diferentes, tendo que deixar aquilo que eu sempre quis, que foi um amor. Me dividia em dois mundos, o mundo do Gustavo sonhador que queria fazer jus a promessa que fez a sua mãe, e o mundo do garoto apaixonado que ficaria em pedaços por ter que deixar o Arthur para trás. Talvez fosse tolice minha abrir mão de uma oportunidade assim, mas por hora eu não conseguiria decidir nada.

Caminhava pelos corredores do meu trabalho quando a Sra Calt parou diante de mim, meus olhos que antes focavam o assoalho do lugar, agora encaravam os olhos brilhantes e acolhedores da bela mulher a minha frente.

-Eu sinto muito pelo que aconteceu, -Disse ela colocando seu braço sobre meu ombro. -Quero te chamar para um café. -Concluiu.

-Claro, será bom conversar. -Disse sorrindo.

Na frente do prédio da escola de música ficava um café charmoso, conhecido pelas deliciosas tortas servidas lá. Nos sentamos diante uma mesa branca de metal trabalhado, a Sra Calt ficou me encarando, julguei eu que esperando eu desmoronar em lamentos, mas apenas a encarei de volta. Eu não só a encarava, eu a admirava. De todas as pessoas que eu conheci desde que deixei a casa dos meus pais ela tinha sido o mais perto de uma pessoa da família que conheci, depois do Arthur, claro.

-Eu também perdi minha mãe quando era jovem, -A Sra Calt começou a falar enquanto tomava um gole de um chá caro qualquer. -Ela sempre foi para mim um exemplo, e eu sei como é a dor que você está sentindo, mas saiba que eu estou aqui para te apoiar, não da forma como ela faria, mas darei o meu melhor.

Suas palavras eram tão sinceras que senti as lágrimas se acumulando nos olhos, a bondade dela era tão verdadeira que uma paz tomava conta de mim ao ouvi-la.

-É muito bom saber que tenho pessoas como você ao meu lado. -Disse com a voz falha devido aos resmungos contra as lágrimas.

-Sei que você está passando por um momento difícil, mas não podemos deixar de falar sobre a bolsa de estudos que você ganhou. -Agora ela me olhava mais séria, mas sempre gentil.

Fumaça nos Olhos (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora