Apesar dos pesares

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Minha cabeça doía, meu corpo doía, o gosto de bile na boca estava tão forte, parecia que tinha bebido um copo cheio daquilo. Na verdade o copo que bebi, ou melhor garrafa foi do Whisky barato que compramos ontem à noite no bar. Meu quarto estava uma zona, bitucas de cigarro por todo lado do apartamento, uma geral precisava ser feita. Já passava das duas da tarde, eu não tinha notado a presença de ninguém além de mim ali, então decidi que seria a melhor hora para uma geral no lugar.

Juntei a maior parte da bagunça na sala do apartamento, não fazia ideia de como cinco pessoas poderiam fazer uma sujeira tão grande. Meu celular apitou avisando uma nova notificação.
A primeira coisa que me veio à cabeça foi algum aviso do Guilherme, ou um convite, não pensei que poderia ser o que era. Na mensagem tinha uma foto minha, beijando o Marcos, teria sido tirada ontem à noite, quando tudo aconteceu. Não fazia ideia de quem poderia ter feito isso, a julgar que o bar estava lotado e qualquer um poderia ter tirado. Senti minhas mãos geladas, minha respiração encurtando cada vez mais, meu corpo todo travou enquanto seguia lendo a mensagem. Junto da foto tinha uma frase, apenas uma frase fez com que eu passasse de uma pessoa de ressaca a uma pessoa arrependida e maltrapilha, nela estava escrito.

" O frio estava realmente forte. Parabéns."

Era uma mensagem do Arthur, como pode ele no outro lado do mundo, a tantos quilômetros de distância ficar sabendo de um acontecimento assim, uma coisa que foi banal e não premeditada, não por mim, pelo menos. Eu estava arrependido pelo que aconteceu entre mim e o Marcos, mas acima de tudo eu estava triste, porque a julgar pela mensagem ele se sentiu traído, e eu jamais faria isso com ele. Pelo menos não depois da nossa conversa, em que ele pediu que eu esperasse por ele.

Algo precisava ser feito, existiam duas coisas a fazer primeiramente. Número um, descobrir quem enviou a foto ao Arthur. Número dois, falar com o Arthur e tentar explicar a situação. Precisava contar a ele que não foi o que pareceu, por que não foi mesmo. Ele me beijou e eu o afastei.

Minha cabeça estava uma bagunça, eu não sabia mais o que queria, quem eu queria ou se queria alguém.
Nunca pensei em como seria complicado ter a vida que eu sempre desejei, sempre quis ter um romance, e além disso queria viver aventuras, mas isso? Não era como eu imaginava, era complicado e dolorido, principalmente quando envolve pessoas além de você.

O telefone do Arthur estava na quinta chamada quando ele atendeu. Supus que ele estivesse decidindo se me atenderia ou não.

- Você entendeu tudo errado. Eu não beijei ele, foi ele quem me beijou, eu o afastei. Eu juro que fiz. Disse no momento em que ouvi a respiração dele do outro lado da linha.

- A questão não é só a foto Gustavo, eu pensei que você fosse diferente. Mas é só mais um garoto que se encanta fácil. Ele jogava tudo de uma vez.

Não tive chance de resposta, a chamada foi finalizada assim que ele pronunciou a última palavra. Eu sabia que sentia algo pelo Arthur, estava claro que sim, um cara bonito feito ele interessado por mim não poderia dar em outra, ainda mais na fase em que me encontrava, carente e solitário. Enquanto ouvia o que ele me falou tive a sensação de que meu peito foi esmagado por um bitrem, suas palavras me atingiram, eu era como os outros, eu me encantava fácil. Sim, me encantei, mas por ele, pelo homem baixinho com cabelos dourados cheios de ondas. Foi por ele que me encantei.

Eu chorei o resto da tarde, meu olhos ardiam e meu nariz parecia uma torneira, eu não tinha noção de como seria ruim machucar alguém como eu fiz com o Arthur.
Guilherme entrou no meu quarto todo saltitante e animado, mas sua expressão mudou quando viu meu rosto inchado pelo choro de horas.

- O que aconteceu? Ele perguntou com os olhos arregalados.

- Eu estraguei tudo, eu. Não consegui completar a frase, mais lágrimas desceram pelo meu rosto tomando conta de mim.

Fumaça nos Olhos (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora