Qual vai ser o problema?

370 33 0
                                    

O inverno já estava chegando, minhas pernas tremiam, a garganta estava seca, mas não pelo frio que fazia e sim pelo nervosismo. A sensação que eu tinha era que eu estava com um arco e flecha na mão mirando em uma maçã na minha própria cabeça, se eu errasse, acabou. Fiquei por um tempo sentado na recepção da escola de música enquanto não era chamado, esfregava uma mão na outra na tentativa de me aquecer ou de fazer o tempo passar mais rápido.
O Marcos vinha em minha direção com um sorriso no rosto, ele era um cara charmoso, e surpreendentemente novo, pelo menos era novo pra ser diretor de uma escola. Ele usava óculos que o deixavam ainda mais culto, ele era bonito. Eu e a minha mania de achar que todo homem que transmita inteligência é bonito.
Nos cumprimentamos com um aberto de mão e ele me levou de sala em sala apresentando o lugar, parecia enorme todas as salas tinham uma espécie de palco, as paredes de madeira tinham um tom envernizado escuro que passavam a ideia de que era uma construção antiga. Eu já tinha estudado música quando era mais novo, fiz aulas de violão, guitarra e voz, e dava algumas aulas particulares para fazer uma grana extra, mas dessa vez seria diferente, eu seria testado para saber se tenho capacidade de passar o que sei para outras pessoas, sempre me dei bem com meus alunos e esperava que fosse assim novamente. Quando chegamos no auditório onde seria minha "apresentação" mais duas pessoas estavam no lugar, um deles um senhor baixinho com cabelos grisalhos sorridente, e ao lado dele uma mulher que aparentava uns cinquenta e poucos anos, ela era um pouco assustadora, ruas rugas demonstravam que era uma pessoa vivida, ela devia realmente entender do assunto.

- Esse é Jorge Calt, dono da escola e meu pai. Ele riu quando disse dando um tapinha nas costas do senhor. - E essa é Antônia Calt, diretora geral e minha mãe. Nos cumprimentamos e sentamos para conversar, à primeira vista ela pareceu ser mais seria, mas ao longo da nossa conversa ela acabou se soltando e no fim falei mais com ela do que com o Senhor Jorge, contei a eles que tinham vindo a pouco para a capital e que tivera estudado música desde meu seis anos, já tinha dado aulas particulares e que tentaria estudar música na universidade. Antônia me disse que lecionava na universidade dando aula de vocal, nessa hora um arrepio subiu pelos meus braços, eu tocaria e cantaria para uma professora de universidade, a coisa seria mais seria. Eles pediram então que eu tocasse, me dirigi para o centro do palco, sentei-me em um banco alto de madeira, apoiei o violão sobre minha perna e comecei a tocar.

Conforme os nervos dos meus dedos se aqueciam com o dedilhar das cordas, minha garganta também aquecia, com notas mais calmas no inicio eu fui evoluindo para um pico alto de estase, estava sendo levado pelo momento, meu nervosismo tinha sumido, minha voz parecia estar fluindo em um ritmo constante como as cordas do violão mandavam que ela fluísse. Sem dúvidas nenhuma aquela estava sendo a melhor audição que eu poderia fazer, agora eu estava realmente contente comigo.
Quando abri meu olhos depois do agudo final da música olhei ao redor, o senhor e a senhora Calt estavam sorrindo, batendo palmas, o Marcos estava saltitante gritando "bravo, bravo" e atrás deles uma platéia tinha se juntado nas portas que davam para o corredor, todos os alunos se espremendo uns nos outro para que pudessem me ver tocar. Uma ponta enorme de vergonha tomou conta do meu rosto fazendo com que eu ficasse com calor, o que deveria ser somente pela vergonha, já que minhas pernas tremiam de frio, ou nervoso.

- Bom, acho que depois desta maravilhosa apresentação, não nos resta dúvida enquanto ao cargo, certo? O Senhor Calt disse olhando para Antônia e para o Marcos.

- Ele além de tocar muito bem tem uma voz maravilhosa. Antônia concordou. - Acho que além das aulas de violão para os iniciantes ele pode ajuda-los com reforço nas aulas de voz.

Nunca tinha pensado em dar aula de voz, na verdade não sabia que poderia isso, desconhecia esse meu lado, o lado de poder cantar, eu entendia alguma coisa por que estudei mas desconhecia essa voz que saiu de mim e que eles gostaram tanto.

Fumaça nos Olhos (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora