Capítulo 7

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Tivemos que dar uma pausa na obra por alguns dias. Enchemos a caçamba de lixo e ela precisava ser trocada. Morri numa grana, outra facada no meu orçamento que eu não tinha planejado.

Em compensação os dias sem trabalhar foram bons para descansar o corpo e para descobrir coisas interessantes. A primeira: Era impossível ganhar do Tom em jogos de carta. Ele trouxe um baralho de sua casa e literalmente arrancou toda a minha roupa num strip poker sem que eu conseguisse tirar uma única peça de roupa dele. Eu fiquei tentado a levar ele para Vegas e levantar uma grana fácil nos cassinos.

Outra coisa, e essa um pouco mais triste, é que ele simplesmente não conhecia quase nada em relação a cultura pop dos últimos 20 anos. Então assistimos muitos episódios de Drag Race, ouvimos muitas divas pop e principalmente a minha queridinha Maria. E ele me ensinou a jogar Mario Kart Double Dash.

Ele trouxe uma TV de tubo e seu antigo GameCube. Sua mãe tinha lhe dado esse videogame num Natal e ele passava horas jogando antes de ser preso. Eu estava melhorando, já conseguia ficar entre os 4 primeiros durante as corridas enquanto ele vencia com muita folga. Quem diria que eu tinha um nerd em casa?

Um dia antes da viagem eu estava fazendo minha mala e Tom entrou no quarto.

– Brandon?

– Oi.

– Eu não tenho o que vestir nessa viagem.

– Vai pelado ué. Ninguém vai reclamar da vista.

– É sério. Eu tenho meia dúzia de camisas pretas e algumas roupas de segunda mão.

– Jeans, camisa preta e um óculos escuro é tudo o que você precisa para ser invisível em Los Angeles.

– Mas e na festa?

– Eu já cuidei disso.

– Cuidou disso?

– Quando a gente chegar em LA você vai ver.

– Eu não entendi.

– Você confia em mim?

– Confio? – Respondeu incerto.

– Relaxa que eu não tô te levando para uma armadilha. Eu precisaria de uns três baldes de sangue de porco pra te transformar na Carrie e eu sou judeu.

– Eu me sinto desconfortável.

– Você mesmo disse que nunca saiu de Montana. A gente precisa recuperar os 18 anos que você passou preso. Confia em mim – Tom se ajoelhou perto de mim e eu o beijei – Onde estão suas coisas?

– Por quê?

– Tem muito espaço na minha mala, a gente pode levar tudo nela.

No dia da viagem nós fomos no meu carro até o aeroporto de Kalispell, pouco mais de uma hora de viagem. Despachamos a mala e Tom parecia uma criança numa loja de doces. Eu lembro da primeira vez que andei de avião com o Billy e seus pais e eu tive a mesma reação.

O bom de ser um homem alto e ter como melhor amigo um homem ainda mais alto é que quase sempre viajávamos no assento conforto para ter mais espaço para as pernas e é claro que Martha me comprou um desses. Dois na verdade.

Na hora que o avião começou a taxiar pela pista dava para ver o suor escorrendo da testa de Tom. Ele tinha lindos olhos castanhos e eu podia ver o pânico neles.

– Tom – Ele não respondeu – Tom!

– Oi?

– Relaxa. Olha pra mim.

– Tô olhando – Disse virando o rosto.

– A turbina vai fazer barulho, você vai sentir a aceleração te empurrando pra trás e quando o avião sair do chão você sente seu estômago ficar fundo igual numa montanha-russa. E é só isso.

Recomeços (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora