Capítulo 10

156 19 0
                                    

Depois daquela noite nenhum de nós disse nada. Tom provavelmente não lembrava do que disse e eu me fiz de sonso. O lavabo ficou pronto, assim como a dispensa. Trabalhamos na cozinha por vários dias e deixamos ela num ponto em que estava tudo preparado para receber os móveis que Tom estava fabricando. Eu já havia encomendado os eletrodomésticos novos, nada muito extravagante para não estourar meu orçamento, mas tudo de qualidade.

Estávamos na cozinha enquanto Tom conferia algumas medidas pela enésima vez.

– Você sabe que vamos ter que mexer naquilo antes de finalizar a cozinha né? – Disse Tom apontando para a porta do porão.

– Eu sei, mas estou enrolando de propósito.

– Qual o problema?

– Eu não gosto de porões – Disse.

– Por quê?

– Não sei, só não gosto.

– Eu to aqui, não vai acontecer nada de ruim – Disse se aproximando e me puxando para um beijo.

– Eu sei, mas a gente precisa mesmo?

– Precisa.

A contragosto fui pegar o molho de chaves da casa e achei a que abria aquela porta. O cheiro era muito esquisito, parecia umidade velha, se é que isso faz sentido. Tom tentou acender a lâmpada, mas não funcionou.

Tom pegou uma lanterna em sua bolsa de ferramentas e começou a descer as escadas que rangiam sob seu peso. Fui atrás e o lugar estava uma bagunça assim como a casa estava antes. Não dava para ver nada direito, mas Tom achou a lâmpada e a tirou. Ele voltou até a cozinha e trouxe uma lâmpada nova e finalmente tínhamos luz no porão.

Levamos quase três dias para tirar todo o lixo daquele lugar, mas encontramos coisas interessantes. A primeira foi o tanque de gás, que segundo Tom estava completamente vazio. Um tanque daqueles custaria uns 1000 dólares para encher e eu já estava preocupado. A segunda coisa que encontramos foi um aparelho de jantar lindo todo de porcelana e um faqueiro que eu podia jurar ser de prata e tudo em perfeito estado.

Tom estava varrendo um canto do porão e eu estava mexendo numa estante quando achei um baú pequeno. Estava trancado e eu o levei para fora. Tentei abrir o baú sem sucesso e chamei por Tom.

– Consegue abrir isso? – Perguntei.

– Tem um pé de cabra no celeiro, eu já volto – Disse Tom que saiu correndo.

Depois de voltar e forçar um pouco o baú abriu. Estava cheio de cadernos e cartas. Abaixei para pegar um deles e vi que não eram cadernos, mas diários. Tom também pegou algumas cartas para olhar.

Abri um dos diários e as lágrimas escorreram do meu rosto de imediato. Eu reconheceria a letra da minha mãe em qualquer lugar. Tom se ajoelhou ao meu lado.

– O que foi? – Perguntou preocupado.

– É da minha mãe – Disse lhe mostrando uma página.

– Tem certeza?

– Absoluta. Tá vendo os "w" nas palavras? Só ela escrevia desse jeito.

– Então ela era mesmo irmã do senhor McAllister – Afirmou.

– Eu olhei todos os papeis e documentos que estavam na casa antes de jogar fora e nunca achei nada falando dela, mas isso? – Peguei outros diários e eram todos dela.

– As cartas também são dela, olha – Disse Tom me mostrando uma carta que havia aberto.

Peguei a carta e a data dizia 02 de fevereiro de 1987 e comecei a ler em voz alta.

Recomeços (Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora