Briga, briga, briga

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Chegamos ao Bar Aurora, Phil está atrás do balcão, cabelos longos pretos presos em um coque, tatuagem no pescoço, me aproximo e quase me debruço em cima do balcão.

     — Me vê uma bebida, senhor Aurora. — ele se vira, sorrindo.

     — Deixa eu adivinhar? Maria e o quê? Esse é o garoto hacker?

     — O nome dele é Jake — Phil pega a minha mão e dá um beijo nela, eu a recolho sorrindo e ele estica a mão para cumprimentar Jake que a pega com um desgosto visível.

     — Famosa Maria, obrigada por me tirar da prisão. Por acreditar em mim.

     — Na verdade, eu não fiz nada.

     — Humildade, eu gosto disso. Bebidas de graça pra você pelo resto da sua vida. — Jake olha pra ele com desprezo que me faz rir, sei que ele está com ciúme, mas não vai admitir.

     — Obrigada, mas eu não bebo. — Jake solta uma risada debochada.

     — Um chá gelado então?

     — Sim, por favor.

     — E pro seu namorado?

     — Cerveja. — Jake responde nada simpático.

Phil, entrega as bebidas e conversamos, jogamos conversa fora, Jake só fala palavras curtas. Phil se afasta para atender outros clientes, e dar atenção a eles. Quando volta, ele está com uma expressão de tédio.

— Eles querem falar com você. — e aponta a cabeça para uma mesa no fundo a esquerda. Cleo, Dan, Thomas, Jessy e Lilly estão me esperando. — você não precisa falar com eles.

     — Obrigada, Phil. — olho para o grupo e fecho a cara imediatamente. Jake pega na minha mão e vamos até lá.  Jake fica de pé, pego uma cadeira e sento na ponta da mesa.

    — O que vocês querem? — consigo dizer sem demonstrar paciência.

     — Maria, mil desculpas pelo meu ataque no hospital. — Lilly começa, mas antes que ela prossiga, eu a interrompo.

     — Eu estou de saco cheio das desculpas de vocês. Pode pegar essas desculpas e enfiar no meio do teu rabo, Lilly. Toda vez isso, eu não esqueci do vídeo que fez acusando o Jake e eu de sequestro, as ameaças que recebi por causa disso, você também fez uma votação pra me tirar do grupo, enquanto todos não faziam nada para encontrar a sua irmã, o corno manso ali. — aponto para o Thomas. — Também votou para me tirar do grupo e quando o "Michael" quis me trocar pela Hannah, só faltou ele ir na minha casa me buscar para me entregar pra ele. E quando a Lilly me deu um tapa no hospital, ninguém me perguntou se eu estava bem. Ninguém me enviou uma mensagem se quer, me chamou para conversar, nada, nenhum de vocês. Vocês são um bando de ingratos, e eu nunca mais quero ver nenhum de vocês na minha vida de novo. 

Fico de pé e olho para Phil que está no balcão e próximo

     — Isso não se aplica a você, Phil. — ele apenas sorri e saio do bar bufando, Jake corre atrás de mim.

     — Maria, eu sinto muito por tudo o que você passou.

     — Você não ouviu o que eu falei lá dentro? — falo praticamente aos berros. — Chega de desculpas, eu não aguento mais, e é claro que você ficou do lado da sua irmãzinha depois que ela me bateu porque eu não defendi a outra né? Agora você tem um lar, uma família, pode ter sua identidade de volta. O quê? Agora a grande família feliz com irmãs, papai e madrasta vão sair pra almoçar juntos depois da igreja no domingo? Você contou pra ela, Jake? Contou pra Hannah que está apaixonada por você que é irmão dela?

Jake me olha e só agora percebo que estou chorando, muito, tento limpar as lágrimas, mas elas não param de vir. Depois de ficarmos um tempo em silêncio. Continuo.

     —  Eu sinto que se eu sumisse daqui dois dias nenhum deles faria metade do que fiz pela Hannah, para me encontrar ou se eu fizesse algo tão terrível o único que poderia me ajudar está morto. — respiro fundo e olho para o Jake me sentindo derrotada — Olha, não é justo jogar essas coisas pra cima de você, não é culpa sua, me desculpe, eu só estou me sentindo usada por eles e estou cansada, sei que acabei de falar sobre desculpas esfarrapadas, mas eu não queria falar assim com você, Jake, me desculpe.

Ele se aproxima de mim e coloca as mãos no meu rosto limpando minhas lágrimas.

     — Maria, depois da confusão entre você e a Lilly, eu só fiquei lá pra resolver as coisas com ela e com a Hannah, e sim, eu contei para ela que somos irmãos e isso a perturbou, mas já resolvemos, também dei um bronca em todos por como agiram com você. Os pais da Hannah e Lilly estavam lá, tive que encarar meu pai nos olhos e fingir que não o conhecia. Você acha mesmo que eu sou um deles? 

     — Não. — consigo dizer enquanto ainda choro. — Eu não queria ser grossa com você ou falar sobre suas irmãs e família. Então, você falou com seu pai? Ele sabia quem você era?

     — Acho que ele não me reconheceu, e mesmo se tivesse, não iria falar nada na frente da esposa, eu não quis trazer mais drama para aquela família e não era adequado naquele momento. Maria, elas podem ser minhas irmãs, sangue, família, mas você é o meu lar. — fecho os olhos ainda mais. —  Olha, eu acredito que exigi muito de você, coloquei em você a responsabilidade de achar a Hannah, de descobrir a verdade. Eu sumi por um tempo e deixei você se virar sozinha, eu sobrecarreguei você e não percebi, e lamento por isso, eu não deveria deixar tudo nas suas costas, me desculpe. Eu sinto muito, Maria.

Ele coloca a minha cabeça em ombro e me abraça enquanto faz carinho nos meus cabelos.

     — Sabe, se você sumisse daqui dois dias seria como se meu mundo desaparecesse, eu faria de tudo para te encontrar e enfrentaria qualquer um e cometeria qualquer crime para te achar ou se fizesse algo tão terrível, teria o prazer de fugir com você para uma ilha paradisíaca e criar novas identidades para nós. Você é tudo o que me importa.

Isso me faz sorrir, e as lágrimas finalmente param, não estou afim de dirigir, então entrego as chaves para Jake, ele abre a porta do carro para mim, ele vai e senta no banco do motorista e vamos para o hotel.

Depois do episódio 10 - Duskwood Onde histórias criam vida. Descubra agora