trinta e um.

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ela odeia tudo que faço
e tudo que me envolve,
mesmo que eu me esforce
para ser o mais perfeita possível.

ela abre a boca
e consegue me destruir
com poucas palavras,
como se enfiasse,
sem dó nem piedade,
um punhal em meu peito.

espero, ansiosamente,
pelo dia em que ela me dirá
que odeia o meu respirar
e que, na verdade, é ele
quem tanto a irrita.

e não o meu quarto,
o meu cabelo,
a minha vestimenta,
o arroz que acidentalmente queimei,
o banho atrasado que dei no filho dela,
a defesa que fiz do meu pai,
a hora que acordei.

ela não pode dizer
que sou uma vagabunda insuportável,
porque sabe o quanto eu estudo
e o quanto sou quieta
(em todos os sentidos,
já que tento nem falar com ela).

ela parece odiar que me amem,
principalmente se o dono do amor
for o meu pai, o marido dela.

ela provavelmente odeia
que eu exista.

eu nunca vou entender o porquê
alguém leva a gestação até o final
se sabe que nunca amará
ou protegerá (de si mesma, nesse caso)
aquela criança, adolescente e
se ainda for possível...
adulta.
;espero nem pagar para ver;

o maior arrependimento da vida dela
deve ser essa gestação completa
e o meu maior arrependimento
foi ter ajudado com isso...
era só ter me mexido um pouco mais
até o cordão umbilical enroscar
e acabar com todo esse pesadelo
que ouço e vivo em um silêncio estrondoso.

amor incondicional: aquele que não se mede, porque não existe.

a dor que mora em mimOnde histórias criam vida. Descubra agora