UM PEDIDO POR AMOR

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POV EMMA

Não existia uma parte de mim que se arrependeria de ter voltado para ajudar a Hope, mas definitivamente tinha uma que me fazia duvidar da minha capacidade para isso. Por anos, tentei ajudá-la a superar toda culpa que sentia pela perda dos pais e ausência da família, depois da transição e da morte do Landon, quando tudo acabou e achamos que ficaria bem, tudo que ela não precisava era ser sequestrada e torturada por mais de um ano. O ponto é que a Hope sempre foi um grande desafio, e eu não sabia se conseguiria lidar com ele agora, já que a missão de fazê-la ficar bem tinha ficado ainda mais difícil.

Mais tarde, depois que ela foi evasiva no quarto e acabou exigindo educadamente de nós um pouco mais de privacidade e espaço, Lizzie nos contou do ocorrido de mais cedo. Mesmo achando que estava traindo a confiança recém adquirida da amiga, ela achou que seria importante que estivéssemos a par do quanto a Hope havia sido afetada pelo tempo que passou em cativeiro. Quando ela saiu, Alaric finalmente achou seguro me munir de informações que eu não gostaria de ter visto, ainda que soubesse a importância de cada uma delas.

A – Antes de te entregar isso, preciso que me garanta que não vai desistir do caso. – Falou segurando um caderno cheio de receio.

E – Acha que o que tem aí vai me fazer desistir de ajudar a Hope ? – Perguntei surpresa e mais curiosa.

A – Não, mas pode te deixar abalada o suficiente para pensar nisso.

E – Eu já entendi que não vai ser fácil, mas pode confiar que não irei embora sem a certeza de que ela está bem. – Garanti-o.

Ele então me entregou o caderno, visivelmente preocupado e triste. Não era volumoso ou antigo, mas era escrito à mão. Antes de ler, busquei seu olhar para ter certeza de que eu realmente podia e, com um aceno de cabeça, ele me deu a permissão final que me faria me arrepender de ter recebido.

E – Um diário ? Quem é D.S. ?

A – Daniel Shawn, o psicopata Augustine que estava com a Hope.

DIÁRIO DE D.S.

DIA 1

Paciente 21012 apresenta extrema resistência à solução de verbena concentrada. Efeitos não duram mais que 2h em caso de interrupção da via intravenosa. Embora não entenda como usou magia sendo uma vampira, não voltou a fazê-lo desde a captura. Seu metabolismo super acelerado diminui o tempo de cura e acelera a duração do efeito de vecurônio, mas me garante mais possibilidades de pesquisas. De início, foram feitas incisões superficiais e, posteriormente, profundas, a fim de calcular o tempo de cicatrização – que é muito curto. Após 8h de cortes nos mais diferentes tecidos, precisei finalizar o expediente para organizar o espaço.

DIA 5

Nove dias após captura e sem se alimentar, 21012 ainda não apresenta desgaste importante. Foram realizados testes de resistência ao calor, queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus provocadas por descarga elétrica bilateral em membros superiores e inferiores durante 7h. Tempo de cicatrização levemente reduzido e resistência medicamentosa quase 100% preservada. Apresenta temperamento irritado, petulante e irônico, embora não tenha certeza se é sinal de estresse biofisiológico ou personalidade. Ao fim dos testes, 2,5L de sangue foram drenados para análise e enfraquecimento da paciente.

DIA 21

Vinte e cinco dias foi o tempo limite necessário para que 21012 precisasse ingerir 150ml de sangue humano. Com o tempo, acredito que posso aumentar esse intervalo de alimentação para o dobro de dias. Após 3h de dissecação pancreática, 21012 apresentou anomalia ocular incomum: seus olhos ficaram dourados. Aproveitando a descoberta de mais esse recurso intrigante, dediquei o resto do dia para remoção de globo ocular para análise. Diferente do que acontece com outros órgãos já extraídos, olhos não se regeneram do zero. Para minha sorte, só precisei devolvê-los à cavidade ocular e seu formidável fator de cura fez o resto.

O Que Restou de Mim Onde histórias criam vida. Descubra agora