POV HOPE
Nunca odiei tanto a minha hiperatividade. Os primeiros dias de conversa com a Emma estavam indo bem, até começar a me sentir meio sufocada do mesmo cenário. Acho que tinha um limite de informações que eu julgava pessoais para dividir sem achar que pesava o ambiente. Provavelmente atingimos o limite da sala dela. Confesso que foi libertador poder dizer o quanto portas fechadas me incomodavam, embora não fosse bom voltar para os dias em que portas fechadas significavam sofrer sozinho e ficar no escuro. Quando ela me perguntou como me sentia com relação à nossa privacidade, já que ficávamos de porta aberta, revelei mais um segredo:
FLASHBACK ON
H - Não preciso me preocupar com privacidade enquanto isso queima. - Falei mostrando o maço de Salvia que havia acendido quando entrei.
E - Feitiço de privacidade, claro. Bem pensado.
H - É, tem sido útil nas noites difíceis. - Deixei escapar.
E - Como assim ?
Por um momento, me questionei se valia mesmo a pena dizer aquilo em voz alta, mas esse era o objetivo da minha terapia: falar para esquecer.
H - Nem sempre eu durmo bem, muitas lembranças, pesadelos. Isso ajuda a não acordar os estudantes que dormem perto do meu quarto, já que eu não fecho a porta. - Revelei com cautela.
Emma me analisou como se refletisse a necessidade de mais um "sinto muito", mas acho que estava começando a aprender que aquilo não ajudava tanto quanto ela achava. Então, para variar, ela fez uma pergunta mais técnica:
E - Quantas vezes por semana eles acontecem ? Digo, os pesadelos.
H - Mais do que eu gostaria. Mas estou lidando cada vez melhor com isso.
E - Que bom! Posso saber como ?
Policiei minhas palavras ponderando se aquilo era algo bom para se dizer, não era uma solução muito confortável ou correta, mas era a que eu tinha encontrado para não sucumbir às memórias do meu subconsciente.
H - Eu durmo no chão. - Disse rápido, torcendo para que ela não tivesse prestado tanta atenção como sempre fazia. - Mas é menos pior do que parece. - Me esforcei em adiantar.
E - Eu não imagino como.
H - No porão onde eu e o John ficávamos, o chão das celas não era muito confortável, mas conseguíamos descansar quando dava. A exaustão ajudava muito, mas também era bom para mim não ficar confortável demais, mantinha minha guarda alta, eu entendia mais rápido quando era real e quando era sonho. Se não tem conforto eu não relaxo o bastante, se não relaxo o bastante eu não fico susceptível a sonhos ruins.
E - E isso realmente te ajuda ?
H - Algumas noites são melhores que outras.
E - Bom, é um começo.
FLASHBACK OFF
Agradeci mentalmente por todas as vezes em que ela fazia parecer que eu estava progredindo em lidar com tudo. Eu sabia que não estava, não como ela dizia, mas era bom ver que ela reconhecia meu esforço, especialmente depois da segunda semana de seções, quando não consegui nem entrar na sala dela sem me sentir presa ao lugar. Desde então, Emma tem se esforçado para variar nossos cenários e metodologia de conversa. Foi durante uma madrugada cozinhando os doces do café da manhã que consegui contar a ela sobre meu constante medo de abrir os olhos sempre que acordo e perceber que eles não estão lá, embora ela tenha parecido menos chocada do que achei que fosse ficar. Como ela não conseguia me acompanhar numa corrida matinal, foi durante uma tentativa frustrada de yoga que comentei sobre o episódio com o motor do caro da Lizzie, confirmando minhas suspeitas de que ela já sabia. Não fiquei irritada com a Lizzie, sei que ela fez fofoca pensando no meu bem, mas reacendi meu alerta de confiança, eu precisava e iria ter total controle das coisas que queria ou não que todos soubessem sobre mim. O ponto é que eu estava conseguindo me abrir, mesmo que fosse no meu ritmo, e estava gostando disso.
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O Que Restou de Mim
FanfictionDepois de ceder ao orgulho e respeito pela decisão de Landon, Hope se vê em um novo momento da vida no qual se permite explorar possibilidades. Enquanto vive o fim de uma aventura tentando preencher os espaços vazios, a tríbrida vai acabar encurrala...