O SILÊNCIO DOS INOCENTES

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POV LANDON

Hope e eu tivemos uma tarde tão perfeita que nem ter que passar três dias confinado no limbo me deixou desanimado. Finalmente conseguiria ver a Freya e dar continuidade à missão de recuperar minhas emoções. Eu tinha feito muito progresso e estava animado para contar tudo a ela, pelo menos foi o que eu achei que faríamos quando apareci em sua sala antes de perceber como ela estava abalada.

LA – Acho que não vai ser um bom dia para pesquisas, certo ?

F – Landon. Não, não se preocupe.

LA – Essa é a frase menos útil que você poderia usar para não me deixar preocupado. Aconteceu algo ? Hope está bem ?

F – Para ser sincera, eu não sei. Não consigo falar com a Hope desde a noite de sábado.

Freya me contou o que aconteceu quando a Hope voltou para a escola depois do nosso encontro. Enquanto ouvia seu relato, sentia uma massa de angústia se formar na minha garganta, se fosse possível, podia jurar que me senti igualmente irritado por ela ter sido novamente enganada, invadida. Não sei o que havia naquele maldito diário, mas podia imaginar como a Hope ficou mal por saber que todos em quem ela confiava tiveram acesso aos seus momentos de maior desespero.

LA – Não podiam ter feito isso com ela. – Disse educadamente indignado.

F – Eu sei que não, por isso queria conversar e acertar as coisas. Ela estava indo tão bem nas seções de terapia, e agora sinto que voltamos à estaca zero.

Entendia sua frustração, como alguém que passou anos se sentindo na estaca zero, se eu me visse numa situação em que perco todo meu progresso por culpa de pessoas que sequer tinham a intenção de me fazer mal, também ficaria muito frustrado. Durante dias, Freya e eu pesquisamos e testamos hipóteses que explicassem o motivo de eu não sentir nada. No fim, ela levantou a possibilidade de o que me impede de sentir seu eu mesmo. Segundo sua teoria, o limbo cobrava o preço por ter suas regras quebradas, mas eu era o senhor do Limbo agora, podia mudar as regras. Talvez a razão para que eu não sentisse nada fosse eu acreditar que não poderia, pelo menos lá. Isso fez mais sentido ainda quando relembrei os momentos que tive com a Hope, como me diverti, como o sofrimento dela forçava a parede que impedia o meu. Aparentemente, pelo menos nessa dimensão, eu só tinha que encontrar a emoção forte o bastante que destravasse as outras. Por isso ela me fez falar tanto da Hope e dos nossos momentos mais felizes, por isso estava animada com nosso encontro e os efeitos que ele teria sobre mim. Sua teoria ganhava mais força à medida que ela me contava sobre a discussão que fez a Hope se isolar na floresta de novo. Era como se alguém estivesse dando marteladas na armadura fria que mantinha minhas emoções enclausuradas, provocando rachaduras que me permitiam acessar meus sentimentos todas as vezes que não estava no meu mundo fantasma.

LA – Vou tentar falar com a Hope, tenho uma ideia de onde ela pode estar agora e, provavelmente, talvez tenha mais sucesso que vocês.

F – Se conseguir, por favor diga a ela que não nos afaste de novo. – Pediu receosa.

LA – Não se preocupe, vou puxá-la de volta e vamos mantê-la por perto dessa vez. – Disse antes de desaparecer.

Nem a versão mais otimista de mim esperaria encontrar a Hope tão calma e bem. Apareci no velho moinho e, ao me deparar com uma seção importante de concentração, resolvi observar em silêncio.

H – Posso ouvir sua respiração. – Comentou tranquilamente ainda de olhos fechados.

N – Eu não sabia que tinha que respirar mais baixo. – O menino respondeu impaciente.

H – Não era de você que estava falando. – Disse antes de abrirem os olhos juntos e me encararem.

Conhecia aquele garotinho, era o filho da Freya. Reconheci-o por já tê-lo visto em um meet bruxo com a mãe durante uma das nossas sessões de estudo. Ele não me via, claro, mas isso não era o que importava agora.

O Que Restou de Mim Onde histórias criam vida. Descubra agora