cap. 3 (parte 2): Uma pequena ajuda

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Marquei com Evan para o dia seguinte em minha casa, no período da manha. O rapaz pareceu bem empolgado em conhecer minha inusitada hospede. Me despedi dele e fui para casa, chamei um taxi dessa vez pois já estava tarde, na manhã seguinte já iria pegar Duapen cedinho na oficina.

Cheguei em casa já acendendo as luzes, fui até a cozinha e não me surpreendi a encontrar Mon ao lado da geladeira, parecia que me esperava.

-Olá invasora, como foi seu dia? Conseguiu descobrir algo sobre mim afinal de contas? - Ela insistia em me chamar de invasora, mas eu já estava acostumada com o seu humor ácido.

-Bem Monmon, eu não descobri nada ainda, mas meu amigo Baylei ficou de me passar mais informações sobre quem colocou o apartamento para alugar. Além disso eu conheci alguém que pode nos ajudar também, amanhã ele vem para tentar se ''comunicar'' com você. Disse essa última parte fazendo sinal de aspas com as mãos, o que fez Mon. revirar os olhos.

-Se você quer dessa forma Sam, eu concordo. - Agora ela parecia mais serena, Mon. andou até a sala e sentou-se no sofá em frente a mesinha de centro que já estava toda marcada pelos meus copos de whisky.

-Vamos conversar Sam, me conte mais sobre você... além de ser uma mulher muito bonita e, pelo que percebi, solitária. O que você costuma fazer quando não está falando com um fantasma?

-Obrigada pelo elogio Mon, mas devo corrigir você em um ponto; eu não sou solitária... aconteceram algumas coisas e estou reestruturando minha vida. E tem mais, para provar que não sou essa pobre coitada que você deve estar imaginando, vou sair! Hoje vou beber fora... e você vai comigo! Você disse que só vive quando está comigo, então vamos sair. Quem sabe no caminho você lembra de alguma coisa. - Percebi que ela se assustou um pouco com minha iniciativa, mas não relutou. Peguei minha bolsa e ao sair senti a presença de Mon ao meu lado, era estranho, mas agora eu conseguia sentir seu perfume?, uma delicada fragrância floral e doce inundou minhas narinas quando ela movia mexendo em seus cabelos. Era como se ela estivesse mesmo ali em presença humana, ela é linda e a presença dela me trás alívio. E agora sei que ela pode me acompanhar fora do apartamento.

Saímos do prédio andando lado a lado e chegamos ao pequeno bar há duas quadras de minha casa. Cheguei no balcão e pedi uma dose de vodca ao barman.

-Acha mesmo que deve beber essa hora Sam? Em pleno domingo à noite? - Mon me questionou, mas seus olhos não eram de raiva e sim de uma terna preocupação, percebi que suas mãos estavam próximas as minhas, mas não me tocavam, eu não tinha tentado toca-la pois sabia que não seria possível, afinal ela era um ''espirito não é mesmo''.

-Não vejo problema Mon, vou tomar somente uma mesmo para aquecer está bem. – Disse baixo em sussuro para que ninguém ouvisse e dei uma piscadinha discreta em sua direção e ela sorriu. Que sorriso. Assim que senti a dose descer pela minha garganta a bebida me aqueceu de imediato.

POV MON

Eu tinha saído do apartamento, seria a primeira vez que eu fazia isso, já que não conseguia me recordar de nada e toda vez que Sam saia tudo virava um borrado. Eu estava agora em uma situação um tanto estranha, em um bar ao lado de Sam e lá eu sabia que apenas ela estava me vendo. Era estranho não ser vista, eu me sentia viva, mas não sabia se estava. Agora sentada nesse bar as coisas ficam mais confusas mas pelo menos dessa forma  senti menos receio em admira-la enquanto, ela estava com seus olhos fechados após beber de uma vez só o conteúdo de seu copo. Sam era linda, sua presença me trazia paz, era diferente a intensidade que me sentia conectada a ela, tinha que ter um propósito, e confesso que eu gostava que fosse ela, a beleza dela era diferente eu sentia uma vontade enorme em acariciar seus longos cabelos castanho escuros.

Em um instante nós duas nos assustamos quando um homem em uma das mesas caiu, ao seu redor se formou uma pequena multidão de pessoas e cheguei mais perto para observar e saber o que estava acontecendo. O homem parecia estar passando mal e de imediato, mesmo sem saber direito de onde me veio aquela ideia, chamei Sam e comecei a lhe dizer instruções que iam surgindo em minha mente como um instinto.

-Sam, peça rápido para todos se afastarem e peça ao barman uma garrafa fechada de vodca e uma faca bem afiada. - Percebi que Sam não estava entendo mas fez o que eu pedi sem me questionar. Logo o Barman trouxe a garrafa e a faca e entregou a Sam.

-O que eu faço agora? Ela me perguntava totalmente perdida. –Confere se o peito dele está inchado, acredito que seja um pneumotórax de tensão. - Sam me olhou incrédulo mas conferiu o peito do homem, abriu sua camisa e me olhou. –Agora joga vodca nesse local aqui próximo a segunda costela, e faz uma pequena incisão.

-O QUEE? Não eu não posso cortar esse homem! - Agora Sam estava pálida e tremendo de medo. –Sam, tenha calma está bem! Se você não fazer isso ele vai morrer antes da ambulância chegar.  - Depois que falei isso ela pareceu entender, fechou os olhos e apertou a ponta da faca onde eu indiquei antes.

-Muito bem Sam, agora tira o bico da garrafa e coloca na incisão! - A essa altura Sam já estava mole mas fez esse último ato e assim que posicionou o bico da garrafa o homem voltou a respirar.

Todos ao redor bateram palmas para Sam que já estava em pé se direcionando a porta. Já no lado de fora do bar encontro Sam sentada no meio fio ainda com uma expressão de susto, eu estava tão feliz que tinha acabado de me lembrar de algo sobre minha vida que por um instante esqueci que ela estava apavorada.

-Sam! Eu lembrei que sou medica, lembrei do hospital em que eu trabalhava, precisamos ir até lá Sam, eu preciso me lembra de mais sobre mim. - Nesse momento o Sam me olhou com um misto de alivio e alegria, ainda que seu rosto estivesse levemente esverdeado de náusea ela ainda estava linda.

-Estou muito feliz por você MonMon, mas vamos deixar para amanhã essa ida ao hospital está bem?! Eu realmente já vivi muita coisa por hoje e estou segurando para não colocar a vodca que bebi a pouco pra fora. - Eu ri quando ela disse a última parte e aceitei deixar para o dia seguinte nossa visita ao hospital Nort West, Sam já estava me ajudando muito e eu já nem sabia como agradece-la.

Andamos lado a lado em direção a ''nosso'' apartamento, e em alguns momentos sentia vontade de tentar tocar suas mãos de Sam, admirei de forma discreta as curvas de seu corpo. Sam estava usando calça jeans preta e uma camisa branca levemente transparente, estava com maquiagem leve e usando seus óculos que lhe deixavam com um ar mais sério e seus cabelos estavam soltos, todos esses momentos em que estive ao lado de Sam já não conseguia negar que eu estava muito atraída por ela, mas também estava sentindo algo novo que não conseguia explicar ainda. Ela parecia uma mulher incrível, e mesmo que não soubéssemos muito uma sobre a outra eu não conseguia evitar de ficar perto dela. Eu queria senti-la. Mas havia apenas um pequeno detalhe, não é mesmo?


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