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Não existe coisa melhor do que acordar espontaneamente, sem o som de um despertador ou sem a voz de alguém gritando seu nome e falando que você se atrasará para o café da manhã caso fique mais dois minutos na cama. E esse é o tipo de coisa que Ravena sempre apreciou em sua vida. Ela acordava bem por não ter nenhum tipo de estresse logo cedo e seus amigos nunca gritavam ou colocavam despertadores ao seu lado – eles preferiam guardar isso para Mutano que tinha o sono mais pesado de todos na Torre.

No início, os outros Titãs achavam estranho saber que ela acordava antes do dia amanhecer, mas se acostumaram com o tempo e aprenderam que, se ela dormisse até mais tarde, aí sim as coisas estariam muito erradas. Em Azarath não era diferente e ela acordou assim que escutou o canto do primeiro pássaro que passou pela janela do quarto, sentando-se calmamente na cama e espreguiçando-se para sentir os efeitos da massagem maravilhosa que havia recebido de Mutano.

Saiu da cama devagar e foi para a sacada, sentando em sua tão conhecida posição de lótus. Flutuou a cerca de um metro do chão e fechou os olhos, cantando seu mantra repetidamente, enquanto sentia seu corpo e mente entrando em um consenso de calmaria e aceitação. A cerimônia havia mexido muito com ela e, mais do que isso, com suas emoções, que quase entraram em desespero por vários motivos que não se resumiam apenas a tradição que finalmente fora cumprida.

- Você está feliz? – Conhecimento perguntou a Ravena assim que a viu chegar em Nevermore. – Conseguiu cumprir a tradição e não corre mais risco de virar estátua. Estamos todas livres e plenas.

- Estou – Ravena respondeu, vendo a Emoção sorrir. – Está tudo bem por aqui?

- Nada diferente do normal.

- Tem certeza?

- Por que eu não teria?

- Eu não sei.

- Você sabe.

Ravena assentiu e suspirou, olhando para as outras emoticlones que a compunham. Felicidade estava dançando e rodopiando perto de algumas flores; Bravura lutava com vento, gritando incentivos que pareciam mais xingamentos; Rude estava deitada em um tronco, com um dedo enfiado no nariz para tirar meleca. Vez ou outra ela conseguia uma grande e sorria antes de colocá-la na boca e estalar os lábios; Timidez estava ao lado de Afeição, conversando baixinho com a irmã, que mantinha um sorriso enorme no rosto; Raiva estava acorrentada, cabisbaixa e calada. Nem a presença de Ravena foi o bastante para fazê-la gritar e xingar.

- Por que ela está tão quieta? – a empata perguntou, preocupada.

- Ela não tem motivo para fazer escândalo. – Conhecimento deu de ombros.

- Isso tem a ver com a conversa que vocês tiveram com Azar?

- Também. Conversar com Azar é sempre bom. Você sabe como ela sempre consegue nos acalmar.

- Sim. Foi uma conversa tão produtiva assim?

- Creio que sim. Nós precisávamos de alguém que nos ouvisse já que você não o faz mais com tanta frequência.

- Você sabe que não tenho tempo.

- Se você não tem tempo para o que está sentindo, então não pode ter tempo para mais nada.

- O que você quer dizer?

- Você passou por várias coisas durante esse mês, e as coisas aqui não estão iguais. Olhe em volta, Ravena, você não consegue perceber as mudanças?

- O seu está escuro e tempestuoso – ela percebeu. – E a grama está meio morta. O que significa?

- O que significou da última vez?

December GirlOnde histórias criam vida. Descubra agora