A gosma que Silkie soltava ao andar pela Torre não incomodava Estelar, pelo contrário, ela fazia questão de limpar a sujeira que seu bichinho de estimação fazia, desde que pudesse continuar cuidando dele. Pegou um rodo e um pano de chão no banheiro de seu quarto, limpando a gosma esverdeada que manchava seu carpete cor-de-rosa. Levou Silkie para sua caminha e pediu que ela ficasse quieta até que a limpeza estivesse concluída. Estranhamente, sua ordem foi firmemente obedecida e o bichinho acabou caindo no sono antes que sua dona pudesse terminar o trabalho.
Estelar guardou os itens que havia usado e fechou a porta do banheiro, passando as mãos por seu longo cabelo vermelho, ajeitando alguns fios que tinham saído do lugar. Asa Noturna, que estava sentando em sua cama, arriscou olhar para a amiga, corando furiosamente assim que seus olhos percorreram os mínimos detalhes do uniforme revelador que ela usava, destacando suas belas curvas e sua pele que parecia ser tão sedosa quanto um tecido fino.
Ele pigarreou alto e ajeitou a máscara no rosto, encarando as próprias mãos. Estelar sentou-se ao lado dele, cruzando os braços e recostando as costas na cabeceira da cama, esperando pacientemente que ele estivesse preparado para falar.
A amizade deles tinha crescido ao longo dos anos, e o beijo em Tóquio acabou sendo esquecido por ambos, que criaram um vínculo que só melhores amigos possuíam. Vez ou outra, eles se lembravam desse pequeno detalhe e riam de um jeito completamente sem graça, voltando ao combinado de não tocar mais no assunto que os assombrava no meio da noite.
Tinha mesmo sido só um beijo? Eles eram novos quando aconteceu, praticamente crianças, mas tinham sido marcados por isso. Era impossível esquecer.
Os anos tinham passado e eles descobriram um no outro a força necessária para fazer qualquer coisa. Não existiam segredos entre os dois e, por mais que Cyborg e Mutano falassem que eles tinham alguma coisa "a mais", Asa Noturna e Estelar recusavam-se a dar crédito às provocações, cientes de que eram apenas amigos e nada mais.
- Eu não sei o que fazer – Asa Noturna suspirou, balançando a cabeça. – Não falam de outra coisa na TV, nós somos o assunto principal e a cada minuto que passa a situação piora.
- Você não pode fazer nada, amigo Dick – Estelar olhou para ele, falando baixinho. – Os jornalistas estão fazendo de propósito e todos nós agimos de um jeito horrível ontem.
- Nós só estávamos defendendo um amigo!
- Sim, cometendo os mesmos erros que ele.
- Eles não nos deram outra escolha, Kori!
- Eu sei, e também não gosto desses homens com câmeras e frases maldosas. Eles me assustam e gritam perguntas sempre que chegam perto de mim. Não gosto disso.
- Tentei falar com o delegado hoje mais cedo, mas ele disse que não pode fazer nada. Os jornalistas têm liberdade de expressão, é um direito de qualquer pessoa. Não podemos proibi-los de falar sobre nós.
- Nem quando eles inventam mentiras?
- Não.
Estelar suspirou e colocou as pernas em cima da cama, esfregando os pés nos de Asa Noturna, fazendo-o sorrir de lado. Ele passou o braço esquerdo pelos ombros dela e olhou dentro de seus olhos verdes, admirado com sua beleza.
- Como o amigo Gar está?
- Não sei, ele ainda não acordou.
- Ele não tomou café da manhã?
- Acho que não.
- Eu odeio vê-lo assim.
- Eu também, mas não consigo parar de pensar que ele procurou por isso. Brigar em um bar por causa de um comentário maldoso? É ridículo, Kori! Às vezes parece que ele ainda tem 16 anos.
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December Girl
RomanceToda história tem duas versões, dois lados, mas isso não significa que a verdade é o que prevalece. Boatos podem ser terríveis e cruéis, e, mesmo que alguns sejam verdade, os falsos se sobressaem, causando certos problemas na vida de suas vitimas. ...