Pov. Josh Beauchamp
Mamãe está sentada olhando para mim diante do espelho com uma rachadura grande.
Escovo seu cabelo. É macio e tem cheiro de mamãe e mel.
Ela pega a escova das minhas mãos e enrola no cabelo. Fica parecendo que tem uma cobra estranha nas costas magras.
Alguns fios caem no chão, mas não nos importamos.
Pronto, diz ela.
Então se vira para mim e sorri. Gosto do seu sorriso. Quando não está tão melancólico ele exala vida.
Hoje, ela está feliz. Porque ele não está em casa.
Gosto quando mamãe está feliz.
Gosto quando ela sorri para mim e para minha pequena irmã.
Ela fica tão bonita quando sorri.
Vamos fazer uma torta, boo bear.
Torta de maçã.
Gosto quando mamãe cozinha.Acordo de repente com um vago aroma doce invadindo minha mente. É Noah. Pisco os olhos devagar e logo os coçando, depois encarando a grande janela que havia em meu quarto. O céu já anoitecido está coberto por nuvens carregadas e relâmpagos que iluminam o ambiente vez ou outra. Voltei a olhar para o teto e respiro profundamente, me sentindo pensativo e um tanto nostálgico.
Fazia um longo tempo que eu não sonhava com a minha mãe. Apesar de nem mesmo lembrar direito dos detalhes de seu rosto, na maioria das vezes. Sendo sincero, só sonho com ela quando algo bom está acontecendo em minha vida. Ou, quando eu estou, de algum modo, feliz. O que é uma coisa muito rara de acontecer, já que normalmente eu sequer sinto algo além de um vazio. Mas, quando isso acontece, é como se minha mãe apenas viesse em meio aos sonhos conferir se estou mesmo bem. Ela sempre odiou me ver triste.
Mas, e agora? Eu... eu estou feliz, mamãe?
Com muito cuidado viro-me para o outro lado da cama, fazendo que eu fique de frente para Noah, e o observo dormir tranquilamente a apenas poucos centímetros longe de mim. Ele está todo enrolado no meu edredom, deixando-me descoberto quase por completo. Parecia um bebê muito adorável, com somente a cabeça para o lado de fora. Um meio sorriso cresce em meus lábios com aquela visão fofa. Expiro o cheiro suave e doce que emanava, doce como um chocolate. Gosto de chocolate. E gosto de Noah.
Seus cabelos castanhos estavam espalhados pelo travesseiro abaixo da sua cabeça e alguns dos fios quase chegavam a tocar em minha face. As maçãs do seu rosto estão coradas, lembrando-me vagamente a flor Hortênsia da cor rosa, e as poucas sardas espalhadas nas bochechas eram como um céu de uma noite estrelada. Sentindo-me hipnotizado, lentamente ergo a mão na direção do seu rosto e toco-o com as pontas dos dedos delicadamente para não o acordar. Lembro-me de como ele me fez carinho algumas vezes e tento imitar seus gestos. Passo o polegar sobre sua bochecha, raspando-o suavemente na pele, totalmente encantado com a visão que estou tendo.
Sua respiração é baixa, às vezes chocando-se contra meu rosto por estarmos perto um do outro. Sinto meu corpo e coração relaxados, tudo muito sereno e calmo. Noah está aqui comigo. Sua presença me traz sensações boas e desejáveis. Ele me faz sentir que não estou sozinho... e isso é bom. Recolhi a mão devagar, mas sem parar de olhá-lo em nenhum segundo.
- O que você está fazendo comigo, meu doce? - Sussurro baixinho. Encaro com total atenção cada pequeno detalhe extraordinário que seu rosto adormecido carregava. - Às vezes... isso me deixa tão confuso. - Continuo suspirando fracamente. - Porque eu não sei o que significa. - Abaixo o olhar. - Nunca tive alguém que me explicasse.
Depois de um tempo volto a deitar-me na cama de barriga para cima, olhando para o teto e divagando sobre aqueles novos sentimentos que eram desconhecidos para mim. Então, a lembrava da sensação ruim que senti ao vê-lo dançando com outro me vem na cabeça. Eu não sei o que era aquilo, mas sei que odiei bastante. Odiei ver outra pessoa tocando na sua cintura. Odiei ver outra mão, outros dedos, mexendo nos seus cabelos com devoção. Odiei que poderia perdê-lo para outro. Odiei. Odiei. Odiei.
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Fifth Shades of Blue - Nosh Version
FanficQuando Noah Urrea vai à entrevista para ser o secretário do jovem bilionário e CEO Joshua Beauchamp, não imaginaria que iria se atrair tão facilmente por aqueles olhos azuis frios e vazios. Muito menos esperava que seria algo recíproco, apesar da di...