Capítulo 23

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Por algum motivo, o momento de tensão no quarto se dissipara completamente quando Nicolas me pegou nos braços e, enquanto ele me levava, senti o calor do seu corpo me envolver e adormeci.

— Não acho que esse seja o caso!

— Você não é o único que sabe das coisas agora!

Acordei tarde da noite com uma discussão acalorada perto dos meus ouvidos. Annie e Nicolas pareciam estar discutindo sobre alguma coisa. Abri meus olhos levemente, vendo Annie balançar um disco na mão em frente à cama e Nicolas estava sentado na beirada inferior, de costas para mim.

— Este não é o melhor álbum — rebateu Nicolas.

— Na verdade, este é o melhor álbum sim — forcei-me a sentar enquanto respondia a essa questão. — Pelo menos para mim.

— Viu? — Annie deu um sorriso triunfante e veio saltitando até mim. — As letras são muito mais profundas. Você parecia mais inspirada, Lisa.

— Me desculpe! Te acordamos? — Nicolas não estava mais preocupado em discutir sobre os álbuns. — Devíamos ter conversado mais baixo.

— Eu já ia acordar ela mesmo. — Annie correu para fora do quarto e voltou instantes depois com um copo de água e alguns comprimidos. — Hora do remédio.

— Obrigada! — disse a ela pouco antes de enfiar os comprimidos goela abaixo.

— Passei na casa da sua avó como você pediu. Suas coisas estão todas no armário, mas se precisar de algo, me avise que eu pego para você.

— Obrigada! — sussurrei novamente. Eu não me sentia só, não me sentia mais tão perdida quanto estava quando cheguei aqui. — Vou te recompensar devidamente depois.

— Não precisa! — Annie disse-me enquanto baixava o olhar timidamente, suas bochechas corando tal qual a primeira vez que falou comigo.

— E aquele autógrafo que me pediu? Não quer mais?

— Não! Isso eu quero!

Ela pegou novamente o CD e uma caneta própria e escrevi na capa do disco: "Para minha melhor amiga, Annie. A música é o som do coração e a amizade é como um instrumento que dá vida a essa música. Com amor, Lisa!"

— Adorei! Lisa, Te amo! — Num ímpeto de empolgação, ela acabou se jogando para um abraço apertado.

— Ei, vai com calma! Ai!

— Já chega! — Nicolas a puxou de cima de mim. — Será que agora pode me deixar um momento a sós com ela.

— Desculpe, me empolguei. Lisa, você quer falar a sós com ele?

— Annie, me chame sempre de Eliza, por favor. Lembra que isso é para ser um segredo. E sim, gostaria de conversar com ele um pouco a sós, por favor.

— Se precisar de qualquer coisa é só me chamar — disse-me, antes de sair do quarto.

— Desculpe por não ter atendido aquela ligação. Se eu soubesse antes, poderia ter ajudado também. — Ele se posicionou na cama ao meu lado, fitando-me diretamente nos olhos enquanto falava.

— Não se preocupe, você não é responsável por mim, e eu entendo que você também tem suas próprias coisas para fazer.

Ele permaneceu em silêncio. Parecia perturbado com algo. Em seus olhos, havia uma mistura de culpa e irritação, e, por um breve instante, parecia que eu estava me vendo no espelho. Foi então que compreendi o que tinha acontecido.

— Você estava em um encontro com a Lorraine?

— Como você...? — Ele não terminou a pergunta. Estava atordoado demais pelo fato de eu ter lido através de sua alma. — Não foi bem um encontro. William te contou sobre Lorraine e eu?

— Sim, e parece que é por isso que ele não quer que a gente se veja e que sejamos amigos. Ele acha que estou dando motivos para você se interessar por mim e rejeitar a sua companheira.

— Que idiota! — resmungou para si mesmo, alto o suficiente para que eu ouvisse. — Ele não tinha o direito de te dizer nada.

— O que está acontecendo? — perguntei seriamente. — Você encontrou sua companheira, certo? Agora ela sabe que você também é o companheiro dela, então por que não estão juntos?

— É uma longa história...

— Estou toda ouvidos. — falei, cruzando os braços e aguardando que ele começasse.

— Não sou bom com histórias. — Ele suspirou fundo como se tivesse dúvidas, mas decidiu continuar. — Bullying... é isso que recebi de Lorraine quando eu era criança. Eu era gordinho e desajeitado e ela sempre debochava e pregava peças em mim. Desde que conheço Lorraine, ela sempre foi mimada, prepotente, arrogante e, a meu ver, desprezível. Ela e suas amigas só pararam de me perseguir quando começaram a ter mais noção sobre status e posições na sociedade, mas esse comportamento desprezível não acabou, apenas foi redirecionado para classes menos favorecidas. Sempre pensei comigo mesmo: "Coitado do cara que for o companheiro dela!" Acontece que esse cara acabou sendo eu, e eu não consigo aceitar isso.

— Mas ela pode mudar, certo? — ponderei.

— Pau que nasce torto cresce torto, então não sei se é possível. Quando fui me encontrar com ela ontem para esclarecer essa questão sobre nós e como eu me sentia em relação às atitudes e à forma de ser dela, ela me disse isso, que ia mudar. Então eu disse que se ela realmente pudesse fazer isso, eu a aceitaria. Agora vamos ver o que acontece.

— Entendo. — Ele resolveu dar o benefício da dúvida a Lorraine, o que era admirável. Até onde sei, Lorraine nunca rejeitou e maltratou Nicolas depois que soube, na verdade, ela era uma das admiradoras dele e da banda desde antes de despertar a loba dela.

— Você faria o mesmo? Acha que fiz certo? — perguntou-me com os olhos atentos a mim. Eu não poderia dizer que faria o mesmo. William me rejeitou e me maltratou sabendo, então nossos casos eram completamente diferentes. Meu caso podia não ter mais solução, mas o dele... — Se eu estivesse no seu lugar, eu faria o mesmo. Lorraine pode não ter a melhor personalidade do mundo, mas não acho que seja uma pessoa má.

Se ele a aceitasse, talvez William parasse de me proibir de ser amigo dele. Talvez tudo ficasse mais fácil...

— Eliza, não importa o que William pense ou o quanto ele queira proteger a "amiguinha" dele, não vou deixar de te ver. Se não estou com a Lorraine, não tem nada a ver com você, mas sim com ela mesma, então não tenha medo de ser minha amiga.

— Eu não tenho — falei com sinceridade enquanto sorria para ele, encorajando-o. É como ele disse, nossa amizade cabia somente a nós dois e não a outros que não podiam nos ver de verdade e nos compreender. O único que poderia desfazer essa amizade seria o próprio Nicolas, se ele o quisesse, e, somente assim, eu deixaria de vê-lo. 

Destino: O herdeiro Alfa (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora