Capítulo 28

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Ele não disse nada durante o percurso de volta, tampouco mostrou sinais de arrependimento. Assim que paramos, saí do carro apressadamente sem olhar para trás. Não dava mais tempo de comer algo antes, em vez disso, tive que correr até o ringue para chegar a tempo para o torneio.

"Tenho dó das suas adversárias de hoje!", disse minha loba em tom sério. Ela sabia bem que toda essa raiva dentro de mim seria descontada nas minhas adversárias.

Apertei meu quimono branco usando uma faixa cinza simples que tinha à disposição no vestuário. Ela não me correspondia, já que quando saí de Heington eu já era faixa roxa, mas eu não a trouxe quando me mudei. Arranquei meus sapatos jogando-os de qualquer maneira dentro do armário e comecei a me alongar. Assim que pisei no tatame, notei uma imensa plateia ao redor, observando o duelo que já estava se encerrando.

— Eliza! — chamou a professora assim que me viu. — Onde estava? Achei que não chegaria a tempo. A próxima é você!

Assenti para ela e tomei posição. Minha primeira oponente vinha de um colégio de um vilarejo vizinho. Tinha um corpo robusto e musculoso, e os cabelos castanho claros estavam cortados bem curtinhos. Usava uma faixa verde. Ela me encarou com um sorriso presunçoso enquanto eu ouvia uma conversa de dois rapazes não tão longe na primeira fila da plateia.

— Coitadinha, ela parece tão magrinha e delicada.

— Talvez fosse melhor ela desistir. Seria uma pena se nossa campeã estragasse seu rostinho lindo.

— Nossa, ela deu azar de pegar a mais forte logo de cara.

Azar? Bloqueei a super audição da minha loba percebendo que era melhor não saber o que o público dizia. Eu mostraria a eles pessoalmente quem é que tinha dado azar. Assim que a partida foi autorizada pelo árbitro, parti para cima da oponente e com um movimento rápido e preciso, derrubei-a no chão. Ela rapidamente se reergueu só para ser mandada para o chão mais uma vez. Rapidamente a imobilizei com tanta força que ela não teve escolha a não ser desistir antes que eu quebrasse o seu braço.

Assim que o árbitro declarou minha vitória, levantei-me e observei novamente a reação do público. Em meio a uma multidão de rostos sérios, ouvi meus amigos gritando pelo meu nome no canto superior direito. Acenei para eles sorrindo. Realmente, a banda inteira estava lá dessa vez. Quando percebi que além deles também havia outras pessoas do colégio torcendo por mim, não acreditei. Dezenas de rostos desconhecidos me aplaudiam de pé e gritavam o meu nome.

"Essa era a candidata mais forte? As outras estão ferradas!", minha loba sorria comigo. De fato, o desenrolar das partidas foi tão fácil que não precisei me esforçar muito. Algumas claramente utilizavam seus lobos também para força e agilidade, mas com a pouca técnica que tinham, iam para o chão rapidamente.

Assim que finalizei com a última oponente, percebi que a plateia de torcedores só havia aumentado. Deixei o ringue ouvindo meu nome ser ecoado ao fundo, e senti a mesma sensação que tinha como Lisa quando deixava o palco após os meus shows.

O vestiário estava cheio. Senti muitos olhares sobre mim, mas não me virei por nenhum instante, apenas concentrei-me em pegar minhas coisas e sair dali. Segui pelo corredor movimentado até encontrar uma brecha para fora do ringue, mas inusitadamente fui pega de surpresa em um abraço apertado.

— Amiga! Você é incrível! — Annie me pegou de jeito e não foi a única.

— Olha só nossa musa! Caramba, você luta muito! — disse Maxsuel colocando a mão no meu ombro direito.

— Caramba, a humilhação foi demais. Você é profissional em jiu-jitsu? — perguntou Jonathan, que permaneceu a uns passos de distância numa atitude menos invasiva.

— Parabéns, Eliza! — entoaram Liam e Nicolas em conjunto, ganhando proximidade e oferecendo apertos de mão. Retribuí os apertos com uma sensação gostosa de acolhimento, o que aqueceu meu coração.

— Obrigada, pessoal! Só treinei jiu-jitsu um pouco mais do que outros esportes... — respondi dando de ombros. Embora tenha ganhado em minha categoria o campeonato nacional nos últimos anos em que participei, não considerava isso algo para me gabar. Mesmo tendo evitado usar os poderes de Lisa nos campeonatos, só o fato de tê-la comigo já tornava o torneio injusto, uma vez que eu lutava contra simples humanos.

— Você é realmente impressionante! — falou-me Nicolas com um sorriso encantador.

— Não vai tirar o quimono? — perguntou-me Annie, apontando para a minha vestimenta.

— Vou me trocar no banheiro do colégio. O vestiário aqui está um pouco cheio.

O clã Siram era composto por oito escolas, sendo três na cidade sede do clã e os demais em vilarejos próximos. Como nosso colégio era o mais estruturado, todos os demais se deslocavam até aqui, tornando a semana cheia e agitada. Ter muita gente na área tinha seu lado bom. Dava para dar uma escapada mais facilmente sem ser notado.

— Pretendo sair depois para comer em algum lugar mais calmo — acrescentei.

— Eu posso ir com você? — Annie perguntou timidamente, apertando as mãos uma contra a outra enquanto me encarava com um olhar suplicante.

— Claro! Todos vocês podem... se quiserem, é claro.

— Acho que...

— Vamos ver o restante das partidas de hoje — Liam interrompeu Maxsuel. — Podem ir vocês duas. Divirtam-se!

Maxsuel parecia querer abrir a boca, mas antes de dizer qualquer coisa, recebeu um cutucão de Nicolas.

— Vamos voltar para o ringue. Divirtam-se! — reforçou Nicolas, puxando Maxsuel consigo.

Estava claro que havia algo mais nessa história. Franzi a testa enquanto os observava se afastando e então desviei o olhar para Annie, que encarava o chão com certo nervosismo.

— Vamos? — falei a ela suavemente. Seja lá o que tivessem em mente, eu não queria deixar Annie mais ansiosa. Se algo estivesse errado, ela diria na hora certa.

Destino: O herdeiro Alfa (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora