Nossas famílias eram amigas, então desde sempre tive que conviver com Niki. Éramos como óleo e água, sempre colidindo e provocando faíscas de conflito. Na escola, éramos a personificação do conflito. Eu sou uma pessoa intensa e apaixonada por literatura, alguém que encontra refúgio nas páginas de um bom livro e acredita que as palavras têm o poder de transformar o mundo.
Já o Niki é um cético irônico, que prefere o mundo real e prático, rindo das minhas paixões literárias e me chamando de sonhadora. Por mais que nossos pais tentassem nos aproximar, sempre acabávamos discutindo.
- Caramba, Niki, você sempre teve que estragar tudo, não é? - eu digo, irritada, enquanto ele revirava os olhos.
- Eu não estou estragando nada, Sn. Você é que vive num mundo de fantasias, e alguém precisa manter os pés no chão. - respondeu com seu tom irônico, que sabia que me irritava.
Essa dinâmica seguiu por anos. Nossos encontros nas reuniões familiares eram tensos, e as brigas frequentes. Mas, apesar de tudo, algo me intrigava em Niki. Ele era apaixonado por dança, e seus olhos brilhavam quando falava sobre suas coreografias. Nunca tinha percebido esse seu lado.
Numa dessas tardes quentes de verão, nos encontramos sozinhos na casa dos meus avós. Eu estava sentada à sombra de uma árvore, folheando um livro empoeirado, que havia pego em uma estante qualquer da casa. Vi, Niki, me olhar de longe e revirar os olhos, mas isso não o impediu de se aproximar.
Niki: O que você tanto vê nesses livros chatos? - pergountou se sentando ao meu lado.
Sn: Não são chatos, Niki. Eles têm histórias incríveis e mundos inteiros para explorar. Você só precisa dar uma chance.
Entreguei o livro que eu estava lendo para ele. Para minha surpresa, e para a dele também, ele realmente estava envolvido na história. Conversamos por horas, trocando opiniões sobre os personagens e as tramas.
Os anos passaram e o nosso relacionamento começou a mudar. As discussões continuavam, mas nossas conversas também se tornaram mais profundas e íntimas.
- Você sabe, Sn, nem sempre é fácil lidar com alguém como você. - admitiu, enquanto estávamos sentados na praia ao pôr do sol.
- Eu sei. Às vezes, nossas diferenças podem ser um desafio. Mas acho que é isso que torna nossa amizade única. - respondi sorrindo e logo fui correspondida.
Certo dia, durante uma viagem em família, acabamos nos separando do grupo e nos perdendo em uma trilha. Era uma noite estrelada e silenciosa, e eu me peguei olhando para o Niki de maneira diferente. Seu sorriso, o brilho no seu olhar, tudo me atraía de uma forma que eu nunca havia admitido antes.
- Niki, eu... Antes que eu pudesse terminar a frase, ele se aproximou e me beijou suavemente. Fiquei surpresa, mas logo percebi que era algo muito aguardado por mim e eu nunca havia notado antes. Aquele momento, foi quando eu finalmente admiti a mim mesma que o garoto que eu considerava meu inimigo de infância era, na verdade, a pessoa que eu queria ter ao meu lado.