Mais uma vez acordada no meio da madrugada. Desde que me mudei para esse prédio, meu novo vizinho, Jungwon, tinha se tornado uma presença constante em minha vida noturna e não de um jeito bom. As paredes finas do prédio permitiam que cada som atravessasse como se não houvesse barreira alguma. Naquela noite em particular, o som de música alta mais uma vez penetrava em meu apartamento, interrompendo meu sono.
Suspirei, irritada, enquanto me dirigia até a porta do apartamento. Não tinha a menor intenção de começar outra discussão com meu vizinho, mas a privação de sono estava começando a afetar minha paciência. Bati à porta dele com mais força do que pretendia, e, após alguns instantes, a porta se abriu, revelando o rosto sonolento do meu vizinho, que parecia tão surpreso quanto eu por ser interrompido no meio da noite.
- O que foi dessa vez? - ele perguntou, com uma expressão mista de curiosidade e aborrecimento.
- A música. Novamente. Você poderia baixar o volume um pouco? - eu disse, tentando manter minha voz calma.
- Você está sempre reclamando. Não tem nada melhor para fazer do que incomodar os vizinhos? - ele passou a mão pelos cabelos desarumados e bocejou.
- Eu só quero dormir em paz. Isso é pedir muito? - respondi, cruzando os braços.
- Tudo bem, vou diminuir o volume. Mas só porque estou cansado de ouvir suas reclamações.
Agradeci, ainda um pouco ressabiada, e voltei para o meu apartamento. A música diminuiu gradualmente, e eu finalmente pude retornar à cama. No entanto, enquanto me enrolava nos lençóis, percebi que, de alguma forma, esse desconhecido irritante estava começando a se tornar parte integrante da minha rotina noturna.
Os dias se passaram, e as interações com meu vizinho não se limitavam mais a reclamações sobre o barulho. Encontrávamo-nos ocasionalmente no elevador ou no corredor, e sempre havia uma troca de olhares carregados de desconfiança. No entanto, à medida que o tempo passava, começamos a notar mais um do outro, para além das pequenas irritações.
Numa tarde ensolarada, enquanto eu voltava do supermercado, encontrei meu vizinho no saguão do prédio. Ele carregava algumas sacolas, e nossos olhares se cruzaram por um momento antes de ele quebrar o silêncio.
- Sabe, acho que nunca nos apresentamos devidamente. Eu sou Jungwon. - ele disse, estendendo a mão.
- Sn. Eu sei que discutimos algumas vezes, mas acho que é a primeira vez que conversamos de verdade. - respondi, engolindo meu orgulho e apertando a mão dele.
- Talvez tenhamos começado com o pé errado. - ele sorriu, e pela primeira vez, que seu sorriso não era apenas sarcástico.
- Com certeza. - digo e as portas do elevador se abrem para entrarmos.
- Me deixe te ajudar a carregar as suas compras.
Aceitei a oferta de Jungwon com um aceno de cabeça, e juntos entramos no elevador. A tensão que costumava preencher o ar entre nós pareceu diminuir um pouco naquele momento, substituída por uma estranha sensação de curiosidade.
Enquanto subíamos para o nosso andar, ele quebra o silêncio novamente.
- Então, o que você comprou?
Olhei para as sacolas que ele carregava e sorri.
- Comprei algumas coisas para fazer uma noite de filme e produtos de skin care. - penso um pouco antes de continuar. - Já que estamos tentando nos aproximar, o que acha de participar da minha noite de filme?
Jungwon olhou para mim por um momento, surpreso com o convite. Parecia haver uma indecisão momentânea em seus olhos, mas então ele sorriu, concordando.
- Por que não? Uma noite de filme parece ser uma boa ideia. Vamos lá, estou curioso para ver o que você escolheu - ele respondeu, indicando com a cabeça para seguirmos em direção ao meu apartamento.
Enquanto entrávamos, a atmosfera entre nós era mais leve do que jamais imaginei que poderia ser. Estava começando a perceber que, às vezes, dar uma chance às pessoas podia resultar em surpresas agradáveis.
Preparamos um pequeno espaço na sala de estar, acomodando-nos com as sacolas de compras ao lado. Escolhemos um filme leve e descontraído, algo que ambos poderíamos apreciar. A cada risada compartilhada e comentário sobre o filme, a estranheza da situação inicial começou a desaparecer.
No meio da noite de filme, enquanto dividíamos uma tigela de pipoca, Jungwon comentou casualmente:
- Você sabe, eu não esperava que nossa noite de filme seria tão divertida. Talvez eu tenha subestimado seu gosto cinematográfico.
Ri, percebendo que estávamos nos aproximando de uma maneira que eu jamais imaginara.
- Acho que subestimamos um ao outro desde o início. Quem diria que um convite para uma noite de filme poderia mudar as coisas? - ele concordou, e por um momento, o silêncio entre nós não era mais desconfortável, mas sim confortável. Era como se estivéssemos começando a construir uma ponte sobre o abismo de desentendimentos que nos separava.
À medida que a noite avançava, o filme chegou ao fim.
- Obrigado por hoje, Sn. - ele sorri para mim.
- Não, eu que agradeço. Foi uma noite divertida. Quem diria que um convite para assistir a um filme mudaria tanto as coisas entre nós? - sorri de volta.
- Às vezes, é preciso apenas uma pequena mudança para enxergarmos as coisas de outra maneira.
Nos despedimos na porta do meu apartamento e ele logo entrou para o dele, que é ao meu lado. Jungwon não era mais apenas o vizinho irritante; ele era agora alguém com quem eu compartilhava risadas, interesses e uma noite agradável.
À medida que os dias passavam, nossa amizade continuou a se fortalecer. Os encontros casuais tornaram-se eventos regulares, e nossas conversas, antes repletas de sarcasmo, se tornaram genuínas. Descobrimos mais sobre nossas vidas, nossos sonhos e até mesmo nossos medos.
Uma tarde, enquanto estávamos na varanda, observando o pôr do sol, Jungwon olhou para mim e disse:
- Sabe, Sn, nunca pensei que encontraríamos uma amizade tão especial aqui. - concordei, olhando para o horizonte alaranjado.
- É engraçado como as coisas podem mudar, não é? Quando nos mudamos para um lugar novo, nunca sabemos quem vamos encontrar. - ele sorri, concordando.
- E eu estou feliz por ter encontrado você. - diz e me abraça.
Aquela frase simples fez meu coração se aquecer. Nunca imaginei que, ao me mudar para esse prédio, encontraria uma amizade tão significativa. Às vezes, as pessoas que inicialmente parecem ser as mais improváveis de se conectar tornam-se aquelas que fazem a diferença em nossa vida.
Enquanto a noite avançava e o sol se despedia, percebi que aquela amizade inesperada com Jungwon era como um raio de sol que iluminava os dias mais cinzentos. Às vezes, basta uma noite de filme e um convite para começar uma jornada surpreendente, repleta de risos, histórias compartilhadas e uma conexão que supera as expectativas.
