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ABIGAIL TORRES



— Alguém me parece distraída hoje — a enfermeira-chefe da emergência sussurrou, ao se sentar do meu lado no refeitório, na manhã seguinte à curta viagem que Nicholas e eu fizemos. — Será que tem a ver com o fato de que o Dr. Donovan a deixou sob a supervisão da Dra. Bryant pelo restante da semana?

Engoli o nó preso na garganta, que só fez crescer desde que cheguei ao hospital essa manhã, e descobri que Nicholas me afastara de propósito: dele e do Trauma. Não com a intenção de me prejudicar, já que eu estava programada para a série de cirurgias que Alicia teria ao longo da semana. Era mais como se o homem quisesse me manter distante dele e da sua vista.

— Estou tendo um dia ruim. Apenas isso — menti, sem vontade de conversar. Ainda sob o olhar atento de Elisa, que, por alguma razão, tornou-se uma sombra protetora nessas últimas semanas.

— Coincidência você e Nicholas estarem tendo um dia ruim, aliás, devo dizer que é impressionante a forma como o humor dos dois caminha sempre na mesma direção.

Afastei o sanduíche recheado de queijo e a encarei.

— O que quer dizer com isso?

Elisa olhou para os dois lados, como se estivesse prestes a me contar um segredo ou fazer uma grande revelação. Na maioria das vezes, ela apenas me contava fofocas.

— Nicholas já gritou com mais da metade desse hospital hoje, Dra. Torres. E ele não está nem na metade do plantão. — Abri e fechei a boca e, em seguida, percorri com o olhar o refeitório quase vazio, sentindo-me uma boba por ter mudado o meu horário de almoço apenas para que pudesse vê-lo à distância. — Fora que o seu doutor teve uma discussão séria com Tom Bryant há cerca de uma hora. Alicia precisou intervir e tudo.

Alicia. Tom. Nicholas.

A indiferença que me esforcei a manter desapareceu na mesma hora.

— Por que está me contando essas coisas, Elisa? — Eu odiava fofocas, sabia os danos colaterais que podiam causar. O fato de ela ter cogitado a possibilidade de que eu estava minimamente interessada deixou-me nervosa.

Mas não tanto quanto eu me senti ao ver a Dra. Bryant entrando no refeitório. Não acompanhada de seu marido, mas de Nicholas, acabando de vez com o meu apetite, enquanto o meu estômago afundava em um declive que me assustou. Semanas eram tudo o que ele e eu tínhamos juntos, e eu sentia como se Donovan fosse estar para sempre impregnado sob a minha pele. Assim como ficou o meu ciúme, que esbravejou teimosamente para o meu corpo, que era comigo que aquele homem fazia sexo. Comigo que dormia!

— Abigail? — A enfermeira me encarou, colocando a mão sobre a minha ao me ver incapaz de desviar os olhos do ex-casal. Eles eram bons juntos, bons demais para falar a verdade. — Tenho certeza de que você não vai querer que ninguém, além de mim, note onde está o seu coração.

— Não é como está pensando — defendi-me rapidamente.

— Não tente mentir para uma velha senhora como eu. Estou aqui há tempo demais para reconhecer e identificar qualquer peça fora do lugar. E vejo absolutamente tudo o que acontece dentro desse hospital.

Afastei a minha mão da dela, assim como o olhar da direção em que Alicia e Nicholas se encontravam. À distância, a pediatra me cumprimentou enquanto ele se manteve irredutível em seu silêncio, como se fôssemos dois estranhos.

— Diga-me, querida. Você pretende ir à festa de premiação?

Eu não estava certa, na última vez que compareci a uma dessas festas, selei o meu destino de forma irremediável.

O Doutor (Homens no Poder) Onde histórias criam vida. Descubra agora