NICHOLAS DONOVAN
A notícia da desistência de Abigail veio no plantão seguinte, antes que eu tivesse sequer a chance de me preparar para a cirurgia agendada. Antes até mesmo que pudesse pisar no meu consultório. Elisa, em um esforço para acompanhar meus passos largos, não pareceu satisfeita. E ainda que tenha sido ela a única a me contar, a enfermeira foi a única com coragem de me cobrar respostas.
Poucos nesse hospital o fariam.
— Não sei o que fez àquela garota, Dr. Donovan, mas é sua responsabilidade trazê-la de volta a esse hospital...
Caralho, eu não precisava de incentivo para me sentir um crápula. Estive ciente dos meus erros e de cada falha que cometi com aquela garota. Nas últimas 24 horas, pensei em pelo menos mil motivos diferentes para ir atrás dela. Mas o seu choro e revolta me impediram. Forçá-la a me escutar agora não a traria de volta para a minha vida. Pelo contrário, só afastaria mais.
Só que, porra, eu não esperava por esse golpe. Ter Abigail desistindo do programa, em nenhum momento, nem mesmo nos piores cenários que criei, passou pela minha cabeça.
— Dr. Donovan? — Elisa exigiu atenção.
Mas era tarde, estávamos em frente ao escritório do Tom. De onde eu só pretendia sair depois que tivesse a situação de Abigail resolvida.
— Vejo que foi informado sobre a decisão de sua residente — o filho da puta falou, cínico, como se estivesse achando graça de toda a situação.
— Como pôde permitir que Abigail saísse do programa? — esbravejei. — Não foi você que lutou por ela, porra?
— Sim, diferente de você que sequer a queria aqui. Então, não entendo por que está tão irritado, Donovan.
Não, ele não entendia. E a verdade é que não era o único.
O que ficou evidente foi que, se Abigail continuasse a tomar decisões precipitadas e imprudentes, ela acabaria me enlouquecendo.
— Cale a boca, Tom, e me diga, para onde ela pensa que vai? Que hospital?
— Até o momento, nenhum — disse, simplesmente. — Alicia está tentando de tudo para encaixá-la em um de nossos associados, mas, a essa altura, as chances são mínimas — informou. — Pelo visto, alguém aqui realmente a assustou.
— De que merda está falando? — Detive-me, cansado de andar de um lado a outro feito a porra de um animal ferido.
— Abigail alegou divergências irreconciliáveis entre ela e o médico que a supervisiona.
Eu era o problema dela.
Claro!
— Entre em contato com Abigail e ofereça a ela o Trauma. — Tom me observou, sem compreender. A verdade é que eu estava alterado, agindo de uma forma que ele presenciou poucas vezes em todos esses anos. Porra, nem mesmo quando o peguei com Alicia, estive dessa forma. — Diga que ela estará sob a supervisão do Borelli.
— Nicholas, não estou certo de que vá ser o suficiente.
Tinha de ser.
Porque eu me recusava a cruzar os braços enquanto assistia Abigail destruir sua carreira por minha causa.
Decidido a intervir, eu me aproximei de sua mesa. Peguei o telefone, disquei o número que conhecia de cabeça e o entreguei no primeiro toque.
— Ofereça, Tom. Agora — insisti. — E diga à Dra. Torres que eu não irei incomodá-la mais.
Hesitante, para não dizer confuso, Tom fez o que pedi. Com um nó preso na garganta, escutei a conversa entre os dois e as tentativas dele em convencer Abigail a concluir a porra de sua residência. O que aquela garota tinha na cabeça?
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O Doutor (Homens no Poder)
RomansaInício das postagens em janeiro/2023 Temido por todos à sua volta, Nicholas Donovan é incapaz de compreender a atração sem lógica que sente pela sua jovem e tagarela residente. Como principal sócio do W. West Hospital, o cirurgião de 43 anos é o te...