O Doutor (Homens no Poder)

38

NICHOLAS DONOVAN

Havia algo de errado com Abigail, dei-me conta depois de ver as bochechas sempre vermelhas de seu rosto serem substituídas pela palidez excessiva. Seus olhos já não encontravam os meus, indo de um lado ao outro como eu tinha certeza de que sua mente estava fazendo por dentro: a mil por hora. Ao descermos o elevador vazio, segurei sua mão e entrelacei nossos dedos. Esse foi o único momento em que a senti se acalmar e me encarar diretamente.

A expressão suave, no entanto, não durou. E assim que as portas do elevador foram abertas à nossa frente, Abigail se afastou mantendo-se um passo atrás de mim ao sairmos, como se não desejasse ser vista comigo.

Teimoso, envolvi sua cintura e a puxei para a frente. Se mostrá-la como minha, em uma conferência onde os maiores médicos desse país se encontravam, não anunciasse quais eram as minhas verdadeiras intenções com essa garota, não sei mais o que seria.

— Pare de fugir.

— Eu não estou! — Fez uma pequena careta. A cor voltou ao seu rosto, diante dos olhares curiosos que recebemos assim que fomos recebidos pelo maître de um dos restaurantes mais seletos do hotel.

Conseguir a reserva em cima da hora não foi fácil, mas desconfiei de que Abigail fosse se sentir um pouco mais confortável em um local em que os médicos e residentes com quem deveria estar assistindo aos seminários não tivessem acesso.

— Lamento o imprevisto, Dr. Donovan. Para a conferência, tivemos que contratar atendentes novos, por isso o atraso... — se justificou, após me pedir alguns minutos de espera.

— Não se preocupe. — Foi o que respondi, mais focado em Abigail do que no atraso ou incompetência de quem quer que fosse.

— Ignore-os, me ouviu? — pedi, ao afastar o cabelo rebelde da sua testa. Abigail usava um vestido preto e elegante essa noite, justo em todo o seu corpo suntuoso e com uma fenda que deixava parte da coxa branquela à mostra. Os saltos eram os mesmos da nossa primeira vez aqui e eu sabia que ela os tinha adorado. — A maioria dessas mulheres gostaria de estar no seu lugar, e os homens, bem, duvido que tenha alguém aí dentro que não deseje a minha conta bancária.

— Ou a sua confiança — ironizou.

— Se ser honesto me torna um homem confiante, paciência. — Dei de ombros.

— Na verdade, Dr. Donovan, sua honestidade o torna arrogante.

Apertei seu nariz vermelho e a vi fazer outra de suas caretas, puxando-a para os meus braços enquanto esperávamos. Certo de que nada no mundo me faria abrir mão dessa mulher.

Porque a verdade é que eu já não podia.

— Dr. Donovan! Que prazer encontrá-lo, meu velho amigo. — Reconheci a voz de Colin Russell antes que tivesse a oportunidade de me virar e imagino que Abigail também o tenha feito.

Porque o seu corpo enrijeceu de imediato.

E bem, não era essa a reação que esperava dela, não ao rever seu antigo mentor. Ainda que eu não soubesse em quais circunstâncias a garota deixou o hospital de Chicago, desconfiei de que não havia sido de forma amena ou amigável. Só não imaginei que seu problema fosse justamente com Colin.

Não que pudesse culpá-la, Colin era tão ou mais exigente do que eu dentro de uma sala de cirurgia.

— Colin Russell. — Virei-me, incapaz de impedir o afastar abrupto de Abigail, que praticamente se escondeu atrás de mim. — Já faz algum tempo, meu amigo.

— Tempo demais, eu diria — falou, com os olhos fixos na mulher ao meu lado, que, pela segunda vez na noite, forcei a se aproximar. Até porque olhares de julgamento ou curiosidade em sua direção, ela sempre receberia. Quanto antes se acostumasse a eles, melhor.