40

1.4K 228 63
                                    

ABIGAIL TORRES



Não consegui deixar de andar de um lado a outro dentro da suíte, nem mesmo quando Nicholas entrou. Minha cabeça parecia prestes a explodir, assim como o meu coração. Um tipo de dor que nunca senti antes, me invadiu a alma, deixando-me inquieta e incapaz de sossegar.

Com a expressão de um homem que foi ao inferno e voltou, assisti Nicholas passar por mim e se servir de uma dose única de uísque. Seu silêncio gritou em meus ouvidos, e ao vê-lo apoiar as mãos sobre o bar da suíte e abaixar a cabeça, meu corpo finalmente cedeu, desabando na poltrona mais próxima.

Sem fôlego algum, senti que as lágrimas me molhavam as pernas e mãos. Mas não fiz nada para detê-las, porque sabia que, se tentasse, o choro viria ainda mais intenso.

Nicholas, ao que parece, tinha escolhido um lado e não era o meu.

Com raiva, dele e de Colin, ergui o meu rosto, recusando-me a implorar.

— Diga-me tudo o que aconteceu. — A voz grave atravessou a suíte em uma exigência feroz. — Cada coisa, cada detalhe. Eu quero saber tudo, Abigail.

O homem se virou, fazendo-me primeiro encolher sobre a poltrona. E, em seguida, me encher de coragem.

Se ninguém iria me defender, eu mesma o faria.

— Por quê? Se você já está disposto a acreditar nele?

Nicholas me cercou, andando ao meu redor enquanto eu o seguia com os olhos.

— O homem foi o meu mentor por quase uma década! Eu fui ao casamento dele, vi seus filhos crescerem... Como espera que eu acredite nessa história agora?

Foi como levar um tapa, um que me ardeu a pele e fez com que eu me levantasse.

Apenas para ver Nicholas caminhar na minha direção e me impedir de deixar a suíte sem sequer me tocar.

— Nada muda o fato de que ele tentou me estuprar! — admiti, exausta, vendo-o estreitar os olhos. — Essa história aquele filho da puta não contou, não é? Que fui imprensada e trancada em uma sala com ele, e que se não tivesse lutado e o empurrado... eu teria virado outra estatística! — gritei, sem fôlego. — Aquele homem, a quem você respeita tanto, me machucou, Nicholas. Fez com que eu me sentisse um nada! Ele colocou minha competência em jogo! — desabafei. — Disse para uma sala cheia de médicos que eu era apenas uma residente louca! A minha denúncia? Eles ignoraram e empurraram para debaixo do tapete. E só não me expulsaram porque, outra vez, Alicia interveio por mim. Se não fosse por ela...

— Venha aqui — Nicholas me chamou, mas quem se aproximou foi ele, acolhendo-me com força em seus braços. — O que esse filho da puta fez não ficará impune.

Alívio foi tudo o que senti. E ele veio tão intenso e rápido, que, se não fosse pelos braços de Nicholas, eu teria facilmente caído tamanha a fraqueza das minhas pernas. Com todo cuidado do mundo, ele me beijou a testa pelo que me pareceram horas. Até que o meu choro se tornasse apenas um chiado baixinho e meu corpo deixasse de tremer.

— Preciso saber que ficará bem se eu te deixar por alguns minutos.

Eu o encarei, confusa.

— Aonde você vai?

— Antes mesmo de ouvir o seu lado da história, pedi ao infeliz para ficar longe de você, mas agora que sei a verdade, eu irei me certificar de que o Dr. Russell não volte a olhar na sua direção ou que te machuque outra vez, Abigail. Essa é uma promessa que te faço.

NICHOLAS DONOVAN

Cacete!

Apertei a bolsa de gelo, entregue por um dos funcionários do hotel, contra e minha mão e amaldiçoei Abigail pela posição desconfortável em que a encontrei dormindo. A dor que eu sentia não era nada perto da que ela sentiria ao despertar. Suas pernas estavam encolhidas e o pescoço pendente para um dos lados enquanto uma de minhas camisas a cobria da nudez evidente.

O Doutor (Homens no Poder) Onde histórias criam vida. Descubra agora