Beyond Heroes 2: Sweet Dreams

Cena extra: Havoc

Tempo para soltar a música indicado no capítulo.

No dia seguinte ao fim do atestado de Rylai, Jessica trouxe os últimos relatórios para ela. Nesse dia, Kyle estava na Torre, de sobreaviso. E enquanto tudo isso acontecia, a TV estava ligada em um canal aleatório que mostrava um complexo gigantesco com uma torre: um resort em algum lugar nas ilhas Cayman. A TV emitia sons os quais ninguém prestava atenção. Uma jornalista estava ao vivo no local:

— ... Infinite! O resort que oferece tudo e mais um pouco à sua família! A CatCo Worldwide Media pôde ter acesso exclusivo ao resort mais seguro do mundo, onde membros da realeza e ídolos da indústria musical vêm descansar. Estamos ao vivo com Muriel Pine, gerente do complexo. Diga-nos, Muriel, por onde devemos começar nosso tour?

Jessica bateu um maço grosso de folhas A4 sobre uma pilha de papéis escorada na parede que ia dos pés até a altura dos joelhos. Os briefings, lidos por Rylai, se acumulavam num canto do apartamento-estúdio de 60m2 na Gabrielle Street. No imóvel de Kyle quase todo o apartamento era em conceito aberto, fora uma escada de três degraus que dava para um minúsculo corredor com duas portas: os quartos de Kyle e Rylai.

— Aceita refri? — Rylai puxou uma cadeira em frente a cinco latinhas de Dr Pepper na mesa, que dividiam espaço com o livro História da Filosofia, volume 1.

— Aceito — Jessica puxou outra cadeira e se sentou. — Que bom que vocês compraram cadeiras. O que é isso aí?

— É um livro do meu pai — Rylai abriu na página que estava lendo. — Ele amava essas coisas de filosofia e história. Eu nunca tive coragem de mexer nas coisas dele desde que esvaziei o apartamento — ela apontou com os olhos para uma caixa de papelão cheia de pertences no pé da mesa. — Mas agora resolvi desembalar. Tive bastante tempo para isso nas últimas três semanas.

— Bom, suas férias terminaram — Jessica se serviu com um sorrisinho de canto. — Mas é sobre o que? O livro.

— Filosofia antiga. Estou lendo sobre o meu filósofo favorito, Anaximandro. Ele é trágico... sua principal obra se perdeu, e tudo que sabemos dele é pelas mãos de outros filósofos. Ele é o defensor do Ápeiron.

— Palavra bonita — Jessica deu um gole. — Discorra sobre.

— Para Anaximandro, tudo veio do Ápeiron. É um elemento que sempre existiu, algo invisível. É o resultado de um turbilhão de relações entre opostos: seco e úmido, luz e escuridão, quente e frio; e essa unidade resulta em tudo. Para ele, tudo é composto de uma unidade que vem da dualidade de pares opostos.

— Batman escreveu isso no pedido do seu atestado. Dualidade de ideias — Jessica falou despreocupada.

— Não tenho dualidade de ideias — ela fechou o livro. — Ele que é muito 8 ou 80 — e abriu uma latinha, servindo-se. — Eu só fico pensando se algum dia erramos sobre alguém, se condenamos alguém injustamente. Me... deixa ansiosa. Daí o atestado — Suspirou. — Você já passou por isso?

Jessica deu um sorriso fraco e desviou o olhar para o copo. Assentiu lentamente com a cabeça e o clima da conversa mudou completamente de "reclamando do chefe" para uma atmosfera silenciosa e pesada.

— Teve uma vez... teve uma pessoa. Eu conhecia essa pessoa melhor do que todos, e eu sabia o que essa pessoa era capaz de fazer. Mas... aconteceu algo — Jessica ergueu o olhar para Rylai. Ela engoliu em seco e, perante o silêncio da outra, resolveu falar de forma clara: — A minha irmã. Um dia, sem explicação nenhuma, ela tentou matar Hipólita, rainha das amazonas. Eu tenho certeza de que Circe a enfeitiçou de alguma forma... nenhuma ameaça seria suficiente para fazer Patsy nos trair. Circe é uma antiga inimiga nossa: de Mulher Maravilha, minha, da ilha toda. Não sei se você sabe, mas minha irmã e eu crescemos na ilha das amazonas, assim como Mulher Maravilha.