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Os jagunços estavam curiosos com o comportamento do Barão naquela noite. Fazia um bom tempo que não o viam deitado na rede armada embaixo das mangueiras, balançando-a com o pé descalço tocando o chão de terra seca. Não viam seu resto, mas viam os braços cruzados por baixo da rede e um fio de fumaça surgindo de dentro dela. Mansa, a rede balança devagar junto à brisa noturna.

O patrão geralmente dorme do lado de fora da fazenda em noites de lua cheia ou quando está de bom humor e esta noite, para estranheza geral, não é nenhum dos casos. 

Ele teve um dia extenuante, como contou Gaara, e a lua mingua atrás das nuvens.

Rosa e Raúl comem tangerinas sentados no batente da varanda à luz de velas, observando o pai relaxado na rede; parecem entender que algo de bom aconteceu durante as horas vespertinas que o Barão passou fora da fazenda e claramente não se importam em descobrir o que foi.

-Deve ter visto um passarim verde. - comentou o jagunço gordo, de nome Chico Porco. Deram este apelido a ele na infância por conta da sua risada, que lembra muito o ronco de um porco. - Diz que quem vê um passarim verde tem sorte o dia inteiro. - os outros se entreolharam e tiveram que dar crédito à crença porque era bem verdade, mas crer na sorte não faz o estilo do Barão. O Passarim Verde pode até influenciar o humor das pessoas com sua magia, mas não parecer ser o caso do Barão de Sombero. Até onde sabem, ele prefere acreditar na mira das armas do que num acaso positivo.

-Ou ele fez uma coisa que achou foi bom. - Gaara cortava uma maçã com uma faca e comia os pedaços. Olhou de canto. Do outro lado do pátio, descendo para a vila com uma trouxa de roupas bem equilibrada na cabeça e carregando sacolas nas mãos, ia Ino Yamanaka, uma das ex-raparigas do cabaré que Dona Sinhá Maria montou lá no vilarejo construído pelos trabalhadores nas terras de Sombrero. Ela soube que era observada. A moça de exuberantes cabelos loiros sempre adornados com flores lilases piscou um olho para o jagunço ruivo e caprichou no rebolado ao andar. Um dos capangas acenou de volta, mas levou um tapa no ombro com muita força. - Tire o olho da muié dos outos, seu cabra frouxo.

-Armaria, eu fiz nada.

-Num bote boneco não.

-Sim sinhô.

Gaara se despediu dos homens com quem trabalha e andou a passos largos até a mulher, que estava prestes a atravessar a cerca que divide o terreno "oficial da fazenda" das terras compradas para a vila. Ele abriu a porteira para que ela passe e os dois foram juntos pela estrada de terra. Gaara pegou a trouxa de roupa, colocou na cabeça e carregou a sacola mais pesada, o que deixou Ino tão feliz que deu o braço a ele antes de sapecar um beijo estalado na boca.

-Vou fazer uma galinha caipira bem gostosa procê, mozim.

-Agradicido. - Ino deu outro beijo. 

Quando pediu emprego na fazenda, há cinco anos, seu plano era virar amante do Barão para desfrutar da vida fácil de uma mulher rica, mas não chegou perto nem do andar do quarto dele e quando tentou usar sua experiência de puta para seduzir o filho mais velho, dois anos depois, quase foi morta pelo patrão. 

Quem a salvou foi Gaara.

Jurou endireitá-la e se em um ano Ino não mudasse, o Barão podia fazer com ele o mesmo que faria com ela. Ficou bem claro para Ino que o braço direito do patrão estava apaixonado por si e bem pensou em se aproveitar dessa vantagem para conseguir a vida fácil que queria. Não deu certo de novo. Gaara era tão difícil de manipular quanto o Barão, porém tinha um jeito encantador e protetor, e foi este comportamento que a cativou. Ela não desistiu do sonho de obter uma vida fácil e de gorda fortuna, mas também não queria abdicar de Gaara Sabaku, o braço direito do patrão e seu amor querido.

O Anjo e o Barão [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora