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Aquela era a proposta mais incomum que Naruto já havia feito para Sakura e os dois já haviam feito muitas coisas incomuns com as quais podem comparar. Casar com seu melhor amigo, mas "pertencer" ao Barão de Sombrero, o homem mais perigoso do sertão. Em Delrey de Maria, quando criaturas de espécies muito distintas, ou sem qualquer nível de vínculo possível, decidem ter uma união estável - que muitas vezes é mal vista pelos mais conservadores -, eles usam esta palavra. Pertencer. É o mais próximo que muitos teriam de um casamento religioso - algumas criaturas são malditas para a maioria das crenças - ou de uma união civil - não existem leis nesse sentido para eles.

É a demonstração máxima de confiança, sobretudo porque algumas espécies de criaturas são opostas por natureza, enquanto outras são inimigas. Pertencer significa criar um vínculo sem artimanhas, ou truques de magia como os bruxos costumam fazer. Alguns dizem que nada une duas criaturas, nem mesmo a obrigação através de um documento, apenas o amor um no outro.

Sakura ficou a noite inteira pensativa, com Naruto abraçado a ela por trás já que os dois estão dividindo a mesma cama, pois há poucos quartos e muitos convidados. Ele é seu melhor amigo e os dois já combinaram várias e várias vezes, em diversos contextos e sentidos, como seria o futuro deles. Na condição de suindara, muitas pessoas têm medo de Naruto e buscam se aproximar o mínimo dele, imagine se eles soubessem que seu melhor amigo é uma Rasga-mortalha.

Todos têm medo de Rasga-mortalha.

Basta ouvir seu grito para que todos corram para dentro de casa, acendam velas e comecem a rezar para que aquela criatura maldita voe para outro telhado.

Inclusive Humberto manipulava Naruto com este argumento: ninguém iria amá-lo ou querê-lo por conta dessa maldição enraizada no sangue. Uma Rasga-mortalha é sinônimo de morte. E ninguém quer ou ama a morte. Portanto, a sina de Naruto é a solidão. Pelo menos era essa até o dia em que Sakura decidiu ser a melhor amiga dele, quando os dois tinham oito anos de idade.

Ele defendeu ela de um grupo de adolescentes que descobriram a natureza Fulô de Sakura e quiseram... fazer o que não deviam. Virou coruja e os espantou com o grito fantasmagórico. Os dois se tornaram inseparáveis desde então. Sakura aconchegou-se melhor entre os braços de Naruto e buscou uma mexa do, agora, longo e próprio cabelo para passar no rosto. É uma mania sua de infância. Por conta dos seus poderes "simples", muitas pessoas tratam as Fulôzinhas como inferiores dentro da espécie de criaturas femininas ligadas à natureza.

Alguns bruxos até alegam não haver diferença entre Comadres Fulôzinhas e Caiporas.

Uma grande mentira.

Fulôs preferem mel e confeitos como prenda para aplacar sua raiva, ao passo que Caiporas ficam felizes com fumo e peixe. Além de que as Fulôzinhas não são violentas ou carnívoras como as Caiporas, preferindo uma vida mais discreta entre os homens. Até seus poderes são diferentes: as Caiporas são fortes, velozes, conseguem imitar diversos animais na mata e hábeis caçadoras.

As Fulôzinhas, porém, são ótimas em se disfarçar nas plantas graças aos cabelos que imitam qualquer tipo de vegetação segundo a vontade delas, além de preferirem castigar as pessoas dando nós nos cabelos ou nas crinas dos cavalos, ou nós nas vidas. E as Fulôs acabam, de alguma maneira, sempre se conectando com algum homem depois de certo tempo para gerar descendência, pois não vivem tanto tempo quanto outras criaturas ou as próprias Caiporas. Elas vivem "o tempo dos homens" se não estiverem na natureza. Pensando em todas essas coisas, Sakura vê crescer dentro de si, a cada dia, aquela ansiedade por se conectar a alguém e dar continuidade à sua linhagem, tão típica dentro da sua família, mas, ao mesmo tempo, sua impetuosidade a impede de ter vínculos verdadeiros.

Ela é, como dizia sua avó, uma Fulô Espinhenta, então quem gostar e quiser ficar com ela, deve estar preparado para se furar.

No entanto, Sakura não quer machucar ninguém.

O Anjo e o Barão [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora