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Era uma mistura peculiar de som de cavalo com grito distorcido e distante de um homem velho. Cabuloso, arrepiou a sua espinha. Ninguém notou aquele barulho, não da forma como Naruto percebia, um som gutural. Quem visse seu semblante, suspeitaria que algo de muito errado estava acontecendo. Porém manteve-se calmo para não preocupar a morena com quem dançava, a qual era muito boa e acompanhava o seu ritmo veloz.

Aquele barulho podia ser apenas coisa da sua cabeça. Geralmente era. Sua mente era um tanto traiçoeira quanto ao sobrenatural, à mística do mundo, por causa da sua natureza particular, mas graças a esta mesma natureza Naruto sabia e percebia a sua realidade melhor que qualquer um em Delrey de Maria. Mesmo assim, não faria alarde sobre um som distante. Talvez fosse um assunto da sua incubência, porém só dará atenção depois da dança.

Parou de dançar quando aquela multidão foi quase atropelada, de repente, por um cavalo bonito, bem tratado, de pelo e crina pretas reluzentes, um dos maiores que já viu, que carregava um homem de olhar raivoso na garupa alta, trajando roupas sociais bem ajustadas ao seu porte de cavaleiro. 

Ele desceu e deixou o cavalo solto, dando-lhe um tapa leve em sua garupa, que o fez marchar para o mato escuro numa carreira só, desaparecendo na paisagem. Naruto quase perdeu as estribeiras e o equilíbrio ao ver o homem arrumar seu casaco longo e de relance, um brilho rubro cintilar por baixo da aba do chapéu que lhe escondia o rosto. Carregava um coldre preso na cintura e na cocha, o que permitia a guarda de uma arma, mas suas mãos estavam livres a cada passo coxo.

As roupas da mesma cor do cavalo - exceto pela camisa social branca, destacada por baixo do colete preto, e pela gravata de listras vermelhas e pretas -, o cinto cuja fivela bem polida é um cavalo em chamas, o anel de pedra laranja no dedo médio e o chapéu garboso de palha tingida deixaram claros que estava, pela primeira vez na vida, diante do famigerado Barão de Sombrero.

A música não parou, nem mesmo a festa, somente Naruto, a morena e as pessoas perto dos dois, olhando para aquela aparição sem saber como reagir. Perto da igreja, uma caminhonete estacionou e dela desceram uma trupe de jagunços e um moleque muito magro para a sua altura e a sua idade. A morena cruzou os braços de maneira incomodada e chegou mais perto de Naruto, que não entendeu bem a atitude dela, mas percebeu que deixou o homem mais irritado.

-Eu vou dizer só uma vez. - ela virou a cara, fingindo que não falava consigo. - Rosa, vá com seu irmão pra casa agora.

-Num vou não. - ela respondeu de maneira impetuosa. - Eu sou de maior.

O homem empurrou um pouco a aba do chapéu para cima e olhou-a com desdém.

-Ocê num me faça lhe agarrar pelos cabelos e te levar arrastada daqui. - ameaçou arregalando os olhos. Ela apertou os lábios. Naruto viu que Rosa estava prestes a chorar. - Me vem pra festa sem me dizer e eu te acho se infregando nessa desgraça de homem. - apontou para o loiro.

-Ei! - Naruto colocou-se entre o dedo dele e ela. - Veja lá como fala comigo, oxe! - Rosa olhou para o loiro surpresa e esboçou um sorriso encantado.

-Quem lhe deu permissão pra falar comigo? - o Barão encarou-o de cima a baixo com desprezo. - Era só o que me faltava. Filha minha com raça Uzumaki. - estendeu a mão para ela e chamou de novo: - Bora. Deixe de me dá trabalho. - ela resmungou quase um choramingo, mas obedeceu.

-A gente só tava dançando, paim. - chegou perto ao tomar a mão dele. Só agora Naruto percebeu o quanto o Barão é baixo. A filha deve ter mais de um e setenta porque o queixo dele alcança o pescoço dela. Talvez seja por conta do salto alto. Ou Naruto é mais alto que a média da cidade e o Barão é um pouco atarracado. - Nam... Posso nem me divertir mais. Homi, paim.

O Anjo e o Barão [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora