CAPÍTULO 12

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Anastácia

— Bom dia, Anastácia ! — A médica abriu a porta do consultório e
fez um gesto para que eu entrasse.
Encolhida, abraçada a minha bolsa por ainda estar sentindo
cólicas, entrei no cômodo e fui até uma das cadeiras diante da mesa
dela.
— Bom dia.
Embora ainda não houvesse contado aos meus pais sobre a
gravidez, marquei uma consulta com a minha ginecologista, porque
a visita ao médico não era algo que eu poderia evitar por mais
tempo. Tinha que cuidar de mim e da criança que eu estava
gerando, independentemente da confusão em que havia me
enfiado.
Alexandre não me ligou nem tentou mais falar comigo depois
do nosso embate no dia interior. Achava melhor assim; não queria
mais nada com ele, principalmente que continuasse a ser um dos
meus problemas.
— Está tudo bem? — A mulher de cabelos castanhos claros,
estatura média e de aproximadamente quarenta anos acomodou-se

atrás da mesa.
— Fora as cólicas e enjoos...
— Alguma coisa que notou de diferente em relação ao seu
período menstrual? — Ela abriu a tela do computador e começou a
correr os olhos por ela, possivelmente lendo a minha ficha.
— Não... Eu... Eu... — engasguei, meio sem jeito de falar.
— Eu? — Franziu o cenho, instigando-me a continuar.
— Estou grávida.
— Ah! Que bom! Então temos aí a causa dos enjoos e das
cólicas.
— Parece que a minha barriga não vai parar de doer nunca.
— É comum por um período, principalmente no início da
gravidez, em que o feto está se acomodando no útero.
— Mas está tudo bem? — Coloquei a mão no ventre por
reflexo. Por mais insana que fosse a possibilidade de ser mãe
naquele momento, estava cada vez mais seduzida pela ideia de que
um bebê estava crescendo bem dentro de mim.
— Faremos vários exames para ter certeza.

— Tá. — Mantive as mãos sobre a barriga, que ainda parecia
exatamente como antes de eu ter ficado grávida. — Eu tenho esse.
— Abri a bolsa e peguei o exame de sangue que havia feito na
farmácia para confirmar as suspeitas.
— Ótimo! Vou pedir alguns para medir níveis de hormônios e
vitaminas no seu sangue, para que depois eu possa fazer o ajuste
adequado para a manutenção da sua saúde e a do bebê.
Movi a cabeça, concordando.
A médica me deu várias orientações, me examinou e
entregou as guias para que eu fizesse os exames solicitados e
voltasse na semana seguinte para a sua avaliação. Um pouco mais
aliviada, saí do seu consultório e caminhei em direção a entrada do
hospital.
Estava vasculhando a bolsa em busca do meu celular para
pedir um motorista de aplicativo e voltar para o meu trabalho, já que
o atestado era só de algumas horas, e quando levantei a cabeça eu
o vi...
No primeiro momento não imaginei que fosse ele. Havia
passado tanto tempo obcecada em encontrá-lo que a minha mente
poderia estar formando imagens, mas então ele me encarou de
volta.

Ele estava com os olhos vermelhos e lágrimas escorrendo
pelo rosto. Não sabia exatamente o que poderia estar acontecendo,
mas não contive o meu impulso de me aproximar.
— Cristhian !
— Anastácia ? — Ele elevou as sobrancelhas, surpreso.
Andei até parar bem na frente dele. Nossos olhos se
encontram e ficamos fitando um ao outro por alguns instantes até
que finalmente ele quebrou o silêncio e o transe.
— O que você está fazendo aqui?
— Vim a uma consulta médica, e você?
Ele engoliu o choro. Seus olhos estavam vermelhos e
inchados. Não tinha falado nada ainda, mas a sua expressão foi o
suficiente para que eu soubesse que algo havia acontecido.
— Eu... meu pai... — Respirou fundo. — Acabei de perder o
meu pai.
— Ah, eu sinto muito! — Não contive o impulso de abraçá-lo.
Cristhian  me puxou para mais junto a si e fungou no meu
cabelo. Eu tinha imaginado muitas formas de como seria aquele

reencontro, mas em nenhuma delas previ que seria em um hospital
e que ouviria uma notícia terrível como aquela.
Esperava poder contar logo para ele que estava grávida, mas
em meio aquele abraço e ao olhar devastado dele, simplesmente
não consegui falar nada. Imaginei como ficaria arrasada se
estivesse na mesma situação.
— Meus pêsames. — Afaguei as suas costas e ele continuou
abraçado a mim.
Não sei quanto tempo ficamos daquele jeito até que ouvi um
grito estridente.
— Cristhian !
Soltei-o e me virei, vendo uma mulher correndo na nossa
direção. Ela era loira, estava usando um terninho e se equilibrava
em saltos altos. Bem diferente da camiseta e do jeans que eu
estava usando.
— Ah, amor! — Ela praticamente me empurrou para o lado
para se jogar nos braços dele.
Amor? Ele tinha uma namorada? Fiquei estarrecida e me
senti ainda mais idiota pelo que havia acontecido entre nós dois.

— Sinto tanto! Seu pai era uma pessoa tão boa!
Eu nem a conhecia direito, mas só de ouvi-la falar o meu
estômago embrulhava. Estava decepcionada comigo mesma por
tudo o que havia acontecido.
— Acho que você está em boas mãos. — Abri um sorriso
amarelo ao dizer isso para ele, mas nem sabia se havia me ouvido
direito.
Tinha que contar para ele que estava grávida, isso estava
martelando em minha cabeça, mas não poderia simplesmente dizer
naquele momento que ele havia acabado de perder o pai e estava
com a namorada. Não queria tornar o momento ainda pior e mais
constrangedor.
— Eu vou embora.
— Quem é você mesmo? — A loira colocou a mão no ombro
do Cristhian  e olhou para mim com desdém.
— Só uma conhecida. Adeus!
— Anastácia , espera. — Ele tentou intervir, mas, ao vê-lo com
outra, tudo o que eu queria era sair correndo.

O que eu estava esperando? Encontrar com ele, dizer que
estava grávida e sermos um casal feliz para todo o sempre? Eu não
conhecia o cara e não deveria estar surpresa ao saber que ele já
tinha alguém. Pelo visto era a única idiota naquela situação toda.
— Sinto muito pelo seu pai.
— Ei, não precisa ir.
— Tenho que trabalhar.
— Anastácia !
Ele me chamou, mas eu apressei o passo quando vi que o
carro de aplicativo parou não muito longe de onde estávamos.
Cristhian  não tentou me impedir de embarcar, e eu só queria ir
embora o mais rápido possível dali. Eu precisava contar do bebê,
mas não consegui pensar em como faria isso naquele momento. Já
bastava o que eu havia passado com o Alexandre, não precisava de
uma situação ainda mais complicada.

Continua....

O MISTERIOSO PAI DO MEU BEBÊ Onde histórias criam vida. Descubra agora