CAPÍTULO 23

599 70 4
                                    

Cristhian

Estava analisando os laudos dos engenheiros sobre um
empreendimento em Nova Lima, que estava em fase final de
construção, quando o meu celular vibrou sobre a mesa.
Anastácia :
Saio do trabalho às 17h, vou passar em casa para
tomar um banho.
Cristhian :
Pego você às 19h, pode ser?
Anastácia :
Combinado.
Estava ansioso para estar com ela, ainda que houvesse um
pouco de receio depois da minha conversa com o João. Eu o
achava realista, às vezes até realista demais. Entretanto eu queria
tentar. Sentia que estava no caminho certo para construir algo real.

— Senhor?
Levantei a cabeça quando ouvi a minha secretária me
chamar. Estava tão distraído com o meu celular, olhando para as
mensagens da Anastácia , que não havia notado a aproximação da
mulher, que estava parada diante da minha mesa.
— O que foi?
— Tem uma pessoa na recepção que insiste em falar com o
senhor.
— Marcou horário? É algum funcionário... — Nem tive tempo
de terminar a frase antes de ser interrompido por um grito
estridente.
— Cristhian , meu amor!
— O que está fazendo aqui, Letícia? — Levantei da minha
cadeira no susto.
— Eu pedi para a senhora esperar lá fora. — Minha
secretária se virou para ela com uma expressão cerrada.
— Pode deixar que eu e ele nos entendemos, querida. — Ela
fez um gesto para expulsar a minha funcionária.

— Letícia, estou no meio do meu horário de trabalho, você
não deveria estar aqui.
— Estou lá fora caso o senhor precise de alguma coisa. — A
minha secretária escapou da minha sala, tentando fugir de
presenciar qualquer possível embate entre mim e a minha ex-
namorada.
— Você não atende as minhas ligações nem responde as
minhas mensagens. — Letícia cruzou os braços fazendo bico, como
a menina mimada que sempre fora.
— Já pensou que há um bom motivo para isso?
— Sei que você está muito triste pelo que aconteceu com o
seu pai. — Ela colocou a mão no peito como se entendesse o
tamanho da minha dor, o que me deixou ainda mais irritado. —
Acredite, eu também estou devastada. Nós éramos uma família, ele
também era como um pai para mim.
— Não exagere, Letícia.
— Você que nunca levou em consideração os meus
sentimentos.
— Eu não estou com a menor paciência para ouvir você falar
sobre isso agora. Tenho trabalho a fazer e esse não era o melhor

momento para você vir até aqui.
— Lembra quando estávamos em Paris...
— Letícia!
— Foi tão romântico. — Ela limpou o canto dos olhos com a
ponta do dedo, dando leves batidinhas para não borrar a
maquiagem.
— Você me arrastava de uma loja para outra e no fim do dia
eu não aguentava mais carregar tantas sacolas.
— As peças mais incríveis do meu guarda-roupa certamente
nós compramos juntos.
— Letícia, escuta. Sei que para você é difícil ouvir às vezes,
mas eu preciso que entenda que não há mais nada entre nós.
— Nós nos amamos, Cristhian . — Soluçou como se estivesse
tentando conter o choro.
— Sabe que isso é mentira.
— Tem mulher nessa história, não é? Está com outra, seu
galinha! Enquanto lamentávamos a morte do seu pai, você estava
se jogando nos braços de uma qualquer.

— Letícia, vai embora.
— Quem é ela? Eu exijo que me fale.
Apenas balancei a cabeça em negativa. Se havia algo que eu
tinha certeza de que não queria que acontecesse era a Letícia
cruzando o caminho da Anastácia . A relação que eu esperava conseguir
estabelecer seria completamente inviável com o meu passado me
assombrando.
— Já sei! É aquela mulher que eu vi com você no hospital. A
forma como olhava para ela... Como não desconfiei antes.
— Letícia, vai embora.
— Eu não acredito que você está fazendo isso comigo. —
Soluçou, começando a chorar como se eu fosse o grande vilão da
história.
— Já terminamos faz meses.
— Aposto que ela... — Letícia parou de falar quando segurei
o seu braço e fiz com que ela olhasse para mim.
— Preciso trabalhar.

Geralmente eu era mais gentil, mas a coloquei para fora da
minha sala, fechando a porta e passando a chave. Não queria ficar
explicando para ela que as minhas prioridades haviam mudado e
principalmente que estava em busca de uma mulher menos
superficial.
Letícia nunca conseguiu desvincular o que eu era do que eu
tinha. A nossa relação sempre foi muito rasa, mas com a Anastácia  seria
diferente...
— Cristhian ! — Ouvi os gritos da Letícia enquanto ela batia na
porta, tentando me convencer a abri-la, mas eu ignorei, evitando
pensar no que as outras pessoas da empresa pensariam ao ver o
show. — Cristhian !
Ela continuou gritando, até que desistiu ou ficou sem fôlego.
Ouvi seus passos se afastando da minha sala e respirei aliviado.
Esperava que a Letícia entendesse de uma vez por todas que não
havia mais nada entre nós, pois dessa forma seria bem mais fácil
para todo mundo, e também causaria menos sofrimento.
Voltei para a minha cadeira e para os projetos. Estava
ansioso para que o expediente terminasse e eu pudesse me
encontrar com a Anastácia.

Continua..,

O MISTERIOSO PAI DO MEU BEBÊ Onde histórias criam vida. Descubra agora