Anastácia
Coloquei as mãos ao redor da barriga e me encolhi ao sentir
uma pontada incômoda de cólica. A dor, juntamente com outros
sintomas da gravidez, estava se intensificando com a passagem dos
dias.
— Anastácia ? — ouvi a voz de um dos estoquistas e me virei
para ele com um sorriso.
— O que foi?
— Você está bem? — Júlio parou de empurrar um carrinho
com vários pacotes de biscoitos e veio para perto de mim.
— Estou. — Forcei um sorriso.
— Tem certeza? Está todo mundo comentando que você
anda passando mal. Esse lugar é meio estressante às vezes.
— Estou bem. — Coloquei as mãos sobre os ombros dele e
dei algumas batidinhas para tranquilizá-lo. Entretanto acabei me
encolhendo de novo e a minha expressão acabou me entregando.
— É só cólica.— Não sou mulher, ainda bem. — Ele riu. — Mas eita cólica
que demora a passar.
— Deve ser renal.
— Tem que tomar cuidado. Saúde é assunto delicado.
— Obrigada. — Saí de perto dele, deixando que terminasse
de repor os biscoitos no corredor específico e fui para o banheiro
dos funcionários.
Debrucei-me sobre a pia de pedra, peguei um pouco de água
e joguei no rosto. Precisava disfarçar aquela cólica e nem sabia que
remédio poderia tomar para não prejudicar o meu bebê. Ainda não
havia contado para ninguém no supermercado que estava grávida.
Na verdade, nem para os meus pais. Só estava deixando que os
dias passassem antes de tomar coragem e ter que enfrentar as
pessoas.
Perguntas seriam inevitáveis e não sabia quais respostas
daria. O pai do meu bebê era um cara que eu não sabia nem o
nome completo. Iriam falar que eu era louca, e teriam razão.
— Anastácia . — Ouvi alguém bater na porta do banheiro antes de
entrar e me ver debruçada na pia.O senhor Daniel era o dono do supermercado e nos
conhecíamos há um bom tempo, desde o dia em que eu havia sido
contratada para ser caixa. Fui ganhando promoções aos poucos até
me tornar uma das gerentes.
— Tem algo acontecendo?
Fiz que não ao pegar uma toalha de papel para secar o rosto.
— Estão comentando que você está doente.
— São só cólicas.
— Está com medo de ir ao médico? Não vou te demitir se
precisar de alguns dias de licença.
— Obrigada. — Sorri. — Eu estou bem.
— Então está bom.
Assenti com um movimento de cabeça e saí do banheiro, e
ele veio atrás.
Sabia que em algum momento teria que contar para as
pessoas que estava grávida e que meu mal-estar era apenas pelos
sintomas, mas achava que poderia me dar mais um tempo antes de
lidar com tudo.Por falar em ir ao médico, tinha que marcar uma visita a
minha ginecologista.
Fui resolver alguns problemas que surgiram no
supermercado ao longo da tarde e, mergulhada no trabalho, até me
esqueci da cólica. Pronta para ir embora, ajeitei as coisas na minha
bolsa, que costumava ficar num armário na sala de administração, e
saí da loja assim que o gerente noturno chegou.
— Bom trabalho, Gustavo.
— Obrigado, Anastácia .
Passei por ele acenando e segui para a rua. Felizmente a
minha casa ficava perto, eu não precisava enfrentar o trânsito. Mal
via a hora de tomar um banho quentinho e colocar uma bolsa
térmica em cima da minha barriga para que o incômodo
amenizasse.
— Anastácia ...
Tomei um susto quando dei de cara com o Alexandre parado
do outro lado da rua. Ele usava uma camiseta clara e calça jeans.
Estava com as mãos nos bolsos e me encarava com firmeza. Minha
vontade foi dar alguns passos para trás e voltar para o interior domercado. Quem sabe se quando eu saísse de novo meu ex não
estaria mais lá ou fosse apenas algo da minha mente?
Dei alguns passos para trás.
— Anastácia, espera! — Ele atravessou a rua e veio correndo até
mim.
— Vai embora.
Fiquei completamente sem graça quando vi que as pessoas
no supermercado, funcionários e clientes, estavam olhando para
nós.
— Nós precisamos conversar.
— Não quero nenhum escândalo na porta do meu trabalho.
— Então vem comigo.
— Não vou a lugar nenhum com você.
— As pessoas estão olhando. — Ele indicou com a cabeça
só para me deixar mais sem graça.
— Então vai embora.
— Não vou a lugar nenhum.
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O MISTERIOSO PAI DO MEU BEBÊ
Fiksi PenggemarADAPTAÇÃO 50 TONS Rico desde que nasci, cresci numa redoma, distante das pessoas comuns e convivendo apenas com outros como eu. Herdeiro, prestes a assumir um império, era tratado como tal. Entretanto havia algo em mim que me impulsionava a querer ...