Capítulo 27

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Cristhian

Levantei cedo de manhã, joguei uma água no rosto e me
arrumei para trabalhar. Teria que visitar alguns canteiros de obras na
companhia do engenheiro chefe e isso provavelmente despenderia
horas do meu dia.
Desci a escada e fui para a sala de jantar onde a empregada
sempre servia o café da manhã. Minha mãe estava na mesa lendo
um livro e, assim que me viu, o abaixou, marcou a página e voltou
sua atenção para mim.
— Bom dia, filho.
— Bom dia. — Dei um beijo na bochecha dela e puxei uma
cadeira para me sentar.
— Está tudo bem?
— Sim, e com a senhora?
— Bem. — Ela pegou uma xícara com café e a ergueu, mas
acabou desistindo no meio do caminho sem tomar nenhuma gota.
— O que foi?

— Tem certeza de que está tudo bem? — Insistiu, apertando
os olhos e intensificando ainda mais as marcas de expressão que
havia ao redor deles.
— Tenho.
— Hum. — Ela torceu os lábios, não muito convencida.
— O que foi, mãe?
— Ando preocupada com você. — Torceu os dedos e apoiou
as mãos sobre a capa do livro, que me parecia um romance de
época pelo vestido usado pela modelo.
— Já disse que estou bem.
— A perda do seu pai foi difícil para todos nós.
— Sim.
Não olhava diretamente para ela enquanto enchia uma xicara
com leite e misturava com achocolatado.
— Sei que também não está sendo fácil tomar conta da
empresa.
— Estou me saindo bem, mãe. Meu pai se esforçou para me
preparar adequadamente. Queria que ele estivesse aqui, que ainda

fosse ele o presidente, mas eu dou conta.
— Fico feliz em ouvir isso.
— Relaxa, dona Luciana. — Estendi a mão para tocar o seu
ombro, afagando-o. — Vou ficar bem.
— Você sai cedo, mas chega muito tarde. Sei que a nova
rotina de administração deve tomar bastante o seu tempo, mas não
quero que você se sobrecarregue.
— Não tenho passado o tempo todo na empresa, mãe.
— Não? — Arregalou os olhos surpresa.
Admito que quando o meu pai era o CEO, eu tinha muito
mais tempo livre para bancar o motorista de aplicativo. Quando tal
responsabilidade passou a ser minha, eu precisava me dedicar bem
mais a empresa, sobrando menos tempo para meu hobby. Dessa
forma, rodava como motorista depois do expediente, entretanto a
única pessoa que sabia disso era o João, não queria dar
explicações para a minha mãe nem colocar qualquer minhoca na
cabeça dela. Mas havia algo ao qual eu estava dedicando muito
mais tempo e achava que ela iria gostar de saber.
É claro que contaria as novidades aos poucos. Já havia
perdido o meu pai e não precisava matar a minha mãe do coração.

Iria omitir, ao menos por enquanto, o fato de que me tornaria pai em
breve.
— Tem uma pessoa.
— Pessoa? — Levantou a sobrancelha.
— Sim. Eu estou namorando. Tenho passado um tempo com
ela.
— Namorando? Desde quando? Voltou com a Letícia?
— É recente e não! De forma alguma eu voltaria com a
Letícia.
— Achei que vocês dois ainda iriam ter alguma coisa.
Praticamente cresceram juntos.
A Letícia tinha muitos pontos que eu abominava, mas não
achava relevante citar isso no momento.
— Quem é ela? Também mora por aqui? Qual o nome? Eu a
conheço?
— Calma, mãe. — Levantei as mãos em sinal de pare. —
Não precisa fazer tantas perguntas.

— Você me fala que está namorando assim e depois não
quer dizer mais nada depois?
— O nome dela é Anastácia . Não mora aqui no condomínio.
— É alguma funcionária da empresa?
— Também não.
— Então como a conheceu?
— Estava andando pela cidade.
— Andando? — Sua expressão voltou a ficar confusa e eu
provavelmente não entreguei para ela a melhor resposta.
— Andei precisando espairecer.
Minha mãe afunilou os olhos. Ainda parecia desconfiada do
que ouvira, entretanto não insistiu nesse ponto, o que me deixou
aliviado.
— Quando vou conhecê-la?
— Ainda não é o momento.
— Cristhian !

— Nós dois estamos nos conhecendo, mãe. Eu quero ter
certeza de que é sério o bastante antes de trazê-la aqui, entende?
— Está me enrolando.
— Me dá um pouco de tempo.
— Tudo bem. — Continuou com os lábios cerrados e o olhar
de desconfiança, mas era o máximo que eu poderia contar para ela
no momento.
Se a minha mãe conhecesse a Anastácia , certamente revelaria a
ela que eu era um homem bem diferente do que a minha namorada
imaginava, e poderia complicar bastante as coisas. Para a Anastácia , eu
não era o playboy mimado que ganhara tudo de mão beijada a vida
toda, mas alguém que trabalhava para sobreviver, e eu gostava
dessa imagem. Iria aproveitar disso antes de revelar a verdade para
ela.
— Preciso ir trabalhar. — Levantei da mesa e dei outro beijo
no rosto da minha mãe.
— Nem comeu direito.
Passei a mão em uma maçã que estava na cesta e dei uma
mordida nela antes de sair da sala de jantar e ir até o meu quarto
para pegar o meu paletó e a carteira antes de sair de casa.

Continua...

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