𝑨 𝑪𝑰𝑫𝑨𝑫𝑬

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Quando Gwyn se deu conta, estava sobre skis no topo de uma colina muito alta. Muito alta mesmo.

— Por favor, me diga o porquê de eu ter concordado com isso.

Azriel estava terminando de fechar as fixações, prendendo os próprios pés naquelas coisas que, para ela, sempre iriam parecer mini pranchas.

— Não me diga que está com medo de altura, senhorita Gwyn.

— Não é medo, é só... um receio não superado.

Ele tentou disfarçar a leve risada com uma tosse.

— Qual a graça?

— Nenhuma, não estou rindo.

Como era falso. Um dissimulado, pensou.

— Você não pareceu ter problema com altura antes.

— É, porque quando estava aprendendo a me equilibrar nessas coisas, estávamos a dez metros e agora... Quantos são?

— 110.

— Ai, minha Deusa.

Ele riu.

— Pare de rir.

— Desculpe — ficou ao seu lado — Pode segurar minha se quiser.

— Azriel, se eu for segurar sua mão, não vou segurar os bastões.

O moreno só deu de ombros.

— Aí é uma questão de decidir em que confia mais e de que forma você tem menos chances de cair.

Gwyn o encarou.

— Esqueça o que eu disse mais cedo, você tem cara de psicopata sim.

Azriel fingiu estar ofendido e falou, se aproximando da beira, indo em direção aos 110 metros de queda e neve:

— Bom... Então acho que não vai querer segurar a mão de um psicopata, não é?

— Az...

— Vejo você lá embaixo, senhorita.

— Azriel...

Mas ele já tinha ido, ganhou velocidade tão rápido que Gwyn mal teve tempo de piscar, quando viu ele já estava na metade do caminho, deslizando e fazendo zigue-zague pela neve como se tivesse nascido fazendo aquilo.

É exibido também, pensou, exibido e dissimulado.

Lá embaixo, o viu parar e acenar para ela. Não descer aquilo seria o deixar vencer, seria uma humilhação própria, seu ego não permitia. Por isso, apesar do frio na barriga, ela simplesmente fez o que ele tinha feito a poucos minutos.

Não tinha nem metade da facilidade dele, derrapou umas cincos vezes, o que a fez soltar um gritinho ou outro de nervoso, mas entre o meio e fim, desceu mais rápido, então só se concentrou na sensação do vento e em não cair. Perto do fim, ela começou a adorar a sensação e quando chegou lá embaixo e Azriel a segurou pela cintura para que parasse, estava rindo feito criança.

Ela largou os bastões e segurou os braços dele, falando com um sorriso produzido pela adrenalina:

— Vamos de novo!

Os olhos castanhos claros estavam brilhando.

— De novo?

— Sim!

Então, os dois subiram a montanha outra vez e desceram e mais outra e outra. Na oitava vez, ela até conseguiu o acompanhar no início da descida, mas ele chegou até o fim antes e, como sempre, esperou para a segurar.

𝐴𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑜 𝑆𝑜𝑙 𝑁𝑎𝑠𝑐𝑒𝑟Onde histórias criam vida. Descubra agora