𝑪𝑶𝑵𝑭𝑰𝑺𝑺𝑶̃𝑬𝑺

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Os dois chegaram à exposição às oito, o lugar consistia em área plana em parque grande, na base de uma montanha, com gramados e árvores congeladas e pequenos prédios e cabanas que pareciam ter sido esculpidos de gelo e barraquinhas que vendiam artesanato e comidas.

O lugar todo refletia em tons de azul, prata e um tom meio arroxeado, quando não estava brilhando como um prisma atravessado pela luz.

Era deslumbrante.

Eles caminharam por entre as pessoas e os prédios. Entraram em um onde caia neve, mas não neve comum, os flocos reluziam com todas as cores possíveis, como se caíssem de um arco-íris de gelo. Esse tinha sido o ponto alto de estar naquele lugar até que viram o observatório da montanha. A placa dizia:

Onde se pode ver as estrelas que não existem.

A aquela altura, Azriel já sabia que Gwyn amava astrologia, então não pensou duas vezes ao guiá-la para lá.

Gwyn sorriu ao entrar na caverna, que tinha sido claramente entalhada e desenhada, consistia em um círculo principal com várias portas altas e uma senhora os indicou uma porta. Os dois seguiram para lá e não estavam esperando que ao abri-la, encontrariam uma sala pequena, com almofadas e um monte cobertores no chão. Eles trocaram um olhar e, percebendo, a sonora abriu um sorriso e falou:

— Vão entender quando entrarem.

Então, eles entraram e se sentaram, meio hesitantes, mas não fizeram nenhuma pergunta a mais e a mulher fechou a porta, os deixando num breu completo. Gwyn não conseguiu ver, mas ouviu Azriel se levantar rapidamente, a tensão basicamente irradiava dele.

— Az... — começou, mas suas palavras ficaram perdidas.

Um pequeno ponto de luz surgiu, seguido de outro e mais outro e mais outro. Até que parecesse que o teto tinha sido pontilhado com milhares de pequenos brilhantes.

— Deuses — sussurrou completamente encantada.

Azriel se sentou ao lado dela, relaxado outra vez, os olhos encarando os pontos que reluziam.

— Agora faz sentido.

Ela riu, olhou para ele e depois se deitou. Azriel fez o mesmo, o ombro dele encostado no seu.

Os dois ficaram em silêncio, observando as estrelas que não eram estrelas, até que Gwyn falou:

— Uma confissão por uma confissão.

— Tudo bem. Pode começar.

— Por que não tira suas luvas?

Não o conseguia ver, mas tinha a sensação de que ele tinha entrado na defensiva e ela se perguntou se deveria ter perguntado aquilo. Mas Az respondeu, a voz tão indiferente que ficou claro que estava escondendo todos os sentimentos que aquilo trazia:

— Porque estamos numa cidade que parece, literalmente, ser esculpida em gelo — uma breve pausa — E porque tenho cicatrizes nelas e, não me incomodam, mas incomodam as pessoas que não me conhecem e as veem pela primeira vez, é sempre constrangedor, então, quando posso evitar que aconteça, eu evito.

— Tenho uma cicatriz de quinze centímetros na lateral da perna esquerda, as pessoas também não conseguem lidar bem da primeira vez que veem e ela é fina... Então... Entendo você não querer lidar com pessoas idiotas.

Ele soltou uma risada meio sussurrada.

— Não culpo as pessoas, não no meu caso, as minhas não são nada discretas ou bonitas.

— Não posso opinar quanto a isso.

Era uma forma de pedir para vê-las, sem o fazer descaradamente, deixando ele à vontade para decidir o que fazer. A ruiva ouviu quando ele soltou um suspiro e tirou as luvas, viu o vulto do braço dele se mover em sua direção, a mão estendida. Ela não hesitou em pegá-la, claro, não conseguia ver, mas conseguia sentir.

𝐴𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑜 𝑆𝑜𝑙 𝑁𝑎𝑠𝑐𝑒𝑟Onde histórias criam vida. Descubra agora