𝑴𝑬𝑴𝑶́𝑹𝑰𝑨𝑺

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Eles caminharam lado a lado por um tempo, comentando sobre o que viam e ocasionalmente rindo de algo simples, compartilhando pensamentos ou informações aleatórias um com o outro. Como se montassem um mosaico um do outro.

Passaram por vitrines de lojas na rua principal, viram artistas de rua que dançavam, faziam performances, um casal que criava figuras com balões para crianças. Passaram por bancas de artesanato. Viram pessoas irem e virem, famílias e casais e outras sozinhas, todos vivendo suas vidas. E eles simplesmente estavam no meio de tudo aquilo. Como se fizessem parte.

Estavam no meio de um dos muitos parques da cidade quando ela se virou para ele e perguntou:

— O que nós estamos fazendo?

Azriel ficou momentaneamente confuso, o cenho levemente franzido ao responder:

— Caminhando pela cidade e conhecendo os...

— Não — o interrompeu suavemente, parou de caminhar e esclareceu: — O que nós estamos fazendo aqui? No meio de tudo isso... Como... Como se fossemos algo real ou...

Ele desviou a atenção dela e, como se não estivesse entendendo aonde ela queria chegar, questionou:

— O que quer dizer?

— Você sabe o que quero dizer.

Sabia, só não queria pensar naquilo. Como não respondeu, os dois permaneceram parados e em silêncio, até que ela soltou um suspiro e voltou a caminhar, ele fez o mesmo.

— Para onde você está indo? — ele perguntou — Quero dizer, para onde vai depois que entrar no trem amanhã?

— Autumnal. E você?

— Illyria.

Caminhos completamente opostos. Ela assentiu algumas vezes, o silêncio recaiu de novo por alguns segundos enquanto continuavam a caminhar, até que ela riu. Não num tom divertido.

— Nós nunca mais vamos nos ver, não é?

— Talvez nunca mais seja muito forte — respondeu, dando de ombros.

Gwyn apenas ergueu uma sobrancelha.

— Acha que, se, por acaso, pegarmos o número ou a rede social um do outro, algum dia, vamos voltar a nos ver?

Ele deu de ombros outra vez.

— Vamos lá, senhor Azriel, você é claramente o tipo de cara realista, quando não é pessimista, fale o que acha. De verdade.

Sendo sincero consigo mesmo, ele achava que se fizesse aquilo, se acabasse mandando mensagem, ela responderia, mas não duraria nem duas semanas. Aquele dia ia passar a ser só uma memória. Ela viveria outros dias com as pessoas que de fato estariam junto dela, conheceria pessoas novas e seguiria a própria vida, e, depois, ele faria o mesmo.

Era assim que as coisas funcionavam. Pensar diferente era uma ilusão.

— Acho que você tem razão.

Gwyn olhou para a camada de neve que pisoteava. Uma pequena parte dela, gostaria de que ele dissesse que no fim, seriam apenas estranhos que passaram um dia juntos.

— É uma pena — foi tudo o que conseguiu dizer.

— É, é sim — foi toda a resposta que teve.

O silêncio voltou, mais pesado que antes. Mas nenhum dos dois o quebrou, como se analisassem, ou tentassem prever o dia de amanhã.

Ela estava tão perdida nos próprios pensamentos que se surpreendeu quando ele perguntou:

— Por que você está aqui?

𝐴𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑑𝑜 𝑆𝑜𝑙 𝑁𝑎𝑠𝑐𝑒𝑟Onde histórias criam vida. Descubra agora