12- Uma Viagem Nostálgica

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É engraçado como o meu corpo é sempre atraído para o João, ontem eu tenho certeza que me deitei no colchão que está no chão, mas cá estou eu, deitado em uma cama de solteiro, abraçado em seu corpo para nos fazer caber no espaço, que deveria ser ocupado só por uma pessoa, observando a sua respiração tranquila, e girando uma mecha pequena de seu cabelo em meu dedo.

São momentos simples como este, que gostaria que nunca fossem apagados da memória, e eu pensei que isso fosse impossível de acontecer, mas tive o desprazer de me provar que é muito possível esquecer de momentos bons. E falando nisso, hoje é um dia importante, eu planejei levar o João em alguns lugares a qual temos lembranças maravilhosas, eu estou ansioso demais para ver sua reação e mais ansioso ainda para ver se com isso, ele irá lembrar de alguma coisa.

Nos levantamos pouco tempo depois de acordarmos, e ficarmos ali, apenas aproveitando a companhia um do outro. Joana e Jhon já estavam no andar de baixo, a mesa do café, farta e recheada de opções, assim como em todas as vezes que dormi aqui na adolescência. Eu costumava comer pouco no jantar, apenas para acordar no dia seguinte e poder experimentar todas as delícias que as mãos da Joana preparavam para nosso café da manhã.

– Mike?! Está tudo bem? — A voz preocupada de João, me arrancou de minhas lembranças.

– Oh, sim. Só estou distraído. — Me sentei rapidamente ao lado dele.

– Tem acontecido muito isso. Você está mesmo bem?

– Sim, não se preocupe. — Por força do hábito, fui segurar a mão do João, mas ele foi rápido em afastá-la de mim e encarar o pai que olhava fixamente para nós.

– Então, vamos comer?! — Joana desviou a atenção da situação, e me serviu com suco de laranja, o qual eu me peguei mais uma vez viajando na adolescência.

– Você disse que odeia qualquer coisa feita com laranja, tem um motivo? — Perguntei voltando a minha atenção para o João, ignorando o fato de que haviam mais pessoas à mesa.

– Tenho lembranças ruins da morte da minha avó. Sempre que tomo ou como algo feito com laranjas, amarga a minha boca e me sinto angustiado.

Interessante pensar que ele ressignificou essa parte da vida dele. Quando João me ofereceu o suco de laranjas naquele dia, um tempo depois eu entendi que ele quis se fazer presente, quis me mostrar que eu não estava sozinho, assim como Joana fez quando a avó dele morreu, mas agora esse significado por trás desse acontecimento, já não existe mais, João colocou isso como algo negativo em sua vida e agora eu entendi o motivo de ele não gostar mais de algo que amava.

Isso me deu um certo medo, penso que se ele não tem mais a mesma visão que tinha antes, pode me julgar um homem covarde por tê-lo abandonado, um aproveitador por saber que nos conhecemos e não contar a ele, um ex que resolveu voltar para ficar com ele já que não se lembra mais do término... Enfim, mil e uma possibilidades, e a minha cabeça inclinada para tragédia, alimentou essa lista durante todo o nosso café.

Quando o relógio marcou dez horas da manhã, eu e João nos arrumamos e partimos para o lugar onde eu programei irmos no dia de hoje. Confesso que depois do que presenciei mais cedo, não estou mais tão confiante em fazê-lo lembrar de nossas memórias, mas seja o que destino quiser.

A nossa primeira parada, foi na nossa antiga escola, onde tudo começou e também, onde chegou ao fim.

A fachada do prédio de três andares, agora me pareceu mais nova e moderna, as cores dos muros altos em tons de verde, e a cor creme nas janelas, deram lugar ao branco e ao azul escuro, deixando o verde apenas nas plantas e na grama do jardim, que na minha época não existia. Eu e João entramos pelo grande portão de ferro, ainda emitia o mesmo som quando aberto, o som de dobradiças enferrujadas, apesar de parecer um portão novo por conta da pintura recente.

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