8- Certezas e Mais Incertezas

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Pensei que por conta da noite anterior, não íamos seguir os planos que temos para a manhã desta segunda feira, mas cá estamos, eu e o João, sentados em uma mesa de frente a entrada da padaria, encarando as mil e uma opções presentes no cardápio, o que me fez recordar.

João sempre teve problemas em escolher algo que tenha mais de duas opções, um dia ele me confessou que fazia isso por medo de escolher e ter que lidar com a frustração de optar por algo ruim, de ter que ficar com a consciência pesada por sempre achar que a segunda opção poderia ter sido melhor. Neste mesmo dia, ele deixou escapar que eu fui a única escolha rápida de sua vida e a qual ele não se arrependeu de ter feito. Uma pena ele ter provado o contrário no dia em que terminou comigo repentinamente, talvez eu não tenha sido uma escolha tão boa assim e ele se arrependeu por achar que uma segunda opção seria melhor para ele.

– Podemos voltar aqui mais vezes. — Comentei com ele, afastando todos os pensamentos negativos, e analisei os sua feição envergonhada sobre mim.

– Você deve estar impaciente pelo tempo que estou gastando para escolher, mas não consigo me decidir, todos parecem muito bons.

– Não temos muito tempo antes das aulas, mas não vejo problemas em esperar você escolher, gosto de sua presença. — Acabei me deixando levar pela situação, e ele rapidamente desviou o olhar ao me ouvir.

– Então, acho que já escolhi. — Chamamos a garçonete e enfim fizemos os nossos pedidos.

Ficamos um tempo em silêncio, eu admirando o João, e ele admirando o movimento da rua, até que nossos pedidos chegaram e eu resolvi dar uma de desentendido para colher algumas informações enquanto comíamos.

– O que você quis dizer com o "vazio grande e de anos"? — João me olhou por alguns segundos, e voltou a encarar a caneca de chocolate quente.

– Você já sentiu que falta um pedaço dentro de você? Tipo, como se algum dia algo estava preenchendo aquele lugar e de repente deixou de existir. — Ele fez a descrição perfeita para o que aconteceu com a gente.

– Sim, infelizmente sei exatamente como é essa sensação. — João voltou a me olhar e ficou por um tempo em silêncio, parecia estar pensando no que dizer ou como dizer.

– Quando te vi pela primeira vez no nosso quarto, esse vazio deixou de existir repentinamente, e eu sem saber como reagir, fiquei te olhando, tentando puxar alguma lembrança da minha memória que me fizesse ter certeza, que aquela sensação de que você é familiar, fosse real, mas a minha mente é muito confusa, não sei mais diferenciar as minhas memórias reais das criações da minha mente. Parece papo de doido, e eu nem sei se deveria te contar isso, mas não tenho com quem falar já que Carter e Nena não me entenderam muito bem quando contei pra eles.

– Parece bem confuso mesmo. Como você não consegue diferenciar as suas memórias de sua imaginação?

– Eu sofri um acidente e perdi quinze anos de memórias da minha vida por causa disso, me lembrei de muitas coisas até então, mas de uns tempos pra cá, passei por situações que me fizeram questionar e confundir as memórias e a imaginação. Já passei por uma situação a qual eu pensei ser uma memória e a pessoa disse nunca ter acontecido aquilo, ou até mesmo já chegaram a dizer que não me conheciam apesar de em minha mente ter uma imagem com a aquela pessoa. Como saber se elas estão falando a verdade ou se sou eu?! Não tem como.

– E o que você imaginou quando me viu?

– Não está me achando um louco?

– Na verdade eu estou curioso para entender.

– Certo, eu vou confiar em você. Bom, eu imaginei você no quarto de hospital comigo, eu estava deitado e você com as mãos junto a minha e a cabeça encostada no colchão. Mas pode ser só porque eu me senti muito sozinho no hospital naqueles dias, e eu gostaria de ter alguém que gos... Quer dizer, alguém ao meu lado naqueles dias, e acabei imaginando você ali.

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