20- Linha do Tempo (Parte1)

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🎓 SEIS ANOS DEPOIS...

Se a alguns anos atrás alguém falasse comigo que eu seria tão feliz no futuro, eu não acreditaria! Passei por tanta coisa para chegar aqui, foram noites mal dormidas, mal tinha tempo para respirar, tanto estudo que eu tive a certeza que iria enlouquecer, muita prática e apenas vinte quatro horas para tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Hoje poder oficializar parte do meu sonho, e oficialmente me tornar um médico é muito mais do que esperei que seria. Quero agradecer ao corpo docente e a cada pessoa importante que de certa forma contribuiu para que eu estivesse aqui hoje. E quero parabenizar aos demais formandos e desejo sorte nessa caminhada que não termina aqui.

Fui aplaudido de pé por todos presentes na formatura, mas em meio ao mar de pessoas, apenas uma tinha toda a minha atenção. João estava radiante como sempre, os olhos dele brilhavam e o sorriso com que ele acordou pela manhã, se fez presente em cada segundo do nosso dia.

Quando ele subiu para pegar o diploma, e começou a fazer um pequeno discurso de no máximo um minuto como nos foi instruído, foi o momento em que sumi no meio das pessoas e me escondi para entrar no momento certo. Observei João me procurar com os olhos no meio da multidão, e ao final de suas palavras trêmulas por conta do nervosismo, eu subi novamente no palco, com um buquê de girassóis e as pernas quase falhando de tanta ansiedade e emoção.

Quando João enfim me encontrou, notei o alívio tomar conta dele e logo uma feição surpresa estampar seu rosto quando me viu caminhar em sua direção com o microfone e o buquê em minhas mãos.

– Amor, você lembra quando estávamos no hotel lá na nossa cidade natal, fazendo planos para o nosso futuro? Pois é, hoje temos a oportunidade de realizar mais um de nossos planos e eu não poderia estar mais feliz. — Enquanto falava, continuei caminhando até estar bem próximo a ele.

João selou os meus lábios rapidamente, e como em todos os pedidos que vi ao longo da minha vida, entreguei o buquê para ele, peguei a caixinha que estava no bolso da minha calça, e com as mãos trêmulas e frias, segurei a mão dele e me ajoelhei no chão.

– Doutor João Bernard, você aceita se casar comigo? — João olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas e respondeu ao meu pedido com um sim forte e motivo, que ecoou pelos quatro cantos do auditório através do microfone.

Eu o abracei o mais forte que consegui, o beijei agora não mais como meu namorado, e sim, como meu noivo. A aliança delicada com uma pedrinha brilhante no centro, foi colocada por mim no dedo dele, e se juntou a nossa aliança de compromisso, selando assim a nossa promessa de nos casarmos em um futuro próximo.

Mais uma vez a plateia vibrou com a gente e mais que isso, nossos pais subiram ao palco para nos parabenizar por mais esta decisão. Meus pais me abraçaram depois de amassarem bastante o João, logo depois vi Jhon e Joana acolherem o filho, e logo após caminharem em minha direção.

Eu e Joana desde as revelações que ela fez, não trocamos mais do que cumprimentos formais, ao contrário de Jhon, que em suas visitas ao nosso apartamento e em nossas visitas a casa deles, conversava com a gente como amigos de longa data, contava suas desventuras de adolescência e nos divertia com suas piadas aleatórias de tiozão.

João notou o clima estranho entre mim e Joana neste tempo, até chegou a me perguntar sobre isso já que parecíamos ter gostado tanto um do outro quando fomos apresentados, mas eu o tranquilizei dizendo que gosto dela e que só não conversamos tanto porque não tínhamos tantos assuntos assim em comum.

Mas hoje em especial, após receber um abraço apertado de Jhon, o que pensei ser impossível de acontecer um dia, e ver Joana olhando para mim com os olhos tristes e a distância, percebi que tudo mudou!

Jhon não deixou de ser a causa do distanciamento entre mim e João, seus discursos preconceituosos contribuíram para o medo da Joana em relação ao filho ser gay, e a expulsão a alguns anos atrás foi um forte gatilho para ela, tornando sua decisão de nos unir novamente um grande fracasso.

Reconheço que ela não tinha o direito de decidir sobre o nosso relacionamento como ela fez, mas assim como aceitei as mudanças de Jhon, ele nos aceitou como casal e sanou este problema, acho que posso aceitar que Joana também se arrependeu e mudou como ele. Creio eu que as coisas não serão exatamente como eram antes pois a confiança quando se quebra, raramente se reconstrói e se isso acontece, leva-se tempo! Mas posso tornar as coisas menos estranhas entre a gente e por isso tomei a decisão de me aproximar.

– Não vai me parabenizar também? — Perguntei a ela quando vi que estava indo embora.

Joana se virou para mim e ficou parada me olhando como se não tivesse entendido o que falei, então eu repeti em alto e bom som, e logo após, recebi o abraço mais sincero, carregado de sentimentos e alívio, que alguém já me deu em vinte quatro anos de vida. Eu a acolhi em meu braços, sentindo o corpo dela saltar com os solavancos que o choro dela causava, e a afastei um pouco de mim, apenas para enxugar as lágrimas que caiam por seu rosto.

– Você me perdoou? — Joana falou sussurrando para que apenas eu ouvisse, e eu concordei movimentando a cabeça.

João se aproximou de nós dois, e em meio ao caos das lágrimas, nós três nos abraçamos até minha mãe e meu pai se juntarem a este abraço coletivo também.

Nena e Carter também vieram comemorar conosco, os dois ficaram tão felizes com o pedido que pareciam que eram eles que iriam se casar, nos abraçaram, apertaram, amarrotaram e só quando já tinham pulado e gritado bastante, foi que pudemos respirar.

A vida destes dois também está entrando nos eixos. Nena enfim arrumou um cara pra ficar, ela insiste em dizer que não vai pra frente, que não vão namorar porque namoro não é pra ela, mas o jeito com que os dois se tratam no relacionamento, provam que daqui a um tempo ela mudará de ideia. Carter por sua vez, também está noivo de Derick, os dois moram juntos há quase cinco anos e ele ajudou muito meu amigo a superar os traumas que carregou pelas experiências ruins da vida.

Terminamos este dia com as pessoas mais especiais para nós, em um jantar reservado na casa alugada em que João e eu recentemente nos mudamos, é pequena, confortável e o principal, fica próxima ao hospital central onde vamos começar a residência. Serão mais cinco anos antes de nos tornar oficialmente neurocirurgiões, mas sigo confiante de que as coisas continuarão a dar certo pra gente.

Depois que decidi viver no presente, trabalhando e focado em nosso futuro, tudo começou a dar certo, mas ainda me pego pensando em como será o dia que o João se lembrar de tudo, e se este dia chegará!

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