Despertando das Sombras

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Oi galera!

Admito que investi bastante tempo desenvolvendo esta história. Decidi compartilhá-la, uma vez que já possuo diversos capítulos redigidos.

Boa leitura! ❤️

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Toca do Castor, 25 quilômetros abaixo da terra.

Kara reprimiu seu suspiro, os lábios se apertando enquanto segurava a respiração. A escova sanitária já mostrava sinais de desgaste, as cerdas tortas em uma batalha contínua contra a sujeira impregnada.

Limpar o banheiro da ala 3 era sempre um desafio repugnante, mas não havia escapatória, afinal fazia parte de seu itinerário.

Tapando o nariz com o antebraço, ela dirigiu seu olhar com relutância para a privada e uma expressão de nojo contorceu seu rosto.

Seu olhar aguçado captou uma poça de vômito ao lado, uma contribuição repulsiva de algum bêbado descuidado.

A ala 3 era seu tormento diário, um lembrete constante de que a vida dentro do bunker não passava de uma realidade cinza e opressora.

Suas mãos calejadas seguravam com firmeza a escova tentando remover as impregnadas manchas amareladas da porcelana que não saía com facilidade.

Ao derramar a mistura dos produtos de limpeza, uma queimação desconfortável subiu pelo ar pinicando seus olhos e nariz como um alerta urgente para se afastar.

De pé, foi atingida por uma dor nas costas, precisando esticar a coluna.

Ainda um pouco fraca, ela se pegou refletida no espelho enferrujado. Uma solitária frase escrita em vermelho escuro sobrepôs seu rosto:

"Que a Terra nos presenteie com sua Liberdade."

Aquelas palavras atingiram-na como um soco no estômago.

O Lado de Fora...

A Liberdade...

Conceitos que só existiam nos livros antigos. Um mundo colorido e com vida, além daquelas paredes de concreto.

Sacudindo-se desse devaneio, seu olhar encontrou novamente seu próprio reflexo; olheiras profundas que competiam com um panda, e seu cabelo loiro, antes brilhante, agora parecia abraçar a aspereza do ambiente.

Kara mal se reconhecia.

O ciclo de seu trabalho era interminável, o expediente se esticava das primeiras horas da manhã até a noite, ou pelo menos, era assim que parecia sob o teto impiedoso da Toca.

E ali estava ela, a mestra da arte da invisibilidade, evitando chamar qualquer atenção indesejada para si, especialmente nesta ala.

Mas então, os passos. Sempre eles, inconfundíveis, começaram a ecoar no corredor como um aviso de tempestade. Kara abaixou a cabeça, e virou-se de costas para porta.

Sem aviso, um chute brutal atingiu o balde que segurava a porta, o líquido sujo espirrando sobre os trapos que ela vestia.

— Vejam só o que temos aqui. — Provocou um dos guardas. — A aberração fedorenta da Zor-El.

Kara os encarou, sentindo-se exposta sobre um holofote.

— Precisam de alguma ajuda, senhores? — Sua voz tentou manter uma serenidade forçada, embora tremesse em cada sílaba.

A resposta foram risos escarnecedores e passos na direção dela. Kara apertou a escova sanitária com força entre seus dedos, seu único suporte em meio ao furacão de ódio.

Esperança e LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora