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Portuga

Vi a larinha entrar e pular nos meus braços. A 
mandada tá no quarto,mina chata do caralho tio.

Mas aê,sou pedro ou melhor portuga,geral me chama assim,não sou de falar meu nome pra ninguém mermo,sou o dono da parada toda do vidigal. Sempre fui um muleke mais reservado na minha,quando era menó não gostava dessas paradas de baile não,era maior quietao.

Fui nascido e criado aqui no complexo,sempre com a coroa do lado. Pai? Nunca soube o que é isso,se alguém disse que eu tive,pode ter certeza que não tava falando de mim.

Mas daí a parada ficou louca pô,minha coroa morreu,até hoje eu não tô ligado totalmente no que foi,mas sei que tá envolvido facção e os caralho.E eu sei que antes de morrer eu descubro,nem que eu descubra morrendo nesse caralho.

Me envolvi no tráfico por revolta mermo,revolta pela a morte da minha coroa e pela a morte do meu mano Daniel,ele era foda sempre colava comigo lado a lado. A morte do Daniel foi os cana mermo que tacou bala.

O cria não mexia com caralho nenhum de droga,tu ta ligado como nada? Nada mermo. Os cana meteram bala no moleque,era novinho. Bagulho de treze anos,se ligou?

Tava no período de operação na favela,a bala comia pra todo lado. O mano foi dar uma voltinha de moto na zoeira,mas quando ele foi a favela tava calmazona porra,nem parecia que tinha cana no meio de tudo.

Quando ele tava chegando perto do barraco dele,os cana meteram bala,o moleque na merma hora morreu. Ele era amado por todos,não via maldade em ninguém,o moleque era foda.

Me lembro como se fosse hoje,a favela paradona,a favela de luto. Doeu em geral,mas dali pra frente eu comecei a fazer só merda.

Comecei no aviãozinho,depois foi subindo de cargo em cargo,eu me orgulho disso? Nunca. Por isso que quando eu vejo um moleque novo soltando pipa,eu faço questão de dizer pra mim mesmo.

"Pai,faça a mente do moleque para não entrar na merma vida que eu entrei."

Mas aí que tá pô,o crime não para. Eu sei que se eu chegar a descer hoje,amanhã já vai tá outro meu lugar. Eles gostam,porque o dinheiro é fácil,mas adianta algo? Porra nenhuma! Porque é dinheiro sujo.

Mas eu largo essa vida? Se fosse fácil até largava,mas deixar minha favela não é meu forte não.

Tenho minha filha,a Lara.

A Lara preencheu um vazio enorme no meu peito,se fosse pra alguém perguntar se eu daria minha vida por alguém,eu diria e digo a Lara.

Minha larinha,minha calmaria em meio da zona toda. A cara do pai,até que essa parada desses cana querer invadir o morro colou bem pra mim pegar a mãe dela e colocar ela no lugar.

Pensando seriamente em levar ela pro alto pra cancelar o cpf dela,vai fazer falta? Pra mim porra nenhuma. Talvez pra Lara um pouco,mas acho que não,a larinha tem maior medo dela.

Lara: papai,tava com saudadi de você.- eu senti o beijo dela em meu rosto e dei um sorrisinho de canto.

Portuga: minha princesa,o pai tava com saudade da minha filhota também.- entrei com ela dentro de casa e sentei no sofá.

Vi a cara amassada da Helena e me segurei pra não ri,ela tava coçando o olho e a Lara virou pra ver quem era,assim que os olhares das duas se encontraram,a pequena saiu do meu colo correndo indo abraçar a Helena.

Helena: LARINHAAA- soltou um grito,faltando arrebentar meus ouvidos.

Lara: TITIA- ela entrou na onda.

Helena: poxa,tava com tanta saudade de você.- ela riu abraçando ela cada vez mais forte.

De onde essas duas se conhecem ein. Agora tô arrumado,as duas no meu pé é foda. A Helena tinha uma personalidade um pouco parecida com a da Lara.

As duas ficavam conversando e me deixando de lado. Fiquei com ciúmes? Fiquei mermo,roubou a minha filha de mim. Mas tá de boa,pelo menos elas se entendem.

Saí da sala e fui resolver os bagulhos. Até parecia que eu tava mec sobre essas parada toda,mas não tanto.

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