O estranho visitante

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24 🦇 07 🦇1950


Maldito diário,

Hoje o dia foi maravilhosamente feio...

O sol não brilhou por trás das mais escuras nuvens. Estava frio e quieto. Como se eu fosse a última criatura viva em toda a terra. O melhor tipo de dia para se ter uma insônia!...

Durante toda a tarde, eu apenas relaxei a esticar as minhas longas pernas sobre o meu velho sofá escarlate enquanto, mais uma vez, lia aquele livro hilário... "Drácula"!

Eu ria e ria,  com minhas aterrorizantes rizadas ecoando por toda a sala de estar...

Depois de um tempo, finalmente fui me fazer um dos meus drinks tóxicos... E tudo parecia perfeitamente melancólico, quando ouvi alguém bater a porta.

Alguém estava espancado minha pobre porta, de um modo tão irritante que quase me fez dar um dos meus gritos insanos... Mas, dessa vez, eu me contive e me dirigi até a porta pronta para cravar as minhas pontiagudas unhas na garganta de quem quer que fosse o brutamontes do outro lado...

No entanto, ao abrir a porta, quão chocada fiquei ao me deparar com um homem em um terno, largo demais para seu corpo franzino. Não era um brutamontes de forma alguma... apenas um desconhecido... ferido e assustado... Tanto que nem mesmo a visão da minha pessoa pareceu abalá-lo. Caiu por fim, exausto sobre o meu carpete violeta, deixando-me na dúvida sobre o que eu devia fazer com ele...

Sim, sei o que está pensando... Sou "Vampira", o que mais eu poderia fazer?... Mas não! Eu não faria isso a um completo estranho... Eu digo, alguém que jamais vi antes. Já provei o sangue de muitos estranhos no que se trata de personalidades esquisitas... mas nenhum deles era inocente! Esse gosto simplesmente não tem apelo para mim...

Horas depois, já era quase meia noite quando eu ainda encarava aquele homem ainda adormecido, então sobre o meu sofá onde eu o havia colocado...

Ele dormia como um anjo... um anjo sendo observado por um demônio... Hahaha!

Foi quando ele finalmente despertou.

Eu o observava sobre as sombras num dos cantos mais escuros da sala, de modo que, quando pousou seu olhar descansado na minha direção, ele finalmente deu seu primeiro grito sobre a minha influência.

Eu me aproximei, caminhando lentamente até ele, que tremia a segurar as cobertas com ambas as mãos cobrindo metade do rosto de modo que apenas os seus olhos, muito arregalados ficavam a mostra, e sorri, exibindo meus grandes e branquíssimos dentes, a dizer num tom solene:

— Boa noite estranho homem!

— B-b-boa noite!... — ele gaguejou.

— Não se preocupe! Não lhe farei mal algum...

— Eu preciso ir! — ele disse então tentar erguer-se, porém imediatamente voltando a cair exausto no sofá.

— Precisa de descanso... E não se preocupe, eu cuido do resto!

— Do resto! Que resto?! Eu não sou daqui... Sou muito muito pobre... Não, não! Sou rico! Muito rico! O-o que é que prefere que eu seja pra me deixar ir embora daqui?...

Eu sorri mais uma vez, desta vez de um modo um pouco mais "perturbadoramente meigo".

— Você espera aqui que vou lhe fazer uma sopa!

Enquanto eu deixava a sala, ainda podia sentir os enormes globos oculares daquele humano pregados em mim... completamente aterrorizados!...

Mas quando enfim retornei, ele já não estava mais lá!

A coberta jogada desleixadamente sobre o chão e a porta aberta deixando o vento gelado entrar de modo a espalhar folhas secas por toda a sala...

Ele simplesmente partiu... Sem um mero "obrigada"!...

Não que eu me importe com isso, mas... apenas não canso de me surpreender com a falta de maneiras que muitos desses mortais possuem.

Mas, ora, ora... Quem é que se importa com as atitudes de alguns humanos?...

O melhor que posso fazer agora é ter um muito tranquilo resto de madrugada... caçando os mais perversos homens para drenar cada gota de seu sangue até que fiquem brancos como a lua... e o primeiro vislumbre de aurora me faça retornar a minha pequena e aconchegante casa.

Quem sabe, desta vez, eu consiga ter uma boa tarde de sono...  🦇

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