28 🦇 11 🦇 1950
Maldito Diário,
Estou doente! E o pior, não faço ideia do que eu tenho... Que tipo de doença faz alguém passar a perseguir pessoas apenas para observá-las a distância felizes a viver suas vidas entediantes?!... É o que tenho feito desde que descobri que Alfredo está namorando sua secretária...
Andrea, vinte e dois anos de idade, 1.50 de altura, formada em secretariado, loira e curvilínea apesar de magra... Sempre vestindo vestidos com saias rodadas em tons pastéis... Quase sempre algo cor-de-rosa...
Ah, como ela parecia feliz naqueles encontros ao ar livre... Piqueniques no gramado do parque, caminhadas na calçada da praia... Além dos lanches na lanchonete mais famosa da cidade, e das longas noites de danças em bailes (o pobre Alfedo dando o melhor de si para não pisar nos pequenos pés de Andrea, quase nunca sendo bem sucedido)...
Como uma tola adolescente assiste uma novela, eu seguia os assistindo... Simplesmente não conseguia parar. Precisava saber o que aconteceria no próximo "episódio"!... Até aquela noite na praia. A mais bela e romântica noite quando os permiti terminar de cravar a estaca que já perfurava meu peito ao darem o mais puro e singelo beijo... Foi então que finalmente decidi parar; por mais que algo em mim me impelisse a seguir remexendo aquela estaca em meu peito.
Minha dignidade não estava completamente minada, afinal. Entendi então que tudo aquilo foi apenas uma explosão de insanidade momentânea. Eu estava bem, nova em folha, e pronta para outra aventura... Exceto por uma coisa. Um detalhe que eu precisava verificar para, verdadeiramente, poder seguir em frente.
Eu tinha esse sentimento... Uma antipatia por Andrea que eu sabia ser, muito provavelmente, nada mais do que a mera consequência da mesma insanidade que me levara ao meu último "hobby". Mas, de qualquer forma, em nada me custaria uma última verificação.
E assim, mais uma vez, coloquei-me em meus "sapatos de detetive" para minha próxima e última investigação relacionada a Alfredo.
Não levei um dia para encontrar a chave que me levaria a descobrir tudo o que precisava sobre Andrea: ela tem uma amiga; não, não apenas uma amiga, mas uma melhor amiga; de infância, de alma, praticamente irmãs. Era isso! Era como eu descobriria se o caráter de Andrea era tão falso quanto parecia ser.
Após todos esses anos, disfarçar-me ficou tão fácil como escovar os dentes. Digo, não apenas colocar uma roupa diferente e um lenço ao redor da cabeça, mas também portar-me de forma totalmente diferente, de modo que nem mesmo a minha voz fosse reconhecida por um conhecido.
Descobrindo a estranha tradição de Andrea e sua amiga irem fazer as unhas toda sexta-feira num salão de beleza perto da clínica de Alfredo, já usando meu disfarce, marquei uma consulta no mesmo dia e horário que elas. Eu tinha decidido ouvi-las em público e que isso seria tudo o que eu faria, tiraria minhas conclusões a respeito de sua personalidade e seguiria com minha existência — caso fossem boas, é claro, e eu realmente estava contando que fossem... Nada de voltar a me esgueirar em cantos desconfortáveis usando minha super audição para ouvir conversas extremamente pessoais. Aquilo tudo já havia se tornado pessoal demais para mim.
Infelizmente, você não pode imaginar as dimensões do meu choque e revolta quando ouvi o que elas tão enérgica e orgulhosamente discutiram naquele fim de tarde.
Enquanto eu já era atendida por uma muito ansiosa manicure que aparentemente jamais tivera que lidar com unhas tão fortes, longas e pontiagudas quanto as minhas; Andrea, atrás de mim sentada num dos bancos de espera, sussurrava a se gabar para a outra sobre como foi fácil fisgar Alfredo e que tinha certeza de que muito em breve ele a pediria em casamento. Seu tom de voz não me agradando nem um pouco, de modo que eu tive que voltar meu rosto para mirá-las no exato instante no qual a amiga de Andrea disse:
— Acha mesmo que ele concordará coma separação total de bens?
E Andrea responder em seguida:
— Mas é claro que sim! É o tipo mais passivo que já conheci. Fará tudo o que eu pedir...
— Oh! S-sinto muitíssimo, minha senhora! — começou a manicure, após fazer um corte mínimo em meu dedo quando o movi bruscamente ao ouvir as últimas palavras de Andrea.
— Está tudo bem! Eu preciso ir. — respondi num tom amargo, já deixando o estabelecimento.
Foi como se as trevas de mil noites tivessem invadido todo o meu ser... Precisava me esconder, precisava fugir para longe dali; e foi o que fiz.
Eu lutei, e lutei... Com todas as minhas forças, contra todos os meus piores instintos... Mas mesmo tão distante, sobre a mais alta montanha próxima da cidade; aquela fúria demente não demonstrava a menor intenção em me abandonar... O céu escurecia ao passo que ela crescia em minhas entranhas e eu sentia como se o próprio cosmos tivesse gravidade enquanto toda a terra parecia pesar sobre mim até que eu já não pudesse mais me controlar.
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O Diário da Vampira
Fanfiction🦇 Quem não gostaria de dar uma espiada no diário da icônica Vampira?... 🦇 História totalmente inspirada na inesquecível personagem criada por Maila Nurmi que causou sensação nos anos 50, enfim imortalizando-se nas memórias dos presentes e futuros...